Alegações finais pelo réu em ação eleitoral na qual é acusado de fraudar sua inscrição de título de eleitor.
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ..... JUÍZO
DA ...... ZONA ELEITORA DE .....
AUTOS Nº ...../.....
REQUERENTE: JUÍZO DA ...... Z.E. DE ..............
REQUERIDO: .....
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua
....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de
seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01),
com escritório profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade
....., Estado ....., onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar;
ALEGAÇÕES FINAIS
pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.
DOS FATOS
O Requerido, foi pelo ilustre escrivão da ..... Zona Eleitoral descoberto que
requereu sua inscrição naquela zona eleitoral em ..... de ........... de .....,
com o nome feminino de ...., constatando também a existência dos eleitores
......... e ......, com a mesma filiação e a mesma data de nascimento,
divergindo apenas no local do nascimento, sendo aqueles eleitores cadastrados
junto a ...... de ....... em seções diversas de nº ....., o que foi tudo
devidamente constatado através da farta documentação anexada aos presentes
autos;
Que autuado o presente procedimento, o ínclito Magistrado da Vara designou
oitiva do Requerido para o dia .... de .... do corrente ano as ...... horas, o
qual foi ouvido e justificou a duplicidade de inscrição nas zonas eleitorais
alegando o seguinte:
"Que em verdade seu nome é ........., do sexo masculino, tendo se apresentado
como ............, não só para seu cadastramento eleitoral perante a esta zona,
como também para a obtenção da cédula de identidade, já expedida pelo instituto
de Identificação do ..............., para evitar constrangimentos em
estabelecimentos bancários, comerciais e repartições pública em geral, onde
tivesse de apresentar seus documentos, em face de sua pessoa de apresentar como
pessoa do sexo feminino;
Que para tanto fez uso de fotocópia de sua certidão de Nascimento, encartada às
fls. 09, que foi adulterada por uma pessoa de sua confiança, mas que não se
recorda de seu nome, que alterou o sexo consignado naquele documento para
feminino;
Que, a pessoa que providenciou as alterações partindo de uma fotocópia da
certidão original, trabalhava junto ao Cartório do Registro Civil de
............. de ........ Que não tem irmã gêmea.
Quem além disso, o declarante obteve outra inscrição no cadastro eleitoral no
Estado de ........., com o nome ..............., mantendo-se a mesma filiação e
data de nascimento, a partir de uma cédula de identidade preenchida com
informações falsas, ou seja, sem registro oficial junto à Secretária de
Segurança Publica do Estado de ..........., obteve graças a um funcionário de
nome .........., já falecido, que trabalhava naquele órgão.
Que, quando de sua inscrição como eleitor no Estado de .............., usando o
nome de ........., foi consignado como seu Município de .........
Que, com o título de eleitor usando o nome de ........, votou uma ou duas vezes
no Estado de ................. na Capital";
Cultos e zelosas autoridades, verifica-se pelo depoimento singelo do Autuado,
mesmo numa análise meramente perfunctória, ser ele uma verdadeira vítima do
preconceito do ser humano para com aqueles que por força da natureza fogem aos
padrões que o homem criou, e também que a declarante como diz em suas própria
palavras somente tentou elaborar um documento com um nome feminino "para evitar
constrangimentos em estabelecimentos bancários, comerciais e repartições
públicas em geral, onde tive de apresentar seus documentos, em face de sua opção
pessoal de se apresentar como pessoa do sexo feminino";
Observa-se daí, que o declarante não iria usar o título que tentava fazer para
fins escusos, se não pra escapar a discriminação que sofria, e que inviabiliza a
sua vida em sociedade, salientando-se, também que não trouxe nenhum prejuízo ao
estado e nem a qualquer pessoa, tudo não passando de uma mera tentativa;
DO DIREITO
Saliente-se por outro lado, que o declarante, é uma pessoa que se esforça em
viver dentro da sociedade, trabalha, mantém ótimas relações com a sua família e
a sociedade, possui domicilio fixo, e luta por todos os meios para não cair na
mesmice de sempre como outras pessoas que desgraçadamente nasceram, com a
aparência física de um sexo, mas possuem a cabeça de outro, sabendo-se, que a
maiorias desses infelizes descambam para a prostituição, pois dificilmente
encontram lugar na sociedade para viver como suas cabeças determinam e não como
o seu corpo físico demonstra. Lembre-se, que o declarante apresentou-se perante
Vossas Excelências, demonstrando humildade, respeito e sobretudo transparência,
pois nada negou sobre sua qualificação ou sobre a maneira incorreta porque
tentou escapar do preconceito advindo da sociedade que o impedia até de
trabalhar e sobreviver.
A discriminação é um ato anti-constitucional, devendo o requerido ser respeitado
pelo que é, homem ou mulher, branco ou negro, rico ou pobre, pois todos somos
pessoas e merecemos ser aceitos pelo nosso interior e não pelo que o nosso
exterior mostra.
DOS PEDIDOS
Isto posto, e com o mais que será suprido por V.Exas, autoridades cultas,
competentes e experientes, o Requerido, apela para o notório espírito humanista
das autoridades brasileiras, no sentido de ser lhe dada uma oportunidade, já que
não causou prejuízo a quem quer que seja e que agiu erroneamente em decorrência
de legitimo ato de legitima defesa do direito de levar uma vida normal dentro da
sociedade.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]