Ação cautelar em face de administradora de plano de saúde, a qual se recusa a atender paciente alegando o não cumprimento de carência, uma vez que o contrato isenta de prazo para tal atendimento.
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..... VARA CÍVEL DA COMARCA DE ....., ESTADO
DO .....
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua
....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de
seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01),
com escritório profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade
....., Estado ....., onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor
AÇÃO CAUTELAR INOMINADA
em face de
....., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º ....., com
sede na Rua ....., n.º ....., Bairro ......, Cidade ....., Estado ....., CEP
....., representada neste ato por seu (sua) sócio(a) gerente Sr. (a). .....,
brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador (a) do
CIRG nº ..... e do CPF n.º ....., pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.
DOS FATOS
A Requerente celebrou com a Requerida, em data de .... de .... de ...., contrato
de Prestação de Serviços Médicos, cujo Código era ...., o qual vigorou até ....
de .... de .... e que previa, notadamente, no caso de internações, acomodações
em enfermarias.
Porém, em face da implantação da URV (Unidade Real de Valor), a Requerida
aumentou os valores dos serviços prestados, o que levou a Requerente, a exemplo
de inúmeros contratantes, buscar guarida junto à Promotoria Especial de Defesa
ao Consumidor.
Após a audiência realizada naquela Promotoria, a Requerida propôs à Requerente a
celebração de novo contrato, em substituição ao anterior, de caráter meramente
complementar, o qual prevê, dentre outras vantagens, internações em
apartamentos.
A Requerente, após analisar a proposta, concordou com a celebração do novo
contrato, vindo a concretizá-lo em .... de .... de ...., sendo denominado
"....", tendo o Código sido alterado para .... (doc. ....).
Em data de .... de .... do ano em curso, a filha da Requerente, ...., menor
impúbere, dependente desta, submeteu-se a intervenção cirúrgica ...., sendo
internada em apartamento no Hospital ...., sito na Rua .... nº ...., na Cidade
de ...., sendo que a Requerida cobriu todas as despesas efetuadas, tudo em
conformidade com o contrato celebrado.
Em .... de .... do ano corrente, o filho da Requerente, ...., menor impúbere,
foi internado no Hospital .... de ...., sita na Rua .... nº ...., acometido de
...., sendo que não obteve alta a presente data.
Como costumeiramente procede e de acordo com as normas contratuais, a
Requerente, de posse do pedido de internamento assinado por médico cooperado,
dirigiu-se à ...., ora Requerida, para que esta emitisse a guia de internação, a
fim de que a entidade credenciada colocasse seus serviços ao dispor do paciente
....
Porém, Excelência, a recepcionista que atendeu a Requerente, após consulta
interna, informou que não emitiria a guia de internação, alegando que não havia
vencido o prazo de carência para prestação de serviços dessa espécie, o que
causou à Requerente estranheza e indignação.
Mesmo assim, a Requerente procurou, por todos os meios ao seu alcance, dialogar
com a Requerida através de seus responsáveis, objetivando que o contrato fosse
fielmente cumprido, sem conseguir lograr êxito.
Cabe salientar que a Cláusula .... º do aludido Contrato - Da Vigência dos
Serviços Contratados (Carências) - não prevê qualquer prazo de carência, como
também as carteiras de identificação de usuários emitidas em nome da Requerente
e seus dependentes traziam como observação os seguintes dizeres: "SEM CARÊNCIA".
Apesar disso, a funcionária ...., responsável pelo Setor de Contratos de Plano
Familiar, inflexível, não autorizou a liberação da guia de internação, maculando
o Contrato perfeito e acabado celebrado, alegando que as carências deveriam ser
cumpridas, pois o que ocorreu foi um "cochilo" do datilógrafo ao preencher o
Contrato.
Seria também "cochilo" a emissão de guia de internamento e de autorização para a
realização dos serviços no dia .... de .... de ...., quando a filha menor da
Requerente submeteu-se a internação .... e foi internada em apartamento? E da
mesma forma, quando da emissão das carteiras de identificação?
Desta forma, Excelência, após esgotados todos os canais de entendimento, não
restou à Requerente outra alternativa senão interpor a presente medida, buscando
a tutela jurisdicional.
DO DIREITO
O direito da Requerente está consubstanciado no próprio Contrato firmado com a
Requerida, eis que esta responsabiliza-se perante aquela "à prestação de
serviços de assistência médica que serão executados por seus cooperados, bem
como pela locação de serviços de natureza hospitalar e complementar necessários
ao atendimento médico ... (grifos nossos) a serem realizados com entidades
credenciadas, colocando tais serviços ao dispor do médico cooperado para
elucidação do diagnóstico e tratamento de pacientes hospitalizados. A
assistência médica será proporcionada em regime de pré-pagamento, dentro do
sistema de livre escolha dos cooperados e dos serviços locados, pelos usuários"
(SIC) (Cláusula 1º).
A Cláusula ....º, em sua Subcláusula ...., rege que as internações, em hospitais
convencidos, serão solicitadas por médicos cooperados e por um período
equivalente à média de dias necessários para casos idênticos, que serão pagas
pela .... as despesas de diárias hospitalares em acomodações de apartamento
simples, com direito a acompanhante e banheiro privativo.
A Cláusula ....º do referido instrumento regula a vigência dos serviços
contratados (carências) e não determina, como dito anteriormente, prazos de
carências para início da prestação dos serviços, tanto que sua filha fora
atendida anteriormente, em conformidade com o que regra o novo Contrato.
Insta ressaltar que a Requerente há .... (....) anos é associada da Requerida,
não existindo qualquer notícia de afronta ou desrespeito a qualquer cláusula
contratual ou funcionário, sempre utilizando os serviços contratados, com
consentimento daquela.
Cumpre assinalar, à guisa de ilustração, que em .... de .... do corrente ano, a
Requerente procurou junto à Requerida a fatura para pagamento da mensalidade
alusiva àquele mês, pois não a havia recebido pelo correio como é de praxe. A
recepcionista alegou que talvez pudesse ter ocorrido algum problema, dizendo
tratar-se de plano novo e datilografou nova fatura, logicamente acrescida da
multa estipulada na Subcláusula ...., pois a mensalidade vence todo o dia ....,
de forma irônica, que tal procedimento estava previsto no Contrato e que a
Requerente deveria ter conhecimento.
No entanto, a Requerente não concorreu para que o erro ocorresse. Porém,
utilizando-se do mesmo expediente, espera ver, à final, o Contrato celebrado
cumprido in totum. Afinal, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),
em seu artigo 47, afirma que "As Cláusulas contratuais serão interpretadas de
maneira favorável ao consumidor".
O direito inatacável da Requerente, como solidamente demonstrado, está por
demais caracterizado no Contrato firmado, estando presente, portanto, o "fumus
boni juris".
A Requerida maculou o Contrato quando negou a guia autorizando o internamento de
seu dependente em apartamento, no Hospital .... de ...., onde encontra-se
hospitalizado até a presente data.
Como inexistem prazos de carências para início da prestação dos serviços, a
negativa da Requerida é infundada, vindo em flagrante confronto com o Contrato
firmado entre as partes ora litigantes.
Além do mais, a Requerente, por tratar-se de pessoa idônea e que sempre cumpriu
suas obrigações a contento, está por demais constrangida com a situação vigente,
já que constantemente é abordada por funcionários do hospital, que vêm
questionar sobre as guias de internamento que ainda não foram apresentadas.
Existe ainda uma probabilidade de que o filho da Requerente receba alta no dia
.... ou .... de .... E isto ocorrendo, a Requerente será obrigada a saldar a
diferença com a tesouraria do hospital, já que está usufruindo de um apartamento
e a Requerida propôs-se a cobrir as despesas somente de internados em
enfermaria.
A diferença de diárias entre enfermaria e apartamento é de R$ .... (....) por
dia, o que perfaz um total de R$ .... (....) ou R$ .... (....), dependendo do
dia da alta do paciente, excluídos os gastos com honorários médicos e outros
serviços.
A Requerente não possui condições financeiras para liquidar tais diferenças,
estando impossibilitada de fazê-lo sem que comprometa, de forma irreparável, o
sustento de seu lar e filhos, relevando-se que atualmente encontra-se separada
de fato de seu marido, estando caracterizado assim o periculum in mora.
Vê-se, pois, que estão plenamente provados os dois requisitos à obtenção da
medida liminar, ato de justiça que se impõe.
Ademais, a concessão da medida liminar, no sentido de assegurar à Requerente o
direito à obtenção da guia de internamento, autorizando acomodações em
apartamento e demais serviços contratados, concilia-se perfeitamente com as
regras antes mencionadas e explicitadas.
Assim, a concessão da medida liminar não implicará em qualquer prejuízo à
Requerida, pois não se alterarão as condições contratuais, e apenas será
cumprido o pactuado entre as partes em litígio.
DOS PEDIDOS
Preenchidos todos os pressupostos da presente Medida Cautelar, após o direito
inquestionável da Requerente, a legitimidade das partes e estando cabalmente
demonstrada a juridicidade da pretensão deduzida, bem como o descumprimento,
pela Requerida, do Contrato celebrado, requer a Vossa Excelência que digne-se
em:
a) conceder inaudita altera pars a presente medida cautelar, em face da
relevância do pedido, a fim de determinar que a Requerida forneça as guias de
internação, autorizando acomodações em apartamento e demais serviços
contratados, em conformidade com a Cláusula .... º e suas Subcláusula do
Contrato de Prestação de Serviços, Plano ...., Código nº ...., firmado entre as
partes litigantes, qualificadas preambularmente, evitando cobranças à
Requerente, pelo hospital, de diferenças pelos serviços prestados, até final
solução da lide principal, de Ações de Cumprimento de Contrato, a ser proposta
no prazo do art. 806 do Código de Processo Civil;
b) após a concessão da medida pretendida na forma de liminar, inaudita altera
pars, requer a citação da Requerida, na pessoa de seu representante legal, no
endereço declinado inicialmente, para que conteste e acompanhe, querendo, o
presente pedido, até final decisão, sob pena de revelia e confissão, em
conformidade com o art. 285, in fine, do Código de Processo Civil;
c) com a resposta ou sem, requer a total procedência do pedido, condenando-se a
Requerida ao pagamento das custas do processo, honorários advocatícios e demais
combinações legais;
d) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidas em direito,
especialmente pelo depoimento do representante legal da Requerida e documental;
Assim, obedecendo as formalidades legais, dando a este processo, para fins de
alçada, o valor de R$ .... (....), coloca nas mãos de Vossa Excelência mais esta
causa que, induvidosamente, fará com que a LEI impere e a JUSTIÇA prevaleça.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]