Ação popular com o objetivo de suspensão de publicidade que liga o nome de governador às obras públicas realizadas, com o evidente fim de autopromoção.
 
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA .... VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE 
.... - ESTADO DO ....
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador 
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., título de eleitor nº ...., seção ...., 
zona eleitoral ...., residente e domiciliado (a) na Rua ....., n.º ....., Bairro 
....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de seu (sua) advogado(a) e 
bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01), com escritório 
profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado 
....., onde recebe notificações e intimações, vem mui respeitosamente à presença 
de Vossa Excelência propor
AÇÃO POPULAR COM PEDIDO LIMINAR
em face de
autoridade pública, Excelentíssimo Sr. Governador do Estado do ...., .... 
(qualificação), o qual poderá ser encontrado no Palácio ...., sede do governo 
estadual, no ...., na Comarca de ...., pelos motivos de fato ed e direito a 
seguir aduzidos.
DOS FATOS
Sucessivamente, vem ocorrendo nesta Comarca, veiculação em jornais de grande 
circulação em todo o Estado do ...., com informações para população sobre a 
realização de obras públicas pelo atual Governo do Estado, demonstrando o 
brilhante desempenho da presente administração do Sr. ...., ora Réu.
Conclusivamente se percebe, de maneira clara, que as matérias publicitárias em 
questão, não contém tão somente cunho informativo ou noticioso, e sim tem 
caráter eminentemente publicitário da administração pública estadual e da pessoa 
do Sr. Governador do Estado.
Há que se ressaltar, outrossim, tratar-se de propaganda, realizada por agência 
de publicidade vinculada ao Governo do Estado, por determinação do Governador, 
ora Réu, com a utilização da imprensa jornalística, pela veiculação em 
periódicos, como meio, para o fim de atingir a publicidade desejada.
Desta forma, nos moldes em que estão lançadas as matérias jornalísticas, se 
denota cabalmente a pretensão precípua ou cumulativa da propaganda pessoal do 
Sr. Governador do Estado, ora Requerido.
Veja-se, destarte, pelo farto material acostado aos autos que em todos há textos 
que investimentos e realização de obras nas Cidades ...., dispondo sempre em 
relevo a figura do Governador, denotando verdadeira campanha eleitoral.
Veja-se, por exemplo, uma das matérias lançada no jornal do Estado do ...., 
edição do dia .. de ....... do ano em curso, (doc. nº ....) a qual nos 
reportamos exclusivamente, por brevidade e economia.
Tal matéria enfoca a presença do Requerido na Cidade de .... neste Estado, por 
ocasião da visita do mesmo àquela Cidade, onde está incluído a efetivação de 
várias obras pela Prefeitura local junto com o Governo Estadual, sendo até 
lançada uma lista das ditas realizações:
"AS PRINCIPAIS CONQUISTAS DE 199..
· Ponte da divisa com o município da ...;
· Conclusão do Conjunto ....;
· Conclusão do Conjunto ....;
· Conclusão do Conjunto ....;
· Conclusão do Conjunto .... com .... casas;
· Conclusão da rede de galeria de águas pluviais no Conjunto ....;
· Pavimentação asfáltica do Conjunto .... e parte do ....;
· Início da galeria pluvial no ....;
· Rede completa de galeria no Jardim .... e ....;
· Rede completa na Vila ....;
· Término da ampliação da Escola ...., início da pavimentação, calçada, muro, 
iluminação e reforma da cancha;
· Continuidade do Cine Teatro;
· Reforma do Prédio da Polícia Militar;
· Campo de futebol no Conjunto .... e Distrito de ....;
· Barracão para nova fábrica de tubos e meio-fio da prefeitura;
· Pedras irregulares na pavimentação da estrada do Distrito ....;
· Compra de terreno para lagoa de tratamento de esgoto e matadouro municipal;
· Compra de terreno para construção de mais .... casas populares;
· Compra de terreno para construção de .... casas no Conjunto ....;
· Compra de terreno para construção de .... casas no Distrito ....;
· Início das obras de duplicação da Av. ...., na saída para ....;
· Compra de área para instalação de .... indústrias às margens da BR-....;
· Término da ponte na divisa com município de ....;
· Início da ponte da Estrada .... na divisa com ....;
· Aquisição de uma Kombi pelo governo estadual;
· Implantação de Raio X no Pronto Socorro Municipal;
· Readequação de .... quilômetros de estradas rurais;
· Término das estradas ...., .... e ....;
· Parte das estradas ...., .... e ....;
· Continuidade dos trabalhos na Estrada ....;
· Abertura da Estrada do Rio .... até ...."
Está evidenciado na matéria, portanto, a caracterização da utilização de meio 
publicitário para autopromoção, ante a construção gramatical adotada, onde se 
verifica que está enfocado, além das informações inseridas, aspectos 
auto-elogiosos da pessoa do governante que emitiu a propaganda, procurando 
sempre incutir a quem é direcionada, entendimento da presença de administração 
generosa e competente.
Além do mais, torna-se inequívoca a existência do conteúdo promocional dos 
informes, posto que é destacado o nome e a imagem do governante que realiza os 
atos administrativos.
Desta forma, além da fixação ilícita do nome e da imagem de divulgação de 
realização de obras públicas, ainda é explorada a imagem da autoridade, 
indicando mais uma vez o impulso publicitário, com objetivos comerciais ou 
políticos.
Mais ainda, na forma como foi realizada, leva ao entendimento inexorável de se 
tratar iniludivelmente de campanha publicitária de índole eleitoral, haja vista 
ser o Réu notoriamente pré-candidato ao pleito próximo, mesmo porque é 
considerado publicamente como pessoa política.
DO DIREITO
A ação popular, consoante determinação legal, prevista no art. 7º da Lei nº 
4.717 de 29 de junho de 1965, que regula a matéria, deve seguir o rito 
ordinário, com as alterações que lhe são inerentes, sendo o que se requer desde 
já.
Muito embora, não se refira a pretensão de direito individual, o autor tem 
interesse jurídico de figurar no polo ativo da presente causa, consoante 
entendimento legal, art. 1º da aludida Lei nº 4.717/65, por se tratar de cidadão 
em pleno gozo de seus direitos políticos, consoante faz prova com a juntada de 
cópia de seu título eleitoral, como preceitua o § 3º do artigo citado.
Este já era o entendimento do sempre abalizado mestre Pontes de Miranda:
"A distinção entre os casos de ações populares é o povo, e aqueles de ações em 
que o sujeito de direito não é o povo, é assaz importante para a resposta do 
problema moderno da ação de abstenção não havendo direito substantivado. A ação 
intentável por alguém do povo, 'cuivis ex populo', somente pode ser ação 
correspondente a direito de cada um, pois ela o é de todos, e ação em lugar de 
outrem." (in Tratado de Direito Privado, tomo V, 4ª ed., pg. 499).
Em relação ao problema do interesse de agir de qualquer cidadão, o direito 
brasileiro encontra entendimento pacífico com o advento da CF/88, que traz 
disposição expressa para tal representação, quando assevera no inciso LXIII:
"Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular 
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e 
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e 
do ônus da sucumbência."
Outro renomado jurista, por sua vez também conclui no mesmo sentido sobre a 
questão em epígrafe:
"É um instrumento de defesa dos interesses da coletividade, utilizável por 
qualquer de seus membros. Por ela não se amparam direito individuais próprios, 
mas sim interesses da comunidade. O beneficiário direito e imediato desta ação 
não é o autor; é o povo, titular do direito subjetivo ao governo honesto. O 
cidadão a promove em nome da coletividade, no uso de uma prerrogativa cívica que 
a Constituição da República lhe outorga." (in Hely Lopes Meirelles, "Mandado de 
Segurança", 14ª ed., pg. 86).
Ainda como pressuposto à propositura da demanda, o direito pátrio exige que o 
ato ou a atividade administrativa realizada seja ilegal ou ilegítima, e seja de 
índole lesiva ao patrimônio público.
Pois bem, no que tange a ilegalidade do ato administrativo, in casu, conclui-se 
que tal atividade desenvolvida configurou-se em vício formal, posto que se trata 
de propaganda oficial do governo, com o fim de supostas informações a população, 
que deveriam ter obedecido regras jurídicas, as quais estabelecem formalidades 
específicas à sua efetivação, conforme anteriormente já mencionado.
Além disso, a propaganda oficial realizada fere frontalmente princípio 
constitucional, ex vi do art. 37, § 1º do Diploma:
"A publicidade dos atos, programas e campanhas dos órgãos públicos, deverá ter 
caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar 
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou 
servidores públicos."
Desta maneira, quanto ao aspecto da ilegalidade em pauta, é mera a conclusão que 
se chega sobre a notória publicidade lançada.
Veja-se, para argumentar, que o detentor do poder possui a generosa máquina de 
publicidade, com inúmeras agências que disputam entre si uma parcela desta 
propaganda. E, muitas vezes, como no caso em questão, utiliza-se de mensagens 
contrárias ao estabelecido no texto constitucional.
Ora, na forma que foram efetuadas as mensagens, com utilização de nome e imagem 
relacionados as obras realizadas ou com a futura execução de outras obras 
públicas, com inúmeras alusões elogiosas, só restando a conclusão da total 
vedação constitucional para esse tipo de publicidade.
De outro lado, o que se pressupõe à interposição do presente remédio judicial, é 
o caráter lesivo da atividade administrativa que se quer paralisar e anular.
Assim, além do vício de forma e dada a ilegalidade do objeto, circunstâncias já 
abordadas, é igualmente pacífico o entendimento, não merecendo contradição, de 
que a autoridade vale-se do erário público para o fim de efetuar notícia 
oficial, porém, in casu, tal notícia não tem por finalidade apenas informar ou 
educar, como exige a Constituição pátria.
Destarte, está sem dúvida, o chefe de governo, ora Réu, utilizando-se de farta 
verba, colocada a sua disposição por ocasião do orçamento estadual, para o fim 
de propaganda oficial, porém com forma e conteúdo proibidos por lei, que, no 
dizer de Hely Lopes Meirelles, obra já citada, enfatiza:
"A ação popular é o meio idôneo para o cidadão pleitear a invalidação desses 
atos, em defesa do patrimônio público, desde que ilegais e lesivos de bens 
corpóreos ou dos valores éticos das entidades estatais ..."
Ora, em última análise, é simples a configuração, de nada valendo alongar-se no 
assunto, de haver lesividade ao patrimônio público, face a utilização de verbas 
públicas para o fim de propaganda ilegal, máxima vênia.
Para tanto, há que se observar o que assevera, em douta lição, o ilustre jurista 
supra citado:
"Se o Estado incumbe proteger o patrimônio público, constituído de bens 
corpóreos, como de valores espirituais, de irrecusável lógica, é que o cidadão 
possa compeli-lo, pelos meios processuais, a não lesar esses valores por atos 
ilegais da administração."
Igualmente o nosso direito pretoriano também desenvolve semelhantes conclusões:
"A ação popular é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão 
para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos - ou a estes 
equiparados - ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual e municipal ou 
de suas autarquias entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com 
dinheiro públicos." (Ac. un. da 4ª T. do TRF da 1ª REO 89.01.0146 - 6 - 1 - DJU 
03.08.92, pag. 23.362).
Diante disto, frente a existência de todos os pressupostos presentes, é 
inequívoca a possibilidade, o amparo legal e circunstancial que se vale o autor 
para propor o presente recurso processual. Valendo apontar novamente o que 
conhece a respeito da matéria o ilustre professor:
"Em última análise, a finalidade da ação popular é a obtenção da correção nos 
atos administrativos ou nas atividades delegadas ou subvencionadas pelo Poder 
Público. Se, antes, só competia aos órgãos estatais superiores controlar a 
atividade governamental, hoje, pela ação popular, cabe também ao povo intervir 
na Administração, para invalidar os atos que lesarem o patrimônio econômico, 
administrativo, artístico, ambiental ou histórico da comunidade. Reconhece-se, 
assim, que todo cidadão tem direitos subjetivo ao governo honesto." (Obra 
citada).
Consoante ainda, as circunstâncias apontadas, ocorreu na realidade, ato 
administrativo lesivo, cujo remédio processual é exatamente a ação em pauta.
Veja-se o entendimento jurisprudencial a esse respeito:
"Ato administrativo lesivo - Desvio de Verba pública - restituição - ação civil 
pública - meio inidôneo.
Ação civil pública - prefeito municipal - Desvio de verba - Ato administrativo 
lesivo ao Erário Público - anulação - Restituição do dinheiro - Impropriedade da 
ação - A via processual adequada para se obter a restituição de dinheiro 
desviado por prefeito municipal é a ação popular e não a ação civil pública, 
porquanto aquela pressupõe a anulação do ato administrativo por sua lesividade, 
e esta visa a proteger certos interesses difusos previstos em lei própria." (Ac. 
un. da 2ª C.Civ. do TJ MG - Ac. 88.156/2 p. 01 ementa oficial).
Data vênia, a ação presente reveste-se de caráter preventivo e/ou repressivo, 
consoante atestam por unanimidade os doutrinadores pátrios.
Pela análise das circunstâncias expedidas há premente necessidade de se 
paralisar a propaganda ilegal, mesmo porque, a mesma vem sendo realizada 
sucessivamente.
Desta maneira, é plenamente justificável o provimento cautelar com expedição de 
liminar, admitida expressamente pelo § 4º do artigo 5º da já aludida Lei nº 
4.717, a fim de que seja obstada a continuidade da matéria publicitária ilícita.
Ademais, os requisitos ensejadores da presente medida liminar, estão 
concretamente presentes pela análise dos fatos.
Quanto ao fumus boni iuris, é desnecessário sustentar a sua configuração, pois 
seria ilógico e mesmo escusada argumentação a respeito, haja vista a evidência 
legal existente da ilegalidade da atividade em pauta (art. 37, § 1º da CF), 
quanto mais se tratar de possibilidade de tal direito.
No que respeita ao periculum in mora sendo a ação proposta exclusivamente para 
evitar prejuízo maior e reparar o já causado ao erário público, quanto maior o 
tempo dispendido para a conclusão da demanda, maior a efetivação do dano ao bem 
comum, em defesa tão somente dos interesses difusos da sociedade, posto que 
aumenta-se o prejuízo com a continuidade da veiculação da propaganda e 
estabelece exaurimento do ilícito praticado.
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer-se:
1. Concessão de Medida Liminar, presentes o fumus boni iuris e o periculum in 
mora, para o fim de que seja paralisada a publicidade indevida, onde surge o 
nome e imagem do Governador do Estado toda vez que a administração realiza obra 
pública, nos moldes da propaganda em pauta, uma vez respeitadas as disposições 
legais previstas na Lei nº 4.717/65, art. 5º, § 4º, matéria regulada pela Lei nº 
8.437 de 30.06.92, com expedição de ofício coibindo a propaganda objeto da 
presente, dirigido a todos os órgãos de imprensa ...., mais especificamente nos 
jornais de grande circulação que se encarregam da confecção dos encartes, quando 
forem apuradas.
2. A citação, através de mandado, do Sr. Governador do Estado do ...., ...., e 
do Estado do ...., na pessoa de seu representante legal, Sr. Procurador Geral, 
para, querendo, contestarem a presente ação.
3. Intimação do Ministério Público, consoante regras estabelecidas pela 
legislação específica.
4. Conforme preceitua o § 4º do Artigo 1º da Lei nº 4.717, requer o autor sejam 
apresentadas no processo todas as notas fiscais ou faturas quaisquer que tenham 
servido ao pagamento da propaganda em questão, bem como seja apresentado ou 
levantado o nome e endereço da agência publicitária responsável pela propaganda, 
ou ainda, seja apresentado o processo administrativo, que aprovou a verba.
5. Seja designado um perito, por este r. Juízo, a fim de concluir exames em 
relação aos pagamentos havidos, referente a notícia, ou levantamento junto aos 
títulos de crédito que tenham servido ao pagamento.
6. Uma vez levantada a lesividade ao patrimônio público, seja o Réu compelido a 
ressarcir os cofres do Estado, com os valores que despendeu com as matérias. Não 
sendo isto possível, seja realizada a indenização ao erário, pelo competente e 
justo arbítrio de Vossa Excelência, conforme predispõe legislação específica, 
LAP, já indicada.
7. Procedência total do pedido do autor, condenando a autoridade ao 
ressarcimento acima exposto, custas processuais e honorários advocatícios, 
valores a serem apurados oportunamente, por simples cálculos, acrescidos de 
correção monetária e juros legais.
Dá-se a causa o valor de R$ .....
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]