ALEGAÇÕES FINAIS - ESTUPRO - PALAVRA DA VÍTIMA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ______ VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE _____________ (___).
processo-crime n.º _________________
alegações finais
__________________________, brasileiro, casado, pedreiro, residente e
domiciliado nesta cidade de ______________, pelo Defensor Público subfirmado,
vem, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, no prazo legal, nos autos
do processo em epígrafe, articular, as presentes alegações finais, aduzindo, o
quanto segue:
Em procedendo-se uma análise imparcial da prova gerada pela demanda, tem-se,
como dado irrefutável, que a mesma é manifestamente anêmica e deficiente, para
ancorar um juízo condenatório.
Observe-se, por relevantíssimo que o réu negou de forma categórica e
convincente a prática do ato delituoso, o fazendo na seara policial (vide folha
________) e no orbe judicial, frente a Julgador de então (vide folha ______).
Por seu turno, a negativa do réu não foi ilidida na instrução judicial. Em
verdade, em verdade, a única voz dissonante nos autos, e que inculpa o réu pela
prática do estupro, constitui-se na própria vítima do tipo penal, a qual pelo
artifício da simulação, intenta, de forma insensata e desatinada incriminar o
réu.
Entrementes, tem-se que o escopo da sedizente vítima, não deverá vingar,
visto que não conseguiu arregimentar uma única voz, isenta e confiável - no
caminhar do feito - que a socorrer-lhe em sua absurda e leviana acusação.
Se for expurgada a palavra da vítima, notoriamente parcial e tendenciosa,
nada mais resta a delatar a autoria do fato, tributado aleatoriamente ao
denunciado.
Outrossim, sabido e consabido que a palavra da vítima, deve ser recebida com
reservas, haja vista, possuir em mira incriminar os réu, mesmo que para tanto
deva criar uma realidade fictícia, logo inexistente.
Neste norte é a mais alvinitente jurisprudência, coligida junto aos tribunais
pátrios:
"As declarações da vítima devem ser recebidas com cuidado, considerando-se
que sua atenção expectante pode ser transformadora da realidade, viciando-se
pelo desejo de reconhecer e ocasionando erros judiciários" (JUTACRIM, 71:306)
Na seara doutrinária outro não é o magistério de HÉLIO TORNAGHI, citado pelo
Desembargador ÁLVARO MAYRINK DA COSTA, no acórdão derivado da apelação criminal
n.º 1.151/94, da 2ª Câmara Criminal do TJRJ, julgada em 24.4.1995, cuja
transcrição parcial afigura-se obrigatória, no sentido de colorir e emprestar
valia as presentes considerações:
"Contudo, ao nosso sentir, a palavra do ofendido deve sempre ser tomada com
reserva, diante da paixão e da emoção, pois o sentimento de que está embuído, a
justa indignação e a dor da ofensa não o deixam livre para determinar-se com
serenidade e frieza (cf. H. Tornaghi, Curso, p. 392)" (*) in, JURISPRUDÊNCIA
CRIMINAL: PRÁTICA FORENSE: ACÓRDÃOS E VOTOS, Rio de Janeiro, 1999, Lumen Juris,
página 20.
Demais, é sabido e consabido que cumpre ao órgão reitor da denúncia, provar
pormenorizadamente tudo quanto proclamou na peça pórtica. Fracassando em tal
missão - é a hipótese dos autos - a obra prima pelo mesmo esculpida (denúncia),
marcha, de forma inexorável a morte.
Ademais, a condenação na arena penal exige certeza plena e inabalável quanto
a autoria do fato. Existindo dúvida, ainda que ínfima, deve o julgador optar
pela absolvição do réu. Nesta alheta é a mais abalizada e lúcida jurisprudência,
digna de decalque face sua extrema pertinência ao caso submetido a desate:
ESTUPRO - PROVA - PALAVRA DA VÍTIMA - IMPOSSIBILIDADE DE SER RECEBIDA SEM
RESERVAS QUANDO OUTROS ELEMENTOS PROBATÓRIOS SE APRESENTAM EM CONFLITO COM SUAS
DECLARAÇÕES - DÚVIDA AINDA QUE ÍNFIMA, NO ESPÍRITO DO JULGADOR, DEVE SER
RESOLVIDA EM FAVOR DO RÉU - ABSOLVIÇÃO DECRETADA.
"Embora verdadeiro o argumento de que a palavra da vítima, em crimes sexuais,
tem relevância especial, não deve, contudo, ser recebida sem reservas, quando
outros elementos probatórios se apresentam em conflito com suas declarações.
"Assim, existindo dúvida, ainda que ínfima, no espírito do julgador, deve,
naturalmente, ser resolvida em favor do réu, pelo que merece provimento seu
apelo, para absolvê-lo por falta de provas.
(Ap. 112.564-3/6 - 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, j. 19.2.92, Rel. Desembargador CELSO LIMONGI, in RT 681/330-332.
Aduz-se, que o réu negou o fato que lhe foi imputado desde a primeira hora. A
tese pelo mesmo argüida, não foi repelida e ou rechaçada pela acusação. Sua
palavra, pois, é digna de crédito, devendo, por imperativo, prevalecer, frente a
versão solitária declinada (engendrada) pela vítima.
Mesmo, admitindo-se, apenas a título de mera e surrealista argumentação, a
existência, na prova hospedada pela demanda, de duas versões dos fatos,
irreconciliáveis e incompatíveis entres si, cumpre dar-se primazia a oferecida
pelo réu, calcado no vetusto, mas sempre atual princípio in dubio pro reu.
Neste sentido é a mais serena e brilhante jurisprudência, parida pela cortes
de justiça:
"Ainda que plausível, em tese, a versão dada pela acusação aos fatos, deve
prevalecer a presunção de inocência que milita em favor do réu quando o Estado
não prova, estreme de dúvidas, o fato criminoso imputado na ação penal" (Ap.
126.465, TACrimSP, Rel. GERALDO FERRARI).
"Sendo conflitante a prova e não se podendo dar prevalência a esta ou àquela
versão, é prudente a decisão que absolve o réu" (Ap. 29.889, TACrimSP, Rel.
CUNHA CAMARGO).
"Inexistindo outro elemento de convicção, o antagonismo, entre as versões da
vítima e do réu impõe a decretação do non liquet". (Ap. 182.367, TACrimSP, Rel.
VALENTIM SILVA).
Registre-se, por derradeiro que o réu é primário na etimologia do termo,
consoante depreende pela certidão de folha ______.
ANTE AO EXPOSTO, REQUER:
I.- Seja repelida a denúncia, e acolhida a tese da atipicidade na conduta,
ensejando o veredicto absolutório forte no artigo 386, inciso III, do Código de
Processo Penal, não olvidando-se da tese secundária adstrita a defectibilidade
probatória que preside à demanda, (prova judicializada) impotente em si e por
si, para gerar qualquer veredicto condenatório, absolvendo-se o réu forte no
artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal.
Nesses Termos
Pede Deferimento.
__________________, ___ de _____________ de 2.0___.
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DEFENSOR PÚBLICO TITULAR
OAB/UF _________________