AÇÃO REIVINDICATÓRIA - MANIFESTAÇÃO SOBRE A CONTESTAÇÃO
Este modelo baseia-se no Código Civil de 1916, foi mantido por não haver
correspondentes com o Código Civil de 2002
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL
COMARCA DE _________ - UF
MUNICÍPIO DE ____________, já qualificado nos autos da ação reivindicatória
nº _________, que move contra ____________, ____________ e seu marido, em razão
da nota de expediente nº _________, publicada no Diário de Justiça em __.__.__,
vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seus procuradores
judiciais, apresentar réplica à contestação dos réus, nos termos que segue:
1 - Inicialmente, em face das informações vindas com a contestação e
documentação juntada pelos réus, há necessidade de alteração do pólo passivo da
ação, para retirar a ré, ____________, em razão de seu falecimento, conforme
documento da folha 43, bem como deverá constar o nome e qualificação do viúvo da
Sra. ____________, ____________ (folha 33). Diante do exposto, requer-se a
remessa dos autos à distribuição para as devidas alterações.
2 - Em preliminar, os réus alegaram que o pedido de reivindicação refere-se à
área de 29.500m2, sendo que esses ocupam exclusivamente o local onde se
encontram edificadas as residências. Por essa razão requereram a nulidade do
processo.
3 - O Município, na inicial, disse ser proprietário da área verde localizada
no Bairro ____________, ao lado da Escola _________, na qual os réus residem.
Foram acostadas fotografias e levantamento topográfico indicando o local exato
da ocupação, nos termos do item 2.1 da inicial. O pedido é certo e determinado:
a desocupação da área, ocupada irregularmente pelos réus, com o levantamento das
benfeitorias por esses edificadas. A localização exata da ocupação irregular,
concede precisão ao pedido, inexistindo a necessidade de especificar o quanto
dentro do todo maior está sendo ocupado. Assim, infundada a alegação, em
preliminar, de nulidade do processo.
4 - Quanto às alegações de mérito, melhor sorte não assiste aos réus, ao
afirmar possuírem posse "ad usucapionem" sobre o imóvel público.
5 - Alegam não ter invadido a área, mas sim que a ocuparam por determinação
da empresa na qual o marido da Sra. ____________ trabalhava, ____________ Ltda,
proprietária do imóvel, à época. Informaram, ainda, que no local da área verde
dita olaria possuía suas instalações, bem como outras residências de
funcionários.
6 - Em 1981, a olaria foi desativada e alguns funcionários saíram do local.
Ao contrário do que dizem os réus, não há outras construções na área verde.
7 - Esses dados comprovam que até 1981, o Sr. ____________ e a Sra.
____________ não possuíam a posse do imóvel, mas sim a mera detenção, pois havia
relação de subordinação ou dependência desses para com a olaria. Para aquisição
de posse, há de ocorrer a hipótese legal prevista no artigo 493 do CCB, cujo
caso dos autos não se encontra enquadrado em dito preceito.
8 - Após a desativação da empresa, os réus não passaram de detentores à
possuidores de boa-fé, mas sim a possuidores de má-fé, uma vez que o vínculo de
subordinação havia sido extinto, bem como tinham consciência de que a área não
era de sua propriedade. Não podem, portanto, alegar que desconheciam a
existência de vício ou obstáculo que os impedia de adquirir a posse do bem.
[...] a posse de boa-fé pressupõe, sempre, uma situação de legitimidade, pelo
menos razoavelmente aparente, incrustada na mente do possuidor. poderá haver
erro de fato na interpretação dessa situação. mas este erro será excusável.(1)
9 - Mesmo que se admitisse a posse de boa-fé dos réus após a desativação da
empresa em que laborava o marido da Sra. ____________, essa teria cessado em
_______ de _____, quando o bem passou a ser público, fora do comércio, portanto.
Segundo o artigo 520, III, do CCB, perde-se a posse se o bem foi posto fora do
comércio. Sua pretensa posse de boa-fé, não teria perdurado mais que onze anos.
Descabida, por conseguinte, a alegação de posse por mais de vinte anos à época
da doação da área pelo Município.
10 - O fato de estar, o bem, em condições de habitabilidade, contando com
serviços públicos de distribuição de água e luz, não transforma a ocupação de
irregular para regular. Por questão de saúde pública e vigilância sanitária, a
Municipalidade não pode negar o serviço de distribuição de água. Se dita
afirmação fosse correta, todas as ocupações clandestinas, sejam pequenas áreas,
loteamentos e até bairros inteiros desta cidade cuja ocupação sabe-se irregular,
passariam a ser consideradas regulares pelo simples fato de receberem os
serviços públicos. O oferecimento de ditos serviços públicos não se reveste de
concordância com a ocupação irregular, nem de renúncia à propriedade do bem, mas
sim reconhecimento ao direito de cidadania, o que é bem diferente.
11 - Quanto aos documentos acostados, verifica-se que o comprovante do SAMAE,
folha 40, refere-se a um terreno baldio e os réus alegam possuírem somente a
área onde se encontram suas residências. O documento da folha 41 refere-se a um
orçamento para eletrificação rural, no Desvio ____________, demonstrando,
tão-somente que, nessa localidade, até 1985 não havia distribuição de energia
elétrica; nada mais. Quanto ao documento da folha 42, esse faz prova em favor do
Município, pois o Sr. ____________ requer ao Presidente do Bairro ____________
que o autorize a pedir à Prefeitura a instalação de água em sua residência. Ora,
acaso fosse realmente possuidor de boa-fé, ou tivesse o "animus domini" como
afirma ter, por que haveria de pedir autorização ao Presidente do Bairro
_________ para tal pedido? Quem possui o imóvel como seu, ou tem a posse do bem,
pode dele usar, gozar, dispor e reaver (na posse o possuidor não tem o poder de
dispor do bem)(2). A resposta é uma só: o Sr. ____________ sabia, tinha
consciência de que a área não era sua, de que o local onde residia seria, após o
término do loteamento, destinado à área verde, e, portanto, gestionou junto ao
Presidente do Bairro para ter acesso à distribuição de água.
Diante do exposto, as alegações de defesa apenas reforçam a veracidade dos
fatos narrados na inicial, tendo restada incontroversa a ocupação irregular da
área verde do Município, pelos réus. Em razão disso, requer-se o julgamento
antecipado da lide, forte nas disposições do artigo 330, I, do CPC, com a total
procedência do pedido inicial.
Nestes termos
Pede prosseguimento e deferimento.
____________, ___ de __________ de 20__.
____________
OAB/
NOTAS
(1) AZEVEDO, Renan Falcão de. Posse. ____________ : EDUCS, 1987, p. 67.
(2) idem, p. 45.