Contra-razões de recurso de apelação, pugnando-se pela
manutenção de sentença que julgou improcedente a ação de cobrança.
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..... VARA CÍVEL DA COMARCA DE ....., ESTADO
DO .....
AUTOS Nº .....
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua
....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de
seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01),
com escritório profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade
....., Estado ....., onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente, nos autos em que contende com ....., à presença de Vossa
Excelência propor
CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO
pelos motivos que seguem anexos, requerendo, para tanto, a posterior remessa ao
Egrégio Tribunal competente.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ....
ORIGEM: Autos sob n.º .... - ....ª Vara Cível da Comarca de ....
Apelante: ....
Apelados: .... e outros
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua
....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de
seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01),
com escritório profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade
....., Estado ....., onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente, nos autos em que contende com ...., à presença de Vossa
Excelência propor
CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO
pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.
CONTRA-RAZÕES
Colenda Corte
Eméritos julgadores
DOS FATOS
Insurge-se a apelante contra a r. sentença que julgou improcedente a presente
AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA condenando a mesma ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em 20% sobre o valor
atribuído à causa, alegando, em síntese, que o contrato estipulado pelas partes
se materializa como Contrato de Adesão e que as cláusulas que estipulam multas
em caso de rescisão do contrato não podem ser cumulativas.
O presente Recurso de Apelação possui caráter meramente protelatório, uma vez
que a apelante, através de evasivas, foge às raias do bom senso com suas
assertivas, a começar pela invocação da contumácia.
Nas fls. .... dos autos verificamos que a mesma afirma que "... resta observada
a materialização do vício formal insanável, junto ao Instrumento Particular de
Procuração apresentado aos autos, pelo Apelado".
Como uma simples análise perfunctória do instrumento particular de mandato
colacionado aos autos (fls. ....) pela requerida, verificamos que a outorgante,
além dos poderes conferidos na cláusula "ad judicia", outorgou poderes para o
seu procurador praticar todos os atos necessários ".... para propor Ação
Ordinária de Cobrança, Autos nº ...., proposta por ...., acompanhando-a até seus
ulteriores termos". (sic)
Desta forma, com clarividência verificamos que o instrumento de mandato
colacionado se configura como Hábil elemento processual de defesa, uma vez que
faz constar o número dos autos e o nome da respectiva autora, atributo peculiar
para presente demanda, não contando nenhum vício que o possa macular.
Portanto, não merece crédito tal invocação, pois o subscrevente desta está
devidamente constituído para poder representar a recorrida em juízo em qualquer
instância.
DO DIREITO
O contrato firmado entre as partes é de Compra e Venda e não por Adesão, como a
recorrente quer tentar incutir a esta Câmara Cível, pois tal assertiva não
encontra embasamento legal, como passaremos a demonstrar através do farto
pensamento doutrinário a seguir transcrito.
No magistério do festejado Professor Silvio Rodrigues, em seu Curso de Direito
Civil, volume 3, Editora Saraiva, 13ª edição, 1983, ao tratar sobre o Contrato
Paritários de Adesão, afirma que, verbis:
"Para que o contrato de adesão se caracterize como tal, mister se fez a presença
de várias circunstância, a saber:
a) O negócio deve ser aquele envolvendo necessidade de contratar por parte de
todos, ou de número considerável de pessoas .... Aqui não se trata de coação,
porque o consumidor pode rejeitar o contrato, sem qualquer sanção ou perigo.
(grifamos)
b) O contratante mais forte deve desfrutar de um monopólio de direito ou de
fato, ou seja, é de mister que a procura exceda em tal proporção a oferta, que
uns precisem comprar e outros possam se recusar a vender. Pois, caso contrário,
isto é, no de ampla e livre concorrência, o consumidor poderia se satisfazer
alhures, fugindo à imposição de contratar com determinada pessoa." (grifamos)
O eminente Professor Caio Mário da Silva Pereira, em sua obra Instituições de
Direito Civil, editora Forense, volume 3, 5ª edição, também se pronuncia a
respeito deste assunto, senão vejamos:
"Chamam-se Contrato de Adesão aqueles que não resultam do livre debate entre as
partes, mas provêm do fato de uma delas aceitar tacitamente cláusulas e
condições previamente pela outra."
Ademais, corroborando com tal posição doutrinária vejamos o que o Professor
Orlando Gomes, em sua obra Contratos, editora Forense, 12ª edição, 1991 ensina a
respeito do Contrato de Adesão , verbis:
"Contrato de Adesão é toda a relação jurídica de constituição bilateral em que o
consentimento de uma das partes há de consistir, por circunstâncias diversas, na
aprovação irrecusável das cláusulas aditadas pela outra."
"... a adesão tem o mesmo valor do consentimento, não medindo a lei a forçadas
vontades, sendo irrelevantes, por outras palavras, que uma seja mais fraca do
que a outra."
E ainda, nas palavras do jurista francês Dereux, pelo já citado doutrinador,
opus citatum:
"Os contratados de adesão não têm existência antes do momento em que ocorre a
adesão, isto é, antes da aceitação em bloco de suas cláusulas pelo aderente,
antes de uma palavra que consinta. Formam-se, portanto, como todo o contrato,
pelo encontro e coincidência de suas vontades."
Desta forma, não há que se afirmar que o contratado "sub exemen" se constitui
como um contrato por adesão, pois para que este se configure, mister se faz a
necessidade de contratar, o que inocorreu no caso sub judice.
Além disso, a recorrente "poderia se satisfazer alhures fugindo à imposição de
contratar com determinada pessoa", repetindo as palavras do renomado doutrinador
Silvio Rodrigues, o que, desta forma, faz-se configurar que o contratado firmado
entre os litigantes é o de Compra e Venda e não por Adesão.
Ademais, o presente contrato trata de edifício residencial, com unidades de
tamanhos diversos, cujos valores e formas de pagamento variam em função do andar
da respectiva unidade, bem como a forma de pagamento e condições podem ser
negociadas. Desta forma, existindo tantas variáveis não se poderia sequer
vislumbrar-se a possibilidade de tratar-se de contrato de adesão.
O MM. juiz monocrático, ao prolatar sua r. sentença, afirmou com toda a
propriedade que o contrato em tela não chega a configurar um contrato de adesão,
pois, como se sabe:
"O contrato de adesão constitui uma oposição à idéia do contratado partidário. É
aquele em que não vigora o princípio da autonomia da vontade. É aquele em que
não há discussão livre entre as partes na definição das condições do negócio.
Nele há um verdadeiro monopólio decisório em favor de uma das partes, a outra
nada decide, apenas influi na formulação das cláusulas contratuais, apenas as
aceita tal qual foram postas pela outra parte, a parte mais forte, chamada
policiante. É, a rigor , um verdadeiro contrato unilateral, em que a parte
aderente conforma-se com uma situação pronta e acabada."
Além disso, o MM. juiz singular, ao proferir sua decisão, cita o conceito
trazido com o advento do Código de Defesa do Consumidor na qual o contrato de
adesão é "aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecida unilateralmente pelo fornecedor de produtos e
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo" (art. 54).
Como esclareceu o MM. juiz "a quo", "nele houve liberdade de escolha da coisa e
na definição das condições de pagamento do seu preço. Salvo nos contratos de
compra e venda pelo Sistema Financeiro de Habitação, com suporte financeiro de
origem pública, nos demais contratos a regra é a de livre negociação. Isto é
sabido por todos nós."
Não obstante, o digno magistrado, em sua r. sentença, afirma que:
"Mas, mesmo que de tal espécie se tratasse, "ad argumentandum", como quer fazer
crer a autora para efeito de buscar uma interpretação que lhe seja favorável,
mesmo assim a razão não lhe abraçaria, porque a interpretação mais favorável ao
aderente só tem lugar nas cláusulas ambíguas, obscuras ou duvidosas. Não
naquelas revestidas de clareza e legalidade" (destacamos).
Portanto, como nada foi imposto para que a apelante fosse induzida a contratar
com a recorrida, a qual fez por sua livre e espontânea vontade e com o prévio
conhecimento de todas as cláusulas ali constantes, não pode prosperar a tese de
que o contrato do caso sub judice é espécie de contrato por adesão, pois não
prevaleceram nenhum dos requisitos para que este fosse configurado e, desta
forma, correta está a r. sentença recorrida.
As alegações despendidas pela apelante não têm o condão de ilidir a decisão
recorrida, pois afirma que não é lícita a previsão de ambas as multas de forma
cumulativa como contidas no instrumento contratual em questão. É ilógica tal
afirmação, como passaremos a demonstrar.
Ao prolatar a r. sentença o MM. juiz monocrático afirma que:
"Através do contrato criam-se direitos e obrigações aos contratantes" ....
"Então, para que se tenha um mínimo de garantia ao cumprimento das obrigações,
permite o direito (art. 415 a 416 do Código Civil) que as partes o estabeleçam
cláusulas acessórias impondo uma sanção àquela que venha se tornar inadimplente,
que descumpra as obrigações assumidas perante a outra. São as cláusulas
penais...." (sublinhamos)
"Há plena liberdade para o estabelecimento dessas cláusulas penais ... O artigo
412 do Código Civil estabelece que "o valor da cominação imposta na cláusula
penal não pode exceder o da "obrigação principal" .... Na hipótese em exame, a
cláusula penal é de índole compensatória. Foi estabelecida para o caso de
resolução do contrato em decorrência da mora no pagamento das parcelas do preço
do apartamento e em dois percentuais; 10% sobre o valor das parcelas pagas, a
serem restituídas, mais 5% "sobre o valor atualizado do contrato". Como ficou
visto, o limite estabelecido neste dispositivos é o valor da "obrigação
principal". E este valor," "in casu" é o valor atualizado do contrato". Não há
como interpretar de outro modo." (sublinhamos)
Destarte, fica evidenciado que as multas estipuladas para o caso de resolução do
contrato em debate não podem ser interpretadas como cumulativas, visto que estão
de acordo com o artigo 412 do Código Civil, como perfeitamente afirmou o MM.
juiz sentenciante, não ultrapassando o valor da "obrigação principal".
Na esteira de Maria Helena Diniz, em seu curso de Direito Civil Brasileiro,
volume 2, 1993, editora Saraiva, verificamos, ao tratar da cláusula penal, que:
"A cláusula penal vem a ser um pacto acessório, pelo qual as próprias partes
contratantes estipulam, de antemão, pena pecuniária ou não, contra a parte
infringente na obrigação, como conseqüência de sua inexecução culposa ou de seu
retardamento, fixando, assim, o valor das perdas e danos, e garantindo o exato
cumprimento da obrigação principal. Constitui uma estipulação acessória, pela
qual uma pessoa, a fim de reforçar o cumprimento da obrigação, se compromete a
satisfazer certa prestação indenizadora ... Fixando o valor das perdas e danos à
parte inocente em caso de inexecução contratual."
O caráter compulsório da cláusula penal em questão fica patente conforme o
ensinamento desta renomada jurista, na mesma obra citada, senão vejamos:
"... 3º) Compulsoriedade: visto que, os contratantes pactuam prevendo, de
antemão, a possibilidade de eventual inexecução da obrigação .... O devedor
inadimplente, sujeitar-se-á à cláusula penal, não podendo furtar-se a seus
efeitos, alegando que não houve prejuízos ... Deveras, o Código Civil art. 416,
dispõe: Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue
prejuízo."
Corroborando tal entendimento o festejado doutrinador Silvio Rodrigues, em seu
curso de Direito Civil, volume 2, 21ª edição, editora Saraiva, afirma haver duas
finalidades da cláusula penal, quais sejam:
"a) serve de reforço à obrigação principal;
b) representa um sucedâneo, pré-avaliado, das perdas e danos devidos pelo
inadimplente do contrato;"
Ao discorrer sobre ambas as funções afirma:
"É natural que o devedor, para fugir ao pagamento da pena, empenhe em saldar
pontualmente a prestação. Portanto, a cláusula penal constitui um reforço da
obrigação, criando elemento compulsório que atua no sentido de sua execução."
"Todavia, a função mais importante da cláusula penal, e a que se prende a sua
função histórica, é a de servir como cálculo predeterminado das perdas e danos.
No contrato, encontra-se, não raro, disposição em que o credor reserva o direito
de exigir do devedor uma pena, em caso de inadimplemento. Tal pena representa o
montante das perdas e danos pré-estabelecidos pelas partes, calculados tendo em
vista o eventual prejuízo decorrente do descumprimento da obrigação."
Destarte, correta está a previsão da cláusula penal sub examem, a qual foi
estabelecida como garantia da rescisão do contrato em decorrência da mora das
parcelas inadimplidas e, outrossim, como reforço ao cumprimento das perdas e
danos previstas pela resolução do contrato, sendo estes estipulados em razão de
haver sido dispendidos gastos com despesas gerais do contrato e, ainda, gastos
em decorrência de comissão, corretagem e publicidade.
Ademais, tal cláusula penal, como bem interpretou o MM. juiz "a quo" e consoante
ao farto pensamento doutrinário demonstrado, não ultrapassa o limite previsto no
artigo 412 do Código Civil, outrossim, foi estipulada em anuência com a apelante
quando esta firmou o contrato de compra e venda com a recorrida. Portanto, a
sentença recorrida, mais uma vez totalmente correta.
Por derradeiro, a recorrente foge às raias do bom senso ao requerer reforma da
respeitável sentença no que atine aos honorários advocatícios e custas
processuais, ao alegar que: ".... face ao seu caráter acessório, deve haver
inversão nos pontos em questão, restando condenação destes ao Apelado". (sic)
Mais uma vez, não merece sucesso tal assertiva, pois quem procurou o Poder
Judiciário para tentar esquivar-se de sua obrigação de adimplir o disposto no
contrato firmado foi a apelante, a qual, por não obter sucesso, procura, de
forma totalmente infundada, reverter a condenação concernente às custas
processuais e honorários advocatícios.
Destarte, tal alegação merece ser totalmente desconsiderada por afrontar os mais
comezinhos princípios do Direito Processual do ordenamento jurídico pátrio.
DOS PEDIDOS
Ex positis, por medida de brevidade e economia processual, a recorrida deseja
reportar-se na íntegra ao contido em sua Peça Contestatória e demais petitórios
apresentados requerendo a esta Colenda Câmara Cível, haja por bem em manter a r.
sentença recorrida para negar provimento ao presente Recurso de Apelação, por
ser medida de lídima e impoluta Justiça !!!
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]