Ação de indenização, em face de acidente do trabalho sofrido por servidor público.
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ..... VARA CÍVEL DA COMARCA DE ....., ESTADO
DO .....
....., brasileiro (a), (estado civil), profissional da área de ....., portador
(a) do CIRG n.º ..... e do CPF n.º ....., residente e domiciliado (a) na Rua
....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., por intermédio de
seu (sua) advogado(a) e bastante procurador(a) (procuração em anexo - doc. 01),
com escritório profissional sito à Rua ....., nº ....., Bairro ....., Cidade
....., Estado ....., onde recebe notificações e intimações, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRABALHO
em face de
....., pessoa jurídica de direito público interno, de âmbito federal, com sede
na Rua ....., n.º ....., Bairro ....., Cidade ....., Estado ....., pelos motivos
de fato e de direito a seguir aduzidos.
PRELIMINARMENTE
DA COMPETÊNCIA
A presente ação deve ser julgada pela Justiça Estadual, uma vez que a
Constituição Federal dispõe no art. 109, I, que compete à Justiça Federal o
julgamento de ações em que a União, ou autarquia federal, ou ainda empresa
pública federal, forem partes, EXCETO, as ações de ACIDENTE DO TRABALHO, dentre
outras.
A Justiça do Trabalho também não é competente, uma vez que o inciso I (in fine)
do art. 114/CF, que dispõe acerca da competência desta para o julgamento de
ações referentes a servidores públicos, encontra-se suspenso, ante o trâmite de
ação de inconstitucionalidade do mesmo.
Do exposto resta apenas a Justiça Estadual.
DO MÉRITO
DOS FATOS
A Autora era funcionária da Ré, tendo sido contratada, na função de ...., em
.... de .... de ...., como se comprova com documento incluso (doc. ....). Foi
lotada para trabalhar na ....
Decorrente da promulgação da nova Constituição Federal, a sua função foi
transformada em cargo público, em .... de .... de .... (doc. ....)
Neste interregno foi designada para a função de .... do Restaurante .... (doc.
....)
No dia .... de .... de ...., por volta das .... horas, a Autora, por
determinação de seu superior hierárquico, foi executada a higienização de um
equipamento, movido a eletricidade, utilizado para fazer massa.
A necessidade da limpeza de tal equipamento era decorrente de estar desativado,
a muito tempo, tanto que a Autora já não o operava a mais de .... (....) anos.
Para proceder a limpeza do equipamento, foi determinado à Autora, a utilização
de água e sabão.
Para a limpeza era necessário que o equipamento estivesse ligado.
Na ocasião, a Autora estava usando bota.
Quanto procedia a limpeza do equipamento, em decorrência da água e sabão sobre o
chão liso, a Autora veio a escorregar e, consequentemente, perdeu o equilíbrio,
ocasião que sua mão direita adentrou entre os cilindros utilizado para
amassadura.
Mesmo sentido enorme dor, a Autora conseguiu desligar o equipamento.
O supra relatado está comprovado, nos termos da Comissão designada pela Portaria
nº ...., da Pró-Reitoria de Recursos Humanos, documentos incluso (doc. ....)
para apuração do acidente, como consta do documento anexo (doc. ....)
"...
A Comissão reuniu-se visando levantar os fatos que culminaram com o acidente da
servidora ...., matrícula nº ...., às .... horas e .... minutos do dia .... de
.... de .... A servidora quando executava a higienização de um equipamento,
(cilindro de massa), escorregou e desequilibrou-se prendendo a mão direita no
rolo. Para execução da limpeza é necessário que o cilindro esteja ligado. Foram
ouvidos os servidores: ...., ...., .... e ...., que presenciaram o acidente e
conformaram os fatos descritos pela acidente."
O acidente ensejou graves conseqüências à integridade física da Autora,
produzindo, também, nefastos efeitos morais, como adiante ficará comprovado.
Os danos físicos, conforme LAUDO MÉDICO Nº ...., cópia juntada (doc. ....), tem
o seguinte DIAGNÓSTICO e PARECER:
"DIAGNÓSTICO: Acidente de serviço, com perda total do terceiro dedo, perda
parcial do polegar a nível da falange proximal, retração do segundo quarto e
quinto dedos da mão direita. Redução funcional de no mínimo 50%.
PARECER: Invalidade total para atividades laborativas."
Em .... de .... de ...., a Autora veio a protocolar Requerimento ao Magnífico
Reitor da ...., onde deduzia os seus problemas para, finalmente, requerer uma
indenização ante os problemas advindos pela sua inutilidade para o serviço,
inclusive como dona de casa.
O Requerimento foi protocolado sob nº ...., sendo que no doc. ...., encontramos
despacho exarado pelo DAP, onde se constata:
"DN/DAP Primeiramente, solicitamos o encaminhamento do presente processo à
Comissão de Saúde Ocupacional, solicitando que seja elaborado perícia médica na
requerente, visando estipular em valores atuais, qual seria o valor
indenizatório que poderia cobrir as perdas que a ex-servidora vem sofrendo."
Pelo supra letrado, fica evidenciado que a própria Ré tem consciência e
confessa, que teve CULPA pelo acidente e está a dever reparação à Autora.
O pedido supra transcrito, foi respondido, documento incluso (doc. ....), pela
Dra. ...., em cujo PARECER ...., define:
"Em resposta ....
1. As lesões residuais decorrentes do acidente em serviço, sofrido em
.../.../..., afetam o exercício profissional impossibilitando o desempenho de
qualquer função - motivo da sua aposentadoria por invalidez permanente;
2. Qualificação das seqüelas:
O acidente caracterizou-se por lesões múltiplas interdependentes, na mão direita
do membro superior principal, ocasionando a perda da anatomia de 62% (sessenta e
dois por cento), comprometimento de 53% (cinqüenta e três por cento) dos
movimentos articulares por imobilidade e redução e perda de 72% (setenta e dois
por cento) da capacidade funcional.
3. Critério utilizado para a avaliação: Tabela de Avaliação de Seqüelas do INSS
(SUS)."
Como se depara do Parecer Médico, a Autora perdeu 72% (setenta e dois por cento)
de sua capacidade funcional da mão direita, ou seja, definiu total perda de
utilização de tão importante membro, pois a Autora é destra.
O Requerimento em si não foi decidido pela Autoridade a quem se requereu,
porque, os documentos finais, documentos .... e ...., diz respeito a um Parecer
Jurídico, concluindo pelo INDEFERIMENTO da indenização pretendida, do qual foi
dado ciência à Autora, doc. ....
Do supra relatado e comprovado, pode-se concluir que:
a) a Autora sofreu um acidente de trabalho;
b) o acidente ocorreu por estar cumprindo ordem superior;
c) a ordem foi para Autora desempenhar trabalho que não é inerente à sua função
e para a qual foi designada, pois na função de .... não lhe caberia proceder a
limpeza dos equipamentos, atribuição, claramente, dos ocupantes dos cargos de
Serviços Gerais ou de Manutenção ou Limpeza, Zeladoria, etc;
d) tendo em vista o grande período de inoperância, a vistoria, revisão e limpeza
do equipamento, deveria ser procedido, indubitavelmente, por algum dos serviços
técnicos, especializados em manutenção e equipamentos elétricos e nunca a
Autora;
e) o modo de limpeza, com o equipamento ligado, com eletricidade e água, que
aumenta, em muito o perigo de "choque", e em chão liso, nunca poderia se ter
ordenado para que a Autora o desempenhasse;
f) a Ré, através de seu preposto, veio incorrer em GRAVE CULPA, pois,
indubitavelmente, em razão dos problemas no equipamento, poder-se-ia,
claramente, prever e ter consciência do perigo em que foi colocada a integridade
física da Autora, tanto que aconteceu o acidente; e, portanto,
g) a responsabilidade da Ré, pelo acidente e os nefastos efeitos dele
decorrentes, é inafastável.
Ante ao supra exposto, só resta, à Autora, vir procurar o respaldo do
Judiciário, objetivando ver atendida nos seus direitos, para que haja
verdadeiramente reparação pelos danos físicos e morais, sofridos, ante acidente
de trabalho, ocasionado, exclusivamente por CULPA GRAVE, em ato emanado da Ré.
DO DIREITO
A Constituição Federal, no inciso XXVIII, do artigo 7º, expressa de maneira
clara que:
"Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
XXVIII - seguro contra acidente de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir
a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa."
(destacamos e grifamos)
Assim, é princípio constitucional que se houver um acidente de trabalho, por
culpa do empregador, este deverá responder pela indenização, obrigatoriamente.
No nosso Código Civil, o definido no seu art. 186 é de uma clareza meridiana,
quando letra:
"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito."
Já o inciso III, do art. 932, do mesmo Diploma Legal, expressa:
"Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no
exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele." (destacamos)
Pelo consignado no nosso Código Civil, fica consistente o entendimento de que
havendo dano, por negligência ou imprudência de preposto, o empregador é o
responsável pela reparação.
O Egrégio Supremo Tribunal Federal já apaziguou tal entendimento, na Súmula 341:
"É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto."
Até o advento da atual Constituição Federal, se utilizava o que consta da Súmula
229, do STF, a qual ensejava determinar que "A indenização acidentária não
exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador"
(destaque nosso).
Assim, só haveria responsabilidade desde que se provasse que o empregador
houvesse praticado o ato ou omissão com CULPA GRAVE.
Contudo, como se depara do dispositivo constitucional, supra transcritos, o
princípio se define que a responsabilidade surge com culpa, não sendo necessário
que ela seja graduada com grave.
O colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, já decidiu sobre o assunto, e de maneira
indubitável ementou:
"RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRABALHO - CULPA LEVE DO EMPREGADOR - FATO
ANTERIOR À CF/88.
ACIDENTE DE TRABALHO - APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL A FATO OCORRIDO ANTES
DE SUA VIGÊNCIA. ALEGAÇÃO DE QUE CONTRARIANDO O DISPOSTO NO ARTIGO 6º DA LEI DE
INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. Para que uma norma possa determinar o conteúdo da
outra, necessário que uma tenha hierarquia superior. A lei ordinária não se pode
dizer violada porque outra, da mesma hierarquia, dispões de modo diverso. Menos
ainda se a norma posterior é constitucional. Hipótese em que, de qualquer sorte,
era desnecessária a invocação da Constituição. Com a integração o seguro
acidente do trabalho no sistema da Previdência Social, revogadas, por mais se
justificarem, as normas constantes dos Decretos-lei 7.036/44 e 293/67, haverá
responsabilidade do empregador, com base no direito comum, desde que haja
concorrido com CULPA, AINDA QUE LEVE, PARA O ACIDENTE". (Ac. un. da 3º T do STJ
- Resp 30.396-9-SC - Rel. Min. Eduardo Ribeiro - j. 07.02.95 - DJU 1 03.04.95,
p. 8.127. In Repertório IOB de Jurisprudência - 1ª quinzena de junho de 1995 -
nº 11/95 - página 171).
Pelo decidido conclui-se inexoravelmente que após o advento do princípio
constitucional, o empregado deve ser responsabilizado por reparação de danos,
quando incorrer em CULPA, independente de sua graduação, mesmo que LEVE.
Pelo supra alegado, demonstrado e comprovado o acidente sofrido pela Autora
decorreu de ato emanado de preposto da Ré.
Neste ato fica evidenciado, manifestamente, a negligência e imprudência da Ré,
em mandar que a Autora viesse a proceder limpeza em equipamento elétrico,
ligado, em chão liso e que estava inoperante a mais de .... anos.
Mesmo que se queira argüir a graduação da CULPA, ela fica evidente que é GRAVE,
porque se ordena que funcionário exerça atividade que não é inerente a sua
função, com a possibilidade de vir a sofrer até acidente que poderia ter lhe
ocasionado danos mais graves, porque não dizer, a sua morte.
Ainda, pelo que consta em princípio de ordem constitucional, a responsabilidade
de responder pelos danos, independente da graduação da culpa.
Assim sendo, fica óbvio, evidente e intuitivo que a Ré deve responder pelos
danos físicos e morais que, por ato seu, veio a Autora a sofrer e padecer pelo
resto de sua vida.
Com as seqüelas, decorrentes do acidente, a Autora teve a capacidade de trabalho
diminuída, em muito, advindo daí inúmeros problemas no seu cotidiano.
Tendo, ainda, o esposo com idade avançada, dependente do auxílio da Autora para
lavar, cozinhar, limpar, etc.
Estes serviços a Autora não pode mas desempenhar em sua casa, dependendo de
filhos e empregadas que teve de contratar.
Portanto, além dos gastos que tem com serviçais, a Autora venho a enfrentar
problemas de ordem moral, porque nem a sua casa pode administrar, porque depende
de auxílio.
Em suma, no final da vida, a Autora vem a ter graves problemas de ordem
financeira e moral, porque está totalmente incapacitada para vir desempenhar
tarefas inerentes a mulher dentro de seu lar.
Entre a data do acidente e a perspectiva de uma vida até os 70 (setenta) anos,
são 140 (cento e quarenta) meses.
Dentro do contexto, fica evidenciado que para ter uma empregada doméstica, a
Autora está gastando e deverá dispender, no mínimo 2 (dois) salários mínimos
mensais.
Como dano moral, atendendo ao problema estético agravado pela impossibilidade de
desempenhar a sua atividade doméstica, poder-se-á deduzir que a Autora tenha, no
mínimo, direito a 5 (cinco) salários mínimos mensais.
Tais valores são, indubitavelmente, moderados.
Assim teria a Autora direito a obter a 7 (sete) salários mínimos mensais,
durante os 140 (cento e quarenta) meses de sua projeção de vida, resultando uma
indenização por dano físico e moral, no equivalente a 980 (novecentos e oitenta)
salários mínimos.
Isto sem que a Ré tenha, efetivamente, ressarcido todos os seus danos
ocasionados à Autora, principalmente, os de ordem moral.
DOS PEDIDOS
Isto posto, REQUER a Vossa Excelência, a citação da Ré, em seu representante
legal no endereço contido no preâmbulo, para contestar a presente, querendo, no
aprazado de lei.
Protesta-se por todos os meios de prova admitidos em direito em especial, a
ouvida do representante legal da Ré, bem como, as testemunhais e periciais, se
necessário.
Ao final, pede-se a condenação da Ré para indenizar os danos causados à Autora,
nos valores supra demonstrados, com único meio de ressarcir os danos que esta
veio a sofrer, por culpa daquela, acrescidos das custas e honorários
advocatícios, atendendo os ditames jurídicos válidos e aceitos.
Por ser de inteira justiça, se REQUER o benefício da assistência judiciária
gratuita, ante a impossibilidade da Autora em arcar com as custas antecipadas.
Dá-se à causa o valor de R$ .....
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Local], [dia] de [mês] de [ano].
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]