MEIO AMBIENTE - IMPACTO AMBIENTAL - CONSTRUÇÃO DE REPRESA - MUNICÍPIO -
AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE .....................
CENTRO DAS PROMOTORIAS DA COLETIVIDADE
COORDENADORIA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA COMARCA DE
........................ - .......
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ....................., por seus
representantes firmatários, no uso de suas atribuições institucionais e com base
nos termos do Artigo 129, III, da Constituição Federal e no teor da Portaria n°
529/92, firmada pelo Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça, vem
propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
contra
O MUNICÍPIO DE .................., pessoa jurídica de direito público
interno, unidade do Estado de ....................., com sede nesta cidade e
comarca, e,
.........................., de qualificação a ser apurada, residente na
Estrada ........................, município de ........................, pelos
fundamentos fáticos e legais que passa a expor:
Consoante os termos da documentação inclusa, no curso do mês de novembro de
1993, o demandado Município de ........................, promoveu a DERIVAÇÃO,
de um afluente do Rio ........................, nesta cidade e comarca.
Dita derivação, que se consubstanciou pela construção de uma pequena
barragem, foi realizada para fins agrícolas, eis que objetivava beneficiar uma
lavoura de arroz, situada na localidade de ........................,
"........................", ........................ - .....
Então, chamados a intervir, os agentes da polícia administrativa ambiental lá
compareceram, lavrando os documentos que instruem a presente Ação Civil Pública.
Assim, em 30 de novembro de 1993, um pelotão da Companhia de Polícia
Ambiental dirigiu-se ao local, lavrando em conseqüência o Boletim de Ocorrência
Ambiental n° .............., série A, cópia inclusa, descrevendo os fatos da
seguinte forma:
"Construção de represa, causando impacto ambiental, sem autorização do órgão
competente".
No campo destinado a "observações", ficou consignado o seguinte:
"O Sr. ............ construiu uma represa em um afluente do Rio
........................, para a plantação de arroz irrigado, a qual ocasionou o
assoriamento do referido córrego no terreno do Sr. ................., conforme
especifica o relatório que segue anexo".
Posteriormente, em 10 de fevereiro de 1994, agentes do IBAMA efetuaram nova
diligência "in loco", razão da emissão do auto de infração n° 111239, (cópia em
apenso) contra o Município de ........................, eis que ficou
evidenciado ser o aqui demandado o responsável pela dita derivação.
No campo destinado à descrição da infração, assim manifestaram-se os agentes
do IBAMA:
"Desmatar e assoriar, como também alterar curso d'água, represando o mesmo,
em A.P.P. (próximo a curso d'água), na localidade de "........................",
........................, município de ........................, área contida na
Mata Atlântica". O proprietário da referida área é o Sr.
........................, que se beneficiou com o "empreendimento", porém tal
agressão fora feita pela Prefeitura de ........................".
Ademais, conforme demonstra o incluso levantamento fotográfico, a obstrução
do normal curso das águas, vem ocasionando sensíveis alagamentos das
propriedades vizinhas.
Sucede que a disciplina legal da derivação de águas públicas, estampada no
artigo 43, c/c o artigo 53, do Decreto n° 24.643, de 10 de julho de 1934, que
instituiu o Código de Águas, foi, na hipótese vertente, inteiramente ignorada
pelo Município demandado.
Com efeito, conforme é clara dicção do artigo 53, do Código d'Águas, somente
será possível deferir ao particular o embaraço ao normal regime e curso das
águas públicas, mediante especial autorização por CONCESSÃO, em caso ou
relevante interesse público (artigo 43), formalidade inteiramente ausente no
caso sub studio.
Mesmo assim, como preconiza o artigo 45, do mesmo Código, o deferimento de
concessão ressalvará sempre os direitos de terceiros.
Por outro lado, a toda forma vegetação natural situada ao longo dos cursos
d'água está catalogada como de preservação permanente, por força do artigo 2°,
letra "a", do Código Florestal.
Então, quisesse o Município remover a dita vegetação, necessariamente deveria
contar com o aval do agente florestal, no caso do IBAMA, formalidade que o
demandado, ignorando por completo, deu causa a lavratura do incluso auto de
infração.
Não bastasse, o teor do Artigo 9°, Parágrafo 2°, do Decreto Estadual n°
14.250, que regulamente dispositivos da Lei n° 5.793, de 15 de outubro de 1980,
referentes à proteção e a melhoria da qualidade ambiental, impõe, em relação a
obras de construção e manutenção de canais, barragens, açudes e outras a adoção
de dispositivos conservacionistas adequados, a fim de impedir a erosão e suas
conseqüências, evidência que exige por si só, o licenciamento ambiental dos
empreendimentos dessa natureza, a cargo da Fundação do Meio Ambiente (FATMA).
Por derradeiro, além da classificação das águas estampada no Código de Águas,
o certo é que os rios estão catalogados como bem de uso comum do povo, nos
termos do artigo 66, I, do Código Civil.
Assim, na hipótese vertente, verifica-se clara prevalência de meros
interesses privados sobre aqueles adjetivados de públicos, eis que o Município
demandado, utilizando meios e recurso públicos, promoveu derivação ilegítima de
curso d'água, tão-só para beneficiar um único particular.
Ante o exposto, o Ministério Público Estadual requer:
1° - Com fundamento do artigo 12, da Lei n° 7.347/85, a expedição de mandado
liminar, para compelir o demandado Município de ........................ à
obrigação de fazer, consubstanciada na imediata desobstrução do afluente do rio
........................, removendo para tanto a barragem construída em terras
de propriedade de .............., sob pena de imposição de multa diária, em caso
de desobediência.
2° - Que afinal, tornada definitiva a liminar concedida, seja esta Ação Civil
Pública julgada procedente, para condenar os requeridos à obrigação de não
fazer, mais precisamente a abstenção de práticas que importem na privatização de
bem de uso comum do povo, na hipótese, as águas públicas do Rio
........................ e seus afluentes, nesta cidade e comarca.
3° - A citação do Município de ........................ e de
........................, para querendo, responderem os termos dessa Ação Civil
Pública.
Protesta-se pela produção dos meios probatórios, admitidos no texto da lei.
Dá-se à causa, para todos os efeitos, valor inestimável.
........................, ....... de ......... de ...........
..........................................
Promotor de Justiça