Declaração a uma fonoaudióloga
Querida doutora,
não deve ter sido a primeira vez que alguém perde a voz diante da sua presença,
mas a necessidade de passar-lhe uma mensagem que contivesse pelo menos a
essência do sentimento que eu passei a nutrir por você fez com que eu resolvesse
escrever-lhe este e-mail, pois embora o meu computador já esteja bem velhinho,
ainda não está gago.
Não sei se será definitivo esse distúrbio de fala que me acometeu e que, com
certeza, foi causado pelo impacto da sua beleza sobre a minha alma desprevenida.
Mas, de qualquer forma, eu gostaria de marcar uma consulta consigo, para ver se
você me dá alguma esperança, alguma chance de exprimir a paixão que brotou em
mim assim que eu te conheci. Caso eu não consiga falar, olhe bem nos meus olhos,
eles estarão falando por mim.
Se eu apenas gaguejar, tenha paciência, por favor. Parece que gagueira tem
cura, principalmente quando é de origem emocional, como a minha parece ser. Não
houve um filósofo grego que curou a sua própria gagueira exercitando a fala com
pedrinhas arredondadas na boca? Pois é, só não vá pedir para eu mastigar um
paralelepípedo, embora eu seja capaz de qualquer sacrifício só para conseguir
dizer-lhe como é grande esse amor que eu sinto.
Mas, se eu permanecer completamente mudo, catatônico, tente me acalmar, pois
você é a responsável direta pelo estado em que eu me encontro. Receite-me alguma
coisa, algum remédio, algum exercício, só não me mande lamber sabão, por favor!
Um beijo do
(assinatura)