Declaração de amor a uma feirante
(nome),
as pessoas que me conhecem melhor estão dizendo que o meu comportamento anda
muito estranho ultimamente, pois agora eu fico ansioso esperando pelo dia da
feira. Antigamente, quando eu era criança, todos entendiam como normal essa
expectativa, pois eu sempre gostei de um bom pastel de feira, daqueles fritinhos
na hora, com recheio de carne, queijo, palmito ou camarão. Mas agora, marmanjo e
barbado, ficam todos um tanto espantados quando me vêem sair penteado e
perfumado para ir à feira.
Ah, se essas pessoas tivessem a oportunidade de te conhecer: mudariam de
opinião na hora, pois você é a feirante mais graciosa que existe, e fica uma uva
naquele aventalzinho azul, justinho, amarrado na cintura.
Pra te ver, eu ando de um lado para o outro da rua, te olho por todos os
ângulos, compro coisas que não preciso, estico o pescoço para te enxergar melhor
por entre as cabeças das pessoas que circulam pela feira. Pra mim, ir a feira é
chegar próximo ao Paraíso, pois a visão de teu doce rosto me encanta e para ter
você eu seria capaz de provar todas as maçãs, todos os frutos proibidos (os que
Deus ainda não proibiu também não estão assim tão acessíveis, não é? Ô feirinha
cara essa em que você trabalha!).
Minha querida, estou apaixonado por esses seus olhinhos de jabuticaba e por
essa sua boquinha vermelha como uma cereja madura. Vê se olha para mim com um
pouquinho mais de atenção, porque o meu coração está mais machucado que aquele
pobre figo que eu vi pisado perto da sua barraca na semana passada.
Sabe aquela música que diz assim... "estou me sentindo um jiló"...? Pois é
exatamente assim que eu me sinto, amargo e murchinho, quando você não me dá a
mínima. Por favor, me dê uma chance (antes que eu fique velhinho e enrugado como
um maracujá de gaveta)!
Aceite um beijo carinhoso do seu freguês (ou melhor, fã) número 1,
(assinatura)