Ao mecânico aéreo
Meu querido,
afinal de contas você é um mecânico de avião ou um mecânico aéreo? Sabe por que
eu lhe faço esta pergunta? É porque às vezes você parece estar no mundo da lua,
e nem percebe o quanto eu tento chamar a sua atenção!
É... acho que você está aéreo demais para ser mecânico de avião, ou acho que
você pensa tanto em aeronaves que já nem sabe por onde anda aquele parafuso que
está lhe faltando na cabeça... Será que você não percebe que o avião que você
precisa consertar sou eu? Porque você não abandona um pouco esse hangar
barulhento e vem até aqui em casa fazer um check-down em todos os meus sistemas,
antes que o meu sistema nervoso se manifeste com a fúria de uma turbina?
Meu amor, eu sei que a sua profissão exige muita responsabilidade, pois céu
não tem acostamento e, portanto, se alguma coisa pifar não vai dar para o piloto
encostar o Boeing numa nuvenzinha qualquer até chegar o socorro, não é mesmo?
Mas, de qualquer maneira, vê se baixa um pouco a altitude do seu pensamento e dá
uma olhadinha aqui para a terra, bem na altura do seu nariz. Talvez, então, você
seja capaz de me explicar porque o meu piloto automático está sempre querendo
cruzar exatamente a sua rota. Quero dizer que estou lhe mandando esta cartinha
porque é a única maneira de você prestar atenção em mim, visto que você nunca
mais tirou esses protetores de ouvido e, portanto, há muito tempo não escuta o
que eu falo!
Vê se abandona um pouco essa oficina barulhenta e dá um pulinho aqui, no meu
banco de provas!
Um beijo da
(assinatura)