Nada mais chato na vida do que se ter um trabalho chato, cercado de pessoas
chatas e principalmente ser “liderado” por um chefe chato! Isso pode até matar,
sabia? No ano passado uma pesquisa realizada por especialistas ingleses do
College of London descobriu que um contexto de trabalho nessas circunstâncias
pode provocar ataque cardíaco!
Em termos de gestão de pessoas, são muitos os fatores que podem produzir a
chatice no trabalho e eu não teria aqui espaço suficiente para falar de todos
eles num só artigo. Vou dedicar-me a um só ponto, justamente o mais importante e
decisivo para o clima interno: a chefia.
Neste sentido, a chatice no trabalho começa quase sempre devido à tão inabalável
quanto despropositada crença que alguns “chefes” possuem e manifestam a respeito
do seu chamado “poder”. E por causa dele mostram-se diariamente grosseiros,
autoritários, centralizadores e exibidores de outros predicados muito pouco
relacionados com as modernas teorias sobre liderança, motivação, produtividade e
condução de pessoas. Olhando apenas para o próprio umbigo, esses “donos da
verdade e das vontades” se arvoram em privilegiada autoridade à qual toda a
equipe deve se submeter, sem contestações. Resultado disso? Pessoal desmotivado,
aumento dos processos trabalhistas com a alegação de assédio moral, elevado
absenteísmo e altíssimo turn over . Ao mesmo tempo, horários são rigidamente
controlados – desde o da pausa para o cafezinho ao da ida ao banheiro, onde
aqueles “gestores” acreditam que há um tempo médio e máximo de permanência. Ou
seja, os colaboradores que estiverem com desarranjo intestinal poderão
adicionalmente ter também problemas disciplinares por ultrapassarem o tempo de
tolerância permitido no toalete. E os gritos, acompanhados de perdigotos? E as
cobranças e olhares ameaçadores? E a falta de atenção, de “bom dia, boa tarde,
como foi seu fim de semana, obrigado, com licença, por favor, parabéns?”.
Eu fico me perguntando se essas pessoas já ouviram falar em qualidade de vida e,
se já, o que pensam dela. Pergunto-me que prioridades essas pessoas dão às suas
vidas - trabalho, família, amores, sonhos, diversão, saúde. Certamente todo
resultado que atingimos na vida nos cobra um preço. A questão é avaliar sempre:
vale a pena? Por este resultado que vou obter, compensa pagar esse preço?
Compensa ultrapassar as metas e conviver com uma equipe ressentida, desmotivada,
emocionalmente doente e que não vê a hora de trocar de barco na primeira
oportunidade? E na vida pessoal? Que preço essas pessoas estão pagando nas suas
relações pessoais e familiares em troca de um polpudo saldo em conta corrente ou
na aplicação?
Tenho sempre repetido que não é de bom senso permitir que nossa felicidade
dependa de fatores sobre os quais não temos nenhum poder de decisão. Dê o melhor
de si no seu trabalho, com ética e profissionalismo – mas não perca de vista que
ele não é tudo na sua vida. Ao encerrar o expediente, deve haver um outro mundo
à sua espera: família, bons amigos, boas diversões, afetividade, arte, cultura,
passeios.
Se você conseguir fazer com que as perspectivas dessa segunda etapa do dia (após
o expediente de trabalho) sejam altamente compensadoras, você, durante o
trabalho, estará sempre com um sorriso nos lábios, antecipando os prazeres que
terá depois de uma inevitável, mas desnecessária e absurda jornada de chatice.
Você até descobrirá que há gente e coisas boas no seu ambiente de trabalho, até
então imperceptíveis.
No mínimo, tente - não seja chato.