Suas ações já sofreram algum ajuste em virtude de grupamento ou
desdobramento? Caso você já tenha notado um número diferente de papéis ao abrir
seu home broker, porém sem alteração no valor financeiro total, não ocorrendo
lucro ou prejuízo, provavelmente a empresa em questão realizou este tipo de
operação. A base acionária pode ser alterada caso ocorra esses eventos, contudo,
o investidor não perde.
Algumas empresas realizam estas operações em conjunto, como no caso da CPFL
Energia (CPFE3), que anunciou grupamente seguido de desdobramento em julho deste
ano. Primeiramente, a empresa fez o grupamento das ações visando melhorar a
gestão de sua base acionária, como informou Lorival Nogueira Jr.,
vice-presidente financeiro e de relações com o mercado investidor da CPFL. Uma
avaliação identificou um número expressivo de investidores inativos e sem
identificação, resultado dos processos de migração de minoritários de empresas
controladas do grupo para a CPFL Energia realizados nos últimos anos. De acordo
com Lorival Jr., a maioria desses investidores possuía menos de 10 ações ou
apenas 1 ação.
Finalizado o grupamento, a companhia iniciou a operação de desdobramento das
ações ordinárias, com o objetivo de deixar suas ações com um valor unitário mais
acessível e reduzir o valor do lote padrão (de 100 ações), o que favorece maior
acesso de acionistas pessoas físicas e pequenos investidores. Segundo o analista
Harold Thau, sócio da Técnica, as companhias buscam uma faixa de preço negociada
por praticamente 70% das empresas brasileiras, que estão cotadas entre R$ 10,00
a R$ 40,00 por ação.
Como efeito da operação, foi observado um maior volume de compras das ações,
como já era aguardado pela companhia, que tinha o objetivo de promover o aumento
da liquidez dos papéis através da diminuição do tíquete médio do lote-padrão.
Ainda no caso da CPFL, a companhia realizou um grupamento de ações de 10 para
1, simultaneamente a um desdobramento, na relação de 1 para 20. Na prática, ao
final da operação, cada ação foi divida em duas. Assim, com o papel que antes
era cotado na faixa de R$ 44,00, o investidor precisaria de uma aplicação de R$
4.400,00 para realizar a compra de um lote padrão. Diante disso, atualmente, ele
precisa em torno de R$ 2.200,00 para realizar a mesma compra.
Esse tipo de operação muda a percepção do investidor?
De acordo com Harold, uma empresa só deve realizar esse tipo de operação
seguindo alguns questionamentos sobre o mercado acionário. “O investidor está
tendo acesso ao lote padrão? O preço está na média do mercado?”, diz. As
companhias precisam ter essas perguntas em mente antes de praticar alguma
movimentação.
“Se você já tem um padrão de negociação em bolsa, só deve alterá-lo se uma
dessas variáveis estiver indicando que deve ocorrer uma mudança. Caso contrário,
o acionista pode perder sua referência desse valor de negociação”, disse Harold.
Além disso, se as empresas realizam muito essa operação, podem também aumentar a
desconfiança do mercado, complementou Eduardo Paiva, professor de Finanças da
Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Mas o que é desdobramento?
As empresas normalmente buscam o desdobramento para aumentar a demanda pelas
ações e, consequentemente, seu preço. Após a elevação contínua do preço de uma
ação, o montante necessário para o investidor adquirir os papéis pode ficar
elevado. Como na BM&F Bovespa a negociação em regra é em lote padrão de 100
ações, o investimento mínimo necessário para a aquisição dos papéis será o
resultado da multiplicação do preço unitário da ação por 100.
Assim, se uma ação for cotada a R$ 30,00, serão necessários no mínimo R$
3.000,00 para fazer a aplicação. Para melhorar a liquidez das ações, as empresas
realizam este tipo de operação. Com isso, cada ação pode ser transformada em
duas, três, quatro, ou mais, reduzindo o preço unitário dos papéis e,
consequentemente, o investimento mínimo exigido pelo lote padrão.
Diante disso, normalmente o desdobramento pode vir a ser positivo para o
valor de mercado da empresa porque ele acaba levando a um menor investimento
mínimo - que é estipulado pelo lote padrão - o que, por sua vez, atrai ainda
mais investidores. Logo, a maior procura pelos papéis eleva o preço dos mesmos
e, em decorrência disso, o valor de mercado da companhia também aumenta. É
importante ressaltar, porém, que, além da opção de lote padrão, o investidor
também pode optar pela compra de papéis no mercado fracionário.
Além disso, Eduardo Paiva lembrou que no período em que o Brasil sofria com
uma inflação altíssima, o desdobramento de ações se tornou mais comum. Em
consequência desse cenário, o valor nominal da ação aumentava constantemente e,
com isso, as empresas desmembravam com maior frequência as ações para voltarem a
um patamar mais atrativo.
E grupamento de ações?
Por sua vez, as companhias realizam grupamento em reflexo de uma queda
acentuada do preço de uma ação, fazendo a cotação chegar a centavos. Esta
situação traz volatilidade excessiva para os papéis. Com o objetivo de minimizar
esta volatilidade, a administração pode propor uma redução da base acionária.
Além disso, lembra Harold, uma empresa que possui uma ação cotada a menos de R$
1,00, por exemplo, pode ser mal vista pelo mercado, mas “nem sempre isso é uma
verdade”. É importante observar também se ela tem boa geração de caixa e bom
valor patrimonial, afirma.
Dessa forma, a empresa realiza o grupamento para melhorar a liquidez de suas
ações, reduzindo assim a volatilidade dos papéis. Por exemplo, uma ação que
custa R$ 4,00, caso haja uma oscilação de R$ 0,25, esse papel sofreria uma
variação de 6,25%. Contudo, esta mesma oscilação em uma ação que custa R$ 20,00,
representaria uma variação de 1,25%, ou seja, cinco vezes menor.