Encontrar tempo para conciliar uma atividade profissional com estudos e lazer
é um grande desafio para milhões de brasileiros. E quando se trata de tempo para
conciliar um trabalho como empregado e a gestão de um empreendimento
simultaneamente? Aí o contexto inspira ainda mais atenção.
Para a diretora da empresa Human Value Consultoria, Treinamento e
Desenvolvimento, Meiry Kamia, antes de pensar em administrar um negócio próprio
paralelamente a uma atividade como funcionário, o profissional deve ter em mente
aonde ele quer chegar. “Porque só dessa forma é que ele conseguirá dimensionar
até onde sua empresa poderá ir, quanto tempo dedicar, quais suas metas,
objetivos e quanto de tempo e recursos a corporação vai absorver”, explica.
Mesmo que o negócio próprio seja visto por muitos como possibilidade direta
de incrementar a renda e melhorar o orçamento pessoal ou familiar, a consultora
recomenda que o lado financeiro não seja o primeiro aspecto a ser levado em
conta na hora de abrir um negócio que será administrado paralelamente a uma
atividade profissional. “Quando você coloca a condição financeira acima de todos
os outros aspectos, não consegue fazer boas escolhas na gestão do tempo, na
organização de uma equipe, se perdendo em questões mais operacionais”, alerta
Meiry.
Dentro desse planejamento inicial da empresa, devem constar questões sobre
perspectiva de crescimento, tempo que será dedicado ao empreendimento e
prioridades. “Pode-se chegar em um ponto em que a pessoa ficará exausta e, se
não for um negócio que proporcione satisfação e que tenha relação direta com o
projeto de futuro dessa pessoa, dificilmente a administração do projeto será
compatível com sua rotina”, destaca.
Além disso, cada caso conta com suas particularidades, lembra Meiry. “Existem
casos de empresas que demandam atividade exclusiva do funcionário ou que
requerem tanto tempo que inviabilizam a conciliação de outra atividade. Por
outro lado, os profissionais liberais e autônomos ou os empresários que vivem de
gerir diferentes negócios podem dispor do tempo para se dedicarem a outro
projeto”, exemplifica.
Sucesso
A fonoaudióloga Daniela Shayeb superou os obstáculos que se colocam no
caminho de alguém que trabalha para uma empresa e empreende ao mesmo tempo.
Inaugurou em dezembro de 2007 uma franquia da empresa de nuts glaceadas (como
nozes, amêndoas, avelãs e castanhas) Nutty Bavarian, em um shopping de Bauru, no
interior paulista, conciliando suas atividades com a atuação em um hospital da
região.
“Quando comecei a trabalhar na área de saúde, sempre quis fazer outras
atividades fora do hospital. Tentei outros caminhos, outras empresas e acabou
não dando certo. Quando tive a oportunidade de tirar férias, estudei e instalei
a franquia da Nutty Bavarian, usando o mês para compreender o funcionamento, o
sistema para compra de insumos, atendimento a clientes e gestão operacional”,
conta.
A opção por franquia se deu pela falta de conhecimento específico sobre
gestão de empresas. A partir da replicação de um modelo já conhecido, Daniela
conseguiu com mais facilidade o know-how da área e o conhecimento para implantar
o negócio.
O início não foi fácil, lembra a franqueada. “Mesmo depois do treinamento
inicial, haviam alguns problemas. As funcionárias me ligavam muito ao longo do
dia com problemas relacionados a clientes, custos, eu tinha que resolver de
alguma forma. A medida que o tempo foi passando, e a equipe se familiarizou com
as rotinas, a situação foi ficando mais controlada”, lembra Daniela.
Hoje, Daniela consegue conciliar as duas realidades profissionais, que,
admite, consomem grande parte do seu tempo. “Mas é extremamente enriquecedor
atuar nas duas áreas, porque estou como funcionária em uma instituição e como
chefe do outro lado. São experiências que, embora sejam bem diferentes, me
proporcionam um grande aprendizado e várias lições sobre administração, rotinas
e, principalmente, pessoas”, valoriza.
Comunicação
Ao mergulhar em uma nova atividade, a fonoaudióloga optou por não omitir
informações no hospital em que atuava, mas também não compartilhou as
informações. “Como consegui administrar minha função dentro do hospital, não
precisei me preocupar em negociar com o hospital a condição de manter a empresa
paralelamente. Minha dica a quem quer fazer o mesmo é buscar o ponto de
equilíbrio para não comprometer a atuação dentro da organização”, sugere.
Meiry Kamia recomenda o uso do bom senso para administrar a situação. “Existe
uma questão ética, além do próprio tempo de dedicação que o empreendimento vai
tomar do funcionário. É necessário se estruturar, organizar, assumir os riscos e
ter sempre em mente o principal foco”, ressalta.