Pânico! Tirei férias e quando voltei minha cadeira pertencia a outra pessoa
Muitos psicólogos, especialistas em RH e gestores de pessoas insistem em dizer
que não se deve temer as férias para garantir o emprego. Porém, a realidade é
outra. O medo das férias ainda assusta muita gente, principalmente os que
conseguiram subir alguns degraus da pirâmide corporativa.
Em conversa com alguns executivos de baixo, médio e alto escalão, pude observar
que nenhum tira os 30 dias corridos de férias durante um período de 12 meses de
trabalho, como prevê a legislação trabalhista brasileira. Todos, sem exceção, se
desligam por uma semana ou, no máximo, 15 dias – esses são mais raros. Porém,
nenhum admite que é por medo de perder o posto de trabalho. Por outro lado,
estudos revelam que quanto mais alto o executivo está na pirâmide corporativa
mais difícil é uma recolocação, caso haja o imprevisto de demissão. Essas
pesquisas mostram também que um dos medos – aliás, para a maioria dos executivos
– é que decisões importantes podem ser tomadas dentro das corporações durante
sua ausência. Para eles, não participar dessas decisões seria uma grande perda.
Tirar uma semana de férias, esse é o tempo ideal, de acordo com a maioria dos
executivos. O cansaço e a cobrança da família forçam um período curto de
afastamento das atividades diárias. Mas, a competição do mercado, a concorrência
interna, entre outras exigências, pesam na decisão do executivo sobre qual o
melhor período para gozar alguns dias de descanso. Mesmo assim, quando vêm as
férias, a chavinha não é desligada. O executivo leva a tiracolo o notebook, o
celular e, às vezes, um pendrive com todos os arquivos do escritório para, nas
horas de “folga” das férias, continuar trabalhando.
Isso faz bem para a saúde? É claro que não! Mas, eles não têm escolha. Um amigo
executivo sempre me pergunta “qual é o seu plano B?” e afirma que todos temos de
ter este plano. Executar um plano B para os profissionais com salários de alto
escalão, mantendo o mesmo nível, é bem mais difícil do que para os que têm
salários menores. Essa neurose é sentida em todos os ambientes corporativos de
médio e alto escalão. Na parte inferior da pirâmide, lá na base, a situação já é
diferente: as férias são de 30 dias e bem gozadas.
Na opinião de alguns profissionais de alto escalão, os funcionários de áreas
operacionais são facilmente substituídos durante as férias, diferentemente do
alto executivo. Ninguém faz o trabalho dele durante sua ausência. Quando volta
das férias, há trabalho acumulado. É um dos motivos para não tirar um período
longo de descanso. Até tem lógica!
É claro que todo esse pavor das férias não deveria existir. O profissional não
precisaria temer se ausentar para o seu merecido descanso. Geralmente, as
demissões não acontecem por causa das férias e sim por outros motivos como
redução de custos, mudanças estratégicas, ou até mesmo por causa do desempenho e
histórico do profissional. Se ele tiver de ser demitido, não serão suas férias
que vão segurá-lo no cargo. Às vezes o profissional é tão competente que chega a
ser uma ameaça ao seu chefe e isso poderá provocar o seu afastamento. É fato!
Aconteceu com um executivo próximo a mim que, ao voltar das férias, encontrou
sua sala já ocupada por outra pessoa. Sem justificativa, ele havia sido
dispensado.
Mesmo assim, o acontecido é um fato isolado. Todos precisam tirar férias sim,
independentemente das razões que levam a decisões contrárias. Os motivos para
isso vão além do ambiente de trabalho. Nas grandes metrópoles é comprovado que
os níveis de estresse aumentam por causa da violência, do trânsito e da
velocidade das informações que chegam pelos veículos de comunicação e que
influenciam diretamente no mercado corporativo. O profissional deve se valer do
bom senso e entender que as férias renovarão suas energias, seu bom ânimo e sua
capacidade de discernimento na tomada de decisões, melhorando sua produtividade
e trazendo resultados para a sua corporação. É claro, além de proporcionar
melhor qualidade de vida.
Da mesma forma isso vale para alertar o empregador. É fundamental cuidar do
principal capital de sua empresa, o “capital humano”. Grandes corporações já
reconheceram que o profissional, uma vez satisfeito, desempenha muito melhor
suas atividades – o que equivale a resultados positivos. As férias são uma forma
de cuidar do capital humano. Isso é gestão de pessoas.