Quem nunca se deparou com uma promoção que garante o direito
de disputar sorteio de um prêmio, como um carro zero quilômetro, por exemplo, ao
se gastar tantos reais em compras no cartão de crédito? Promoções do tipo são
muito comuns, principalmente em épocas como a de agora: o Natal.
Fica a pergunta: vale a pena aproveitar essa facilidade? Ricardo Humberto,
professor do laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração
(FIA), da Universidade de São Paulo (USP), alerta tanto para as probabilidades
de ganhar o prêmio quanto para as condições que a administradora do plástico
concede aos clientes.
Fidelização
"O que os consumidores precisam entender é que essa é uma estratégia para
fidelizar clientes: a empresa lança uma vantagem e faz com que a pessoa compre
com sua bandeira", explicou.
A probabilidade de ganhar a promoção, explicou, é difícil de calcular. Cada
administradora possui um número de concorrentes e uma quantidade de prêmios -
que normalmente não são divulgados. Mas, avaliou Humberto, o consumidor deve
levar em consideração que a possibilidade de comprar R$ 50 com determinado
plástico e sair com uma casa novinha é extremamente baixa.
Propensão ao jogo
"Existe uma grande propensão marginal do ser humano a jogar. E isso é bíblico,
milenar. Normalmente as pessoas não pensam racionalmente, acreditam apenas que
alguém vai ganhar e que esse alguém pode ser ela mesma", alertou.
Mas, se a pessoa vai efetuar a compra de qualquer jeito, qual o problema de
optar por pagar com aquele cartão que oferece sorteios? Para esclarecer essa
questão, o docente utilizou o seguinte exemplo: supondo que o consumidor tenha
duas bandeiras diferentes: a X e a Y. Comprando pela primeira, ele concorre a um
carro, enquanto a segunda não oferece qualquer vantagem do tipo.
Normalmente, a primeira atitude dessa pessoa é sacar da carteira o plástico que
lhe dá a possibilidade do prêmio. No entanto, é preciso avaliar quais as
condições de ambos os cartões. "Se o cartão X tem piores condições de pagamento,
mais juros, compensa comprar no outro e esquecer a promoção. Exatamente porque é
difícil ganhar nessas situações", explicou.
Humberto adicionou que os consumidores precisam, antes de qualquer coisa,
avaliar o que é melhor para o bolso. "Deve-se levar em consideração a compra em
si, desconsiderando as outras ofertas. Isso porque a pessoa está indo fazer uma
compra, e não comprar um bilhete de loteria", adicionou.
Mega-sena
Como exemplo dessa análise, Humberto utilizou o jogo da Mega-Sena. "Se as
pessoas pensassem racionalmente, não jogariam", afirmou, detalhando que as
chances de se levar o prêmio são praticamente nulas (a chance de um apostador
que fez a aposta mínima acertar os seis números é uma em mais de 50 milhões).
"Jogando R$ 1,50 é praticamente impossível. Mas por que as pessoas jogam? Porque
dá uma sensação de bem-estar imaginar-se com aqueles R$ 15 milhões nas mãos",
finalizou.