Há muito tempo convivo com uma inquietação que me leva constantemente a
repensar os modelos de gestão existentes no mundo corporativo. Tenho observado
que, com o passar do tempo, as empresas passam a investir muito mais em seus
processos seletivos, em que verdadeiros "experts" na área de Recursos
Humanos tentam identificar pessoas dotadas de um portfólio composto de notáveis
competências que venham agregar de forma significativa o dia-a-dia empresarial.
Essa tentativa de melhorar a formação de equipes, trabalha, na maioria das
vezes, com recrutamentos demorados, estruturados em diversas etapas e que
envolvem uma série de recursos. Forma-se uma banca examinadora, montam-se
avaliações escritas, dinâmicas de grupos são criadas e softwares são
utilizados com a intenção de analisar a postura dos candidatos frente a
situações que ocorrem no cotidiano dessas empresas.
Esse processo acaba sendo algo complexo, mas que de certa forma cumpre o seu
papel. Porém, após a contratação de pessoas com experiências fantásticas em seus
currículos e que são comprovadamente competentes, os gestores se deparam com um
enorme problema e que muitas vezes não são capazes de solucioná-los. Por que uma
equipe tão bem estruturada, composta de pessoas talentosas, nem sempre
apresentam os resultados esperados? Muitas vezes este questionamento permeia por
longos períodos e, por mais engajamento que se tenha, a resposta demora a
aparecer.
Tenho desenvolvido de forma frequente um trabalho de investigação a respeito
deste assunto e posso garantir que não existe uma receita pronta a ser seguida.
É necessário que seja analisado cada caso, pois o diagnóstico pode variar de
organização para organização.
Em algumas situações encontramos equipes não tão maduras; em outras, as
pessoas que foram contratadas não conhecem tanto os aspectos técnicos que
norteiam a atividade, porém, o que mais se observa são processos de gestão
ineficazes em que o potencial de cada indivíduo deixa de ser aproveitado da
forma como deveria. Falta "feeling", foco e acompanhamento.
As pessoas, por mais competentes que sejam, precisam ser guiadas, conduzidas
continuamente. Precisam se reportar a alguém que verdadeiramente conheça o
negócio de forma holística e consiga trabalhar as habilidades de cada ser humano
em prol de um objetivo comum.
E aí está o problema. As empresas ainda pecam bastante no processo de
formação de gestores, principalmente as empresas de maior porte que possuem
unidades de negócio pulverizadas em um vasto território geográfico.
É imprescindível a percepção de que o gestor não deve ser aquele que já está
há muito tempo na casa e nem tão pouco aquele que conhece com propriedade apenas
os aspectos técnicos que envolvem o negócio. O processo de gestão precisa ser
trabalhado e o viés de preparação passa pelas pessoas que irão ficar à frente
dessas unidades. No portfólio de competências devem-se destacar os aspectos
técnicos, comportamentais, de liderança e, principalmente, a capacidade de fazer
com que as coisas aconteçam.
E neste sentido, faz-se necessário entender que ninguém nasce pronto para o
processo de gestão, as pessoas precisam ser trabalhadas, aprimorar as
competências que já possuem e desenvolver outras que ainda não são tão
afloradas. Há que se ter uma boa dose de habilidade para entender de gente, para
entender de sonhos.
Analisando sob esta ótica e olhando ao nosso redor, percebemos claramente o
quanto as empresas precisam melhorar para tornarem-se mais competitivas. É
preciso entender que resultado é algo extremamente importante, mas que não se
faz apenas com pessoas talentosas trabalhando em um mesmo ambiente. O resultado
é uma consequência de profissionais talentosos trabalhando juntos, de forma
assíncrona e com um objetivo em comum.
É necessário deixar muito claro para as pessoas o papel delas junto à
organização, caso contrário, dificilmente as empresas conseguirão manter
profissionais talentosos trabalhando muito tempo em suas corporações, até porque
gente de talento cria expectativas acerca do seu trabalho, e a partir do momento
que essas expectativas não são correspondidas, a consequência natural pode ser a
frustração.