Dívidas / Endividado ? - Especialistas alertam para consumidor ter cuidado com as dívidas
Juros, financiamento, parcelas e empréstimos são palavras de fazem parte da
vida do brasileiro. Em um país em que o salário mínimo ideal seria de R$
2.025,99, mas é de R$ R$ 415,00 (de acordo com cálculo do Dieese baseado na
cesta básica mais cara do País, em Porto Alegre) é difícil encontrar alguém que
nunca tenha pago o valor mínimo do cartão de crédito ou ainda utilizado o limite
do cheque especial. Segundo o Banco Central, mais de 80 milhões de pessoas
físicas e jurídicas (empresas) têm dívidas no País.
O valor tomado em empréstimos já é o maior de uma década: mais de R$ 1 trilhão.
A maior parte dessa dívida é feita em empréstimos pessoais, de acordo com o BC;
em seguida vêm o financiamento do carro e as compras no cartão de crédito. O
radialista Jorge*, 46, está entre os endividados. Ele levou um susto quando
chegou a desembolsar R$ 200 só de juros quando pagou só o valor mínimo do cartão
de crédito.
“Eu recebi a futura em um mês de R$ 716 e no outro já passava de R$ 900”,
lembra. O exemplo do radialista é também o do que não se deve fazer. Ele
contratou ao mesmo tempo cinco cartões de crédito, estimulado pelas facilidades
e ausência de anuidade. Depois disso, emprestou boa parte de seu limite a amigos
e familiares. Resultado: a dívida se transformou numa bola de neve quando os
devedores começaram a faltar com o dia do pagamento.
Após acréscimos de juros altos e renegociações com as operadoras de cartão de
crédito, ele está conseguindo pagar a dívida – que somada já chegou a R$ 3 mil -
utilizando o dinheiro de trabalhos extras. E garante que aprendeu a lição.
“Agora vou ter dois cartões, no máximo, e sempre pagando em dia”, promete.
Planejamento - Por causa de casos como o de Jorge, os especialistas consultados
pela reportagem batem na mesma tecla: nunca compre mais do que pode pagar e
planeje bem o seu orçamento. “Antes de comprar um produto, se pergunte se
precisa mesmo dele. Se precisa, pergunte se tem que ser agora, ou pode adiar; e
se, por fim, tiver que comprar, pergunte qual é a melhor forma de pagar, dentro
da sua realidade”, aconselha o professor e consultor de finanças pessoais Ângelo
Guerreiro Costa.
Segundo Costa, se a forma escolhida for à vista, o consumidor fez a melhor
opção. Do contrário, na hora de partir para o financiamento, um cuidado é
indispensável: avaliar a taxa de juros, e não apenas o valor da parcela. Além
disso, não há mistério, o único jeito de evitar o endividamento é mesmo
adequando os gastos ao salário.
“Recomendo que se faça um modelo simplificado de orçamento com aquilo que entra,
as despesas e o saldo disso. Se o saldo for vermelho, que ele nem sonhe em
comprar nada. Se for positivo, deve tomar um empréstimo ou comprar um bem de
forma que a parcela caiba no seu orçamento”, ensina.
O consultor lembra ainda que o grande vilão do endividamento é o cheque especial
– valor à disposição do cliente de conta bancária. “A única vantagem é que você
só paga pelo tempo que consumir, então deve ser usado somente para uma
emergência”, explica.
Para o coordenador de acompanhamento conjuntural da Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia, Luiz Mário Vieira, a maior parte das dívidas
surge com a falta de planejamento. “O brasileiro faz as coisa por impulso, a
educação financeira evitaria muitos problemas para as famílias”, opina. Ele
reforça que as compras parceladas em longo prazo podem “enganar” o consumidor.
“O consumidor brasileiro não sabe o custo do dinheiro, a preocupação maior é com
o valor da parcela, especialmente se o prazo for maior. Com isso, provavelmente
compra um bem e paga por dois”, alerta o especialista. Ele garante que, se a
lógica for eleger o menor dos males, o eleito é mesmo o crédito consignado
(descontado em folha de pagamento).
Geralmente concedido por bancos a funcionários públicos ou com emprego estável,
o crédito consignado tem as menores taxas de juros porque também tem baixas
taxas de inadimplência, já que a parcela tem de ser inferior a 30% do salário, e
o desconto é feito direto em folha.
O consultor Ângelo Guerreiro Costa garante ainda que, em alguns casos, é
vantajoso trocar uma dívida por outra, e recomenda a manobra para fugir de
enrascadas maiores. “É importante buscar trocar dívidas caras e de curto prazo,
por dívidas mais baratas e de prazo maior. O segredo está em embutir a parcela
no orçamento”, ensina.
Para isso, por exemplo, quem se endividou com o cheque especial – que cobra
juros de até 12% ao mês – pode recorrer a um crédito pessoal, e baixar essas
taxas para até 3%.
Justiça - Segundo a diretora de Fiscalização do Procon, Bárbara Lima, o
consumidor deve pensar bem antes de adquirir uma dívida, pois, uma vez aceitas
as condições do contrato com a loja ou financeira, não é possível voltar atrás.
“O Procon só pode ser acionado se houver descumprimento do que foi combinado, ou
falta de informação”, explica.
O que pode acontecer, explica, é, quando o consumidor tem uma dívida arrolada
por muitos meses, ela ser negociada judicialmente. “Aí a Justiça pode decidir
que sejam baixados os juros, mas o Procon não pode decidir sobre isso”, informa.
Desde 2003, o Banco Central deixou de impor limites para a cobrança de juros
pelos bancos e financeiras. “O Procon não pode decidir o que é justo, agora isso
cabe ao consumidor”, completa.
Bárbara Lima chama atenção, entretanto, para a clareza das transações
financeiras de qualquer tipo. “Em toda compra deve ser informado ao consumidor o
valor total e quanto ele paga de juros no final, o que chamamos de custo efetivo
total”, diz. Caso ache que foi lesado no direito de saber as reais condições da
compra que efetuou, assim como o valor de eventuais multas, o consumidor pode e
deve recorrer ao Procon.
Referência:
atarde.com.br
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