Atire a primeira pedra o profissional que nunca, em algum dia de trabalho,
obteve um rendimento abaixo do esperado em suas atividades.
A verdade é que existem alguns dias que parece que acordamos com o "pé
esquerdo" e não conseguimos render exatamente aquilo que somos capazes. Mas, o
problema é quando esse dia passa a ser uma constante na vida do profissional e a
queda de produtividade começa atrapalhar e interferir completamente na rotina da
pessoa, dentro do trabalho e fora dele.
Motivos para esse marasmo improdutivo podem ser os mais variados. De acordo
com a diretora executiva da SimGroup, Sueli Brusco, que é especialista em
psicologia comportamental e automotivação, esses fatores podem estar vinculados
diretamente às atividades exercidas pelo profissional na empresa. "Os motivos
podem ser devido à gestão (liderança), ausência de metas, de transparência, e de
falta de reconhecimento da equipe".
O consultor Carlos Contar, da Business Partners Consulting, aponta outras
razões que também atrapalham o desempenho. "Os vilões no rendimento de um
funcionário podem estar vinculados a falta de foco na atividade e do pleno
entendimento de sua missão dentro da estrutura da própria organização. Além
disso, podem estar ligadas ao relacionamento interpessoal com os colegas de
trabalho".
Por outro lado, há aspectos ligados ao próprio colaborador que, por estarem
passando por algumas patologias ou problema pessoal, podem prejudicar esse
rendimento. "Muitas vezes temos problemas em áreas de nossa vida, como a
financeira, intelectual, emocional, relacionamento familiar, relacionamento
íntimo, ou lazer e acabamos direcionando essas outras insatisfações para área
profissional" indica Daniela Lago, consultora em Recursos Humanos e professora
em cursos de MBA da FGV.
E agora, como melhorar meu rendimento?
Especialistas e consultores em gestão pessoal, entrevistados pelo Portal
Administradores, são unânimes em dizer que o profissional que passa por uma
situação de rendimento abaixo do esperado nas tarefas, antes de tudo, deve
buscar identificar qual é o problema que o atinge, para então, tomar a
iniciativa na resolução do que causa essa constante improdutividade.
"Conheci várias pessoas que clamavam por ajuda e não eram ouvidas. Então elas
reclamavam e não faziam nada para reverter a situação. Colocavam a culpa no
chefe, na empresa, na cultura, no país. Passavam o dia olhando somente os erros
dos outros e culpando todos pelos seus problemas. Nesses casos, se deve primeiro
pensar por que isso está acontecendo. Será que é somente o trabalho ou existe
outra área de sua vida que não está bem?", relata a consultora em Recursos
Humanos, Daniela Lago.
Para a psicóloga comportamental Sueli Brusco, a dica é fazer um check-up
pessoal para avaliar as habilidades e ter em mente como o empenho gerou tais
resultados negativos. "A auto avaliação é uma maneira de perceber as nossas
falhas, os pontos fracos e fortes quando desejamos superar barreiras. Sem essa
auto análise, os erros podem persistir, ou os resultados virem com muito
desgaste".
A busca pelo retorno à produtividade pode estar também ligada diretamente a
motivação e auto estima do profissional. Às vezes, uma reciclagem como cursos,
especializações e novas atualizações para a carreira, pode ajudar a elevar o
rendimento no trabalho. "Por isso, o profissional deve estar sempre em busca de
mais conhecimento e de aperfeiçoamento, além de outras ações que o motivem para
desempenhar seu papel dentro da organização", destaca a consultor Carlos Contar,
da Business Partners Consulting.
Mas quando se perceber que o problema da má produtividade é de cunho pessoal,
falar com o chefe pode ser uma boa saída. "Converse com seu líder para que, se
necessário, possa tirar uns dias de folga para resolver. Somos seres humanos,
passíveis de erro e não é sempre que conseguimos entrar na empresa e 'desligar'
dos problemas pessoais", relata a consultora Lago.
Estresse, o vilão invisível
O excesso de cobrança no trabalho, carga excessiva de atividades, prazos
cursos, nível de instabilidade no emprego e a competição exagerada no ambiente
corporativo, geralmente, fazem parte da vida dos profissionais e, em algumas
situações, até funcionam para ampliar a capacidade de adaptação da pessoa no
trabalho. Só que essas exigências podem afetam o ritmo físico e psicológico do
indivíduo, gerando as chamadas "doenças de trabalho".
O estresse é um dos problemas mais comuns nesses casos e que também se torna
um vilão quando o assunto é produtividade. Além de afetar o rendimento, esse mal
pode ser percebido pela manifestação de alguns sintomas físicos: como fadiga,
dor no pescoço e na cabeça, irritabilidade, sensação de angústia, insônia, falta
de concentração e dificuldades na visão.
Para a especialista Sueli Brusco, "o estresse deve ser combatido desde os
níveis iniciais, quando ele ainda não está comprometendo o desempenho. Quanto
mais tarde deixar para tratar qualquer patologia, mais visível ela pode se
tornar diante da equipe e causar um ambiente desfavorável na produtividade e
junto aos colegas de trabalho".
Fernando Montero, Diretor de Operações da Human Brasil, empresa especializada
na seleção e recrutamento de talentos, recomenda e destaca quatro fases para o
funcionário seguir em momento de estresse. "Analise e conheça o que ocorre, tome
a iniciativa (re) definindo objetivos, planeje a rotina de tarefas e, siga o
plano (pré)-estabelecido".
E desorganização, influencia no rendimento?
Acúmulo de papéis, mesa desordenada, dificuldade na localização de documentos
no momento necessário. Segundo a professora em cursos de MBA da FGV, Daniela
Lago, a desorganização influencia sim no rendimento e esse pode ser o grande
problema de perca de produtividade para muitos profissionais. "A organização de
suas atividades contribui, definitivamente, para que o funcionário seja
produtivo, afinal ele organiza seu tempo para as tarefas, planeja e faz com
antecedência aquilo que é de sua responsabilidade. Vale ressaltar que apenas ser
organizado ao planejar suas atividades não basta, é preciso partir para ação e
gerar resultado".
O coach Carlos Contar relata que "o profissional mais organizado possui uma
maior noção de prazos, tarefas a serem feitas e seus respectivos impactos, bem
como, tem uma maior agilidade na rotina do dia-a-dia".
Uma medida prática para organizar está relacionada com o adequado manejo das
interrupções no trabalho.
Fernando Montero, Diretor de Operações da Human Brasil, relata um desses
modelos. "É conveniente se programar para uma hora de tranquilidade diária
(melhor pela manhã), onde normalmente não estamos para ninguém. Este momento tem
por objetivo possibilitar-lhe se dedicar nas tarefas importantes e na
organização de sua mesa com tranquilidade absoluta".
Quero minha motivação e produtividade de volta!
A melhor forma para aumentar o rendimento nas atividades é fazer o que gosta,
com dedicação e domínio sobre o assunto. Essa relação de aumento na
produtividade está muito ligada com a motivação, por isso, buscar realizar com
satisfação e prazer às tarefas diárias é muito vantajoso para alcançar os
melhores resultados.
Mas se você está realizando um trabalho que não lhe agrada ou não lhe
satisfaz há algum tempo, então, deve pensar seriamente sobre o rumo que sua
carreira está tomando e se não é à hora de buscar novos caminhos para a sua
profissão. Talvez uma atividade nova, uma mudança de foco numa tarefa ou na
área. Se isso não resolver, talvez seja o momento de pensar em mudar de empresa.
Só que a especialista Daniela Lago faz uma advertência. "Vale a ressalva de
que é fundamental saber o que realmente se quer da carreira antes de sair
mudando de empresa. Pois não adianta nada você mudar de ambiente e levar junto
sua insatisfação com o trabalho, pois os problemas na nova empresa tendem a se
repetir".
A chave contra o marasmo improdutivo e a queda de produtividade deve partir
de cada um, para que assim seja possível almejar sempre a melhor performance
dentro da carreira.
Veja os seis pilares da auto-estima a ser praticado para reverter o quadro de
desmotivação no trabalho e ser uma boa influência com os colegas, indicados pelo
consultor Fernando Montero.
a) Viver conscientemente.
b) Aceitar a si mesmo.
c) Responsabilizar-se pelas próprias ações.
d) Auto afirmar-se.
e) Viver com propósito e assumir desafios.
f) Atuar com integridade e ética em suas ações.
Confira, em breve, a segunda parte da reportagem sobre o tema, com uma
matéria focada no papel do chefe quando a produtividade cai; e veja uma análise
completa com especialistas sobre os erros e acertos que líderes podem comentar
no incentivo de sua equipe.