"Olha filho, se você tirar boas notas na escola, eu compro o game que você
tanto quer"; "Papai Noel só traz brinquedos para crianças que se comportam bem e
obedecem aos pais"; "Passou no vestibular? Claro que merece um presente,
escolha"; "Comprou seu primeiro carro? Isso merece uma comemoração". Em todas as
fases da vida, seja na infância, na adolescência e até mesmo da quando se é
adulto, inúmeras pessoas ouviram essas frases ou algo semelhante, que relacionam
o recebimento de uma "premiação" graças à conquista.
No ambiente organizacional, de forma direta ou indireta, esse mesmo
comportamento acompanha os profissionais. Afinal, quem não deseja ver sua
dedicação reconhecida pelo gestor, pela organização em que atua? E quem imagina
que o reconhecimento financeiro é o único foco almejado pelos colaboradores, é
melhor atualizar-se com as tendências do mercado. Claro que contar com uma
remuneração extra é sempre agradável, mas hoje as pessoas também valorizam
outros mecanismos de reconhecimento que podem ser materializados através de
ajuda de custo para uma graduação, uma especialização, um curso de línguas ou
até mesmo uma viagem a um destino turístico badalado.
Atualmente, há organizações que adotam a meritocracia - um modelo de gestão
em que cada profissional é recompensado mediante os seus méritos. Vale ressaltar
que o termo "meritocracia", no âmbito da Ciência da Administração, tem sua
origem atribuída a Max Weber, que no ano de 1904 criou a Teoria da Burocracia.
Mas como aplicar a meritocracia no dia-a-dia, quando uma liderança se vê
frente a frente com dois profissionais que recebem a mesma remuneração e possuem
iguais planos de benefícios? A situação complica-se mais ainda quando o gestor
observa que o colaborador A, por exemplo, respeita o horário de
expediente e cumpre os prazos na realização de suas atividades. Já o outro
funcionário, o B, deixa a desejar em vários fatores, mas possui
competências que podem ser desenvolvidas e acrescentarem um diferencial
significativo ao negócio. Surge, então, uma questão: caso essa situação
permaneça, o profissional A se manterá motivado por muito tempo
ou, logo, buscará uma nova colocação no mercado? O dilema está no ar e precisa
de uma solução.
Uma empresa que adotou a meritocracia na sua política de Gestão de Pessoas
foi o Instituto Infnet - faculdade especializada em TI e Design Digital. O
resultado culminou na criação do Prêmio Top Desempenho - iniciativa que tem como
principal objetivo premiar os funcionários que se destacam em suas atividades.
Todos os profissionais do corpo discente, docente e da área administrativa são
beneficiados por essa ação.
A implantação da meritocracia no Instituto Infnet começou em 1998. Contudo,
teve um salto significativo a partir da criação do programa de participação nos
resultados em 2006. De acordo com Gabriela Simonaci, que atua no RH e Gestão
Central do Infnet, a adoção dessa prática foi motivada pela necessidade de
cumprir a missão de prover educação orientada ao mercado e de alto nível em TI e
Design Digital.
"O nosso objetivo é dar as maiores notas aos melhores alunos, promover e
premiar os melhores professores reconhecer e recompensar os membros do corpo
técnico-administrativo com melhor desempenho nas suas funções. O reconhecimento
de quem se empenha é fundamental para a motivação no dia-a-dia", complementa, ao
lembrar que quando o programa de participação nos resultados começou não havia
um conjunto de indicadores bem definido como existe hoje. Por essa razão, a
participação dos gestores foi fundamental, para que a definição dos indicadores
fosse alinhada às metas individuais.
O processo - A processo adotado pela instituição é todo
coordenado pelo RH e Gestão Central , mas para garantir a sua aplicabilidade ao
público-alvo, a meritocracia está presente nas diretrizes e nos procedimentos de
todas as áreas da organização. Como se trata de um processo de mudança na
cultura organizacional e como tal exige tempo e persistência para que seja
absorvido pelas pessoas, a ação tornou-se uma iniciativa educativa.
Para isso, a empresa aplica, sobretudo, clareza nos critérios de avaliação.
Os alunos sabem os critérios adotados pelo professor de cada módulo, por
exemplo. Os mestres precisam entender de forma transparente o que significa ser
um "bom professor" para a Coordenação Pedagógica do Infnet. Assim também, os
colaboradores do corpo técnico-administrativo devem compreender, em detalhes, o
que a organização espera deles e quais são os indicadores que medem tais metas,
definindo, então, como será avaliado o desempenho ao final de cada período.
As metas do Prêmio Top Desempenho, fruto da meritocracia, são avaliadas em
função de indicadores individuais que variam em decorrência das atividades de
cada colaborador em uma escala de pontuação que varia de "um" a "cinco". Na
apuração dos resultados destes indicadores, o colaborador deve ter desempenho
individual mínimo de "três" para concorrer à premiação. Para completar este
processo, os gestores preenchem uma avaliação do alinhamento dos colaboradores
com os valores da instituição.
Benefícios - Para Tina Lírio, que atua no RH e Gestão Local,
a meritocracia tem direcionado muitas ações do Infnet, em todas as áreas da
instituição. No que diz respeito à área de Recursos Humanos, por exemplo, essa
metodologia traz benefícios para as iniciativas de seleção e alocação de
recursos, desenvolvimento e reconhecimento dos colaboradores.
Ela comenta que é interessante perceber como nas instituições a meritocracia
é normalmente aceita na relação com os alunos e menos aceita na relação com
professores e corpo técnico-administrativo. "Cada um de nós é bom em algo e
somos mais felizes e realizados quando descobrimos aquilo em que somos melhores.
Por que não funcionar exatamente assim também dentro das instituições?", indaga,
ao acrescentar que esse entendimento é construído aos poucos, com a participação
de todos.
Hoje, após alguns anos de exercício da meritocracia, já é possível notar no
Instituto Infnet uma participação mais efetiva dos colaboradores na definição
das metas de desempenho individual e nos eventos de premiação, por exemplo,
quando as equipes se unem para torcer pelos companheiros que têm mais chance de
vencer.
"Na realidade, utilizar os princípios da meritocracia é aplicar às
instituições o aprendizado da vida real. Praticamente todos, quando crianças, a
praticaram em suas brincadeiras. Por exemplo, ao formar times de futebol os
melhores jogadores sempre eram escolhidos primeiro, enquanto os outros eram
colocados em posições mais fáceis ou ficavam no banco de reservas. Os melhores
se esforçavam para continuar assim, recebendo as recompensas e os outros davam o
máximo para melhorar a qualidade do jogo ou descobriam outros interesses em que
fossem mais capazes", cita Tina Lírio.
Premiações - Ao final do semestre, é realizado um evento
onde são convidados todos os colaboradores e homenageados os vencedores do
Prêmio Top Desempenho. Mas, para manter aumentar a expectativa e gerar mais
emoção entre os concorrentes, nomes dos vencedores só são divulgados durante a
realização da premiação. Os ganhadores recebem o troféu Prêmio Top Desempenho,
mas as premiações variam a cada edição. Há colaboradores que já foram
contemplados com viagens com direito a acompanhantes, acessórios para escritório
e cestas de chocolates.