Introdução
O mercado de ações aparece no jornal todo dia. A cada nova alta ou baixa, novas
notícias. Ouvimos também declarações do tipo: "O índice Dow Jones subiu hoje 2%,
com avanços levando a um declínio na margem de..."
Obviamente, ações e mercado de ações são importantes, mas você pode descobrir
que sabe muito pouco a respeito. O que é uma ação? O que é um mercado de ações?
Por que precisamos de um mercado de ações? Para começar, de onde vêm as ações e
por que as pessoas querem comprá-las e vendê-las? Se você se importa
com questões como estas, este artigo irá abrir seus olhos para um novo mundo.
Determinando o valor
Digamos que você decide abrir um restaurante. Você compra o prédio, o
equipamento de cozinha, mesas e cadeiras, suprimentos, contrata os cozinheiros,
garçons etc. Depois divulga o restaurante e abre as portas.
Digamos que:
- você gasta US$ 500 mil comprando o prédio e os equipamentos;
- no primeiro ano, você gasta US$ 250 mil em guarnições, comida e folha de
pagamento;
- no final desse primeiro ano, você soma todo o dinheiro que recebeu dos
clientes e descobre que totalizou uma receita de US$ 300 mil.
Uma vez que recebeu US$ 300 mil e pagou US$ 250 mil em despesas, seu
lucro líquido é:
US$ 300 mil (receita) - US$ 250 mil (despesa) = US$ 50
mil (lucro)
Ao final do segundo ano, você recebe US$ 325 mil e suas despesas são as
mesmas, com um lucro líquido de US$ 75 mil. Nesse ponto, você decide que quer
vender o negócio. Quanto ele vale?
Uma das maneiras de se avaliar é dizer que o negócio "vale" US$ 500 mil. Se
você fechar o restaurante, pode vender o prédio, o equipamento e tudo o mais e
receber US$ 500 mil. Essa é uma simplificação, é claro: o prédio provavelmente
subiu de valor e o equipamento depreciou, pois agora está usado. Vamos dizer
apenas que o valor gira em torno dos US$ 500 mil. Este é o valor patrimonial,
ou valor de mercado, do negócio. Isso é o valor de todo o ativo
do empreendimento se você liquidá-lo hoje.
O que acontece se você continuar o negócio? Continue lendo para descobrir.
Vendendo ações
Se você mantiver o seu restaurante funcionando, provavelmente acumulará pelo
menos US$ 75 mil neste ano (baseado no histórico do seu negócio). Portanto, você
pode considerar o restaurante como um investimento que pagará algo em torno de
US$ 75 mil de lucro ao ano. Olhando dessa maneira, alguém poderia querer pagar
US$ 750 mil pelo restaurante, já que um retorno anual de US$ 75 mil em um
investimento de US$ 750 mil representa uma taxa de retorno de 10%. Alguém
poderia querer pagar US$ 1.500.000, o que representa uma taxa de retorno de 5%.
Ou até mais, se ele imaginou que a receita do restaurante poderia crescer ao
longo do tempo a uma taxa maior do que a inflação.
Portanto, o proprietário do restaurante irá ajustar o preço de forma
compatível. Você pode avaliar o negócio em US$ 1.500.000. No entanto, se dez
pessoas vierem até você e disserem: "Puxa, eu gostaria de comprar seu
restaurante, mas não tenho os US$ 1.500.000", você poderia de alguma forma
querer dividir seu negócio em 10 partes iguais e vender cada uma por US$ 150
mil. Em outras palavras, você poderia vender cotas do seu restaurante.
Então, cada pessoa que comprou uma cota receberia um décimo dos lucros ao final
do ano e teria um dos dez votos em qualquer das decisões financeiras da empresa.
Ou então você poderia dividir a propriedade em 1.500 cotas e vender cada uma por
US$ 1.000, para ter um preço que mais pessoas pudessem pagar. Outra alternativa
seria dividir a propriedade em 3 mil cotas, manter 1.500 com você e vender o
restante por US$ 500 cada. Dessa forma, você retêm a maioridade das cotas (e,
conseqüentemente, os votos) e permanece no controle do restaurante, enquanto
compartilha o lucro com outras pessoas. Enquanto isso, você consegue depositar
US$ 750 mil no banco graças às vendas das 1.500 cotas a outras pessoas.
As ações, em sua essência, são realmente muito simples. Elas representam o
patrimônio e os lucros da empresa. Os dividendos de uma ação representam
a porção da cota dos lucros de uma empresa, geralmente distribuídos anualmente.
Se o restaurante tiver dez proprietários, cada um possuindo uma cota acionária,
e o negócio acumular US$ 75 mil de lucro durante o ano, então cada proprietário
recebe um dividendo de US$ 7.500. Uma grande companhia como a IBM tem milhões de
cotas acionárias excedentes, em torno de 1,7 bilhões em fevereiro de 2004 (veja
Quicken: International Business Machines (em inglês) para mais detalhes). Neste
caso, os lucros totais da companhia são divididos por 1,7 bilhões e enviados aos
acionistas como dividendos.
Uma medida do valor de uma empresa, pelo menos no que diz respeito aos
investidores, é o produto do número de cotas excedentes multiplicados pelo preço
da ação. Este valor é chamado capitalização de uma empresa.
A bolsa de valores
Se eu sou uma pessoa física que possui um restaurante e quero vender ações do
meu negócio a outras pessoas físicas, posso divulgar isso boca-a-boca ou
colocando um anúncio no jornal. Isso torna a venda das ações mais fácil para
mim. Entretanto, cria um problema para os investidores que querem, mais tarde,
vender as ações do meu restaurante. Eles têm que sair e encontrar um comprador,
o que pode ser difícil. Um "mercado de ações" resolve este problema.
Os títulos de empresas publicamente negociadas são comprados e vendidos em um
mercado de ações (também conhecido por bolsa de valores). Um
exemplo é a Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE) (em inglês). Para entender
melhor, pense no seguinte: em sua vizinhança, você tem um "supermercado" que
vende comida. A razão pela qual você vai ao supermercado é porque você pode ir a
um lugar e comprar todos os diferentes tipos de alimento de que você precisa em
um só lugar. É muito mais conveniente do que ir até o açougueiro, o leiteiro, o
padeiro, etc. A NYSE é um supermercado de ações. Ela pode ser comparada a uma
grande sala onde todo mundo pode negociar, comprando e vendendo cotas
acionárias.
A bolsa de valores facilita a compra e a venda. Você não tem que realmente
viajar até Nova Iorque para visitar a NYSE. Você pode ligar para um corretor
da bolsa de valores. Ele negocia com a NYSE e vai lá, em seu lugar, para
comprar e vender suas ações. Se a bolsa não existisse, a compra e venda de ações
seria muito mais difícil. Você teria que publicar um anúncio nos classificados
do jornal, aguardar uma ligação e negociar um preço sempre que quisesse vender
ações. Com a bolsa, você pode comprar e vender títulos instantaneamente.
A bolsa de valores tem um interessante "efeito colateral". Como toda compra e
venda é feita em um único lugar, isso permite que o preço de uma ação possa ser
conhecido a cada segundo do dia. Portanto, investidores podem observar a
flutuação do preço de uma ação baseando-se nas notícias da empresa, reportagens
da mídia, informações econômicas e muitos outros fatores. Vendedores e
compradores levam todos esses fatores em consideração. Por exemplo, quando a FAA
- Administração Federal de Aviação dos EUA (em inglês) - fechou a companhia
ValuJet por um mês, em junho de 1996, o valor das ações despencou. Os
investidores não tinham certeza de que a companhia aérea representava uma
empresa operante e começaram a vender os títulos, levando o preço para
baixo. O valor patrimonial da empresa atuou como patamar para o preço da ação.
O preço dos títulos também reflete os dividendos pagos, os ganhos projetados
da empresa no futuro, o preço do chá na China (especialmente a ação Lipton) e
assim por diante.
Corporações
Qualquer negócio que pretende vender ações para diferentes pessoas tem que se
tornar uma sociedade anônima. A operação de mudança de uma sociedade
limitada para uma sociedade anônima é chamado de transformação.
Se você abrir um restaurante usando seu dinheiro para comprar o prédio e
equipamentos, o que você fez foi formar uma propriedade exclusiva. O
restaurante todo é seu, você pode tomar todas as decisões e ficar com todo o
lucro. Se três pessoas juntarem dinheiro e abrirem um restaurante juntas, elas
formarão uma sociedade. As três pessoas são proprietárias do restaurante,
compartilhando os lucros e a tomada de decisões.
A organização é diferente, e é um conceito bem interessante. Ela pode ser
comparada a uma "pessoa virtual". Quer dizer, a empresa é registrada no governo,
tem um cadastro (conhecido no Brasil como CNPJ), pode ter propriedades,
mover processos contra pessoas, ser processada e fazer contratos. Por definição,
a organização tem ações que podem ser compradas e vendidas. Todos os sócios
detêm cotas de participação nessa organização para representar sua propriedade.
Uma interessante característica dessa "pessoa virtual" é que ela tem uma
expectativa de vida indeterminada e potencialmente infinita.
Existe toda uma legislação que controla esse tipo de sociedade. As leis estão
vigentes para proteger os acionistas e o público. Essas leis controlam uma série
de fatores sobre como a empresa opera e organiza-se. Por exemplo, cada uma tem
uma diretoria (se todas as ações são possuídas por uma única pessoa, então ela
pode decidir, por exemplo, que haverá apenas um membro na diretoria). Os
acionistas se reúnem a cada ano para votar nos diretores, que tomarão as
principais decisões pela empresa. Eles contratam os administradores (o
presidente e outros principais administradores da empresa), tomam as decisões e
definem os planos de ação. A diretoria pode ser considerada o cérebro da pessoa
virtual.
Acionistas
Por esta descrição, você pode ver que uma empresa tem um grupo de proprietários,
os acionistas. Os acionistas elegem um quadro de diretores para tomar as
decisões principais da companhia. As pessoas se tornam proprietárias quando
compram cotas acionárias. A diretoria decide qual será a quantidade total das
cotas. Por exemplo, uma empresa poderia ter um milhão de cotas acionárias. A
companhia pode ser uma empresa de capital fechado ou de capital aberto.
Numa companhia fechada, as cotas acionárias são possuídas por um pequeno número
de pessoas, que provavelmente conhecem umas às outras. Elas compram e vendem
suas ações entre si. Uma empresa de capital aberto é possuída por milhares de
pessoas, que negociam suas ações numa bolsa pública de valores.
Uma das grandes razões pelas quais as corporações existem é criar uma
estrutura para captar muito dinheiro de investimentos para um negócio. Digamos
que você quisesse abrir sua própria companhia aérea. Muitas pessoas não podem
fazer isso, porque um avião custa milhões de dólares. Uma companhia aérea
necessita de toda uma frota de aviões e outros equipamentos, além de ter que
contratar muitos empregados. Quem quiser iniciar um empreendimento desse tipo
irá, portanto, formar uma organização e vender ações para captar o dinheiro
necessário para começar.
Essa é uma maneira fácil de juntar grandes quantidades de capital de
investimento - dinheiro de investidores. Quando uma organização vende
primeiro as ações ao público, faz isso através de uma IPO (Oferta Pública
Inicial). A empresa poderia vender um milhão de cotas acionárias a US$ 20 por
ação para levantar US$ 20 milhões rapidamente (essa é uma simplificação: a
corretora a cargo do IPO irá cobrar sua comissão dos US$ 20 milhões, mas vamos
deixar isso de lado). Então, a empresa investe os US$ 20 milhões em equipamento
e empregados. Os investidores (os acionistas que compraram os US$ 20 milhões em
ações) esperam que, com o equipamento e empregados, a empresa irá lucrar e pagar
os dividendos.
Outra razão para a existência das corporações é limitar a responsabilidade
dos proprietários. Se a empresa for processada, é ela que paga a liquidação do
processo. A organização pode sair do negócio, mas isso é o pior que pode
acontecer. Se você for um proprietário individual que possui um restaurante e o
restaurante for processado, você é quem estará sendo processado. "Você" e "o
restaurante" são a mesma coisa. Se você perder a causa, poderá perder tudo o que
tem por causa do processo.
Preço das ações
Digamos que uma nova organização seja criada e em sua IPO ela levante US$ 20
milhões, vendendo um milhão de cotas por US$ 20 a cota. A companhia compra o
equipamento e contrata seus empregados com aquele dinheiro. No primeiro ano,
quando toda a receita e despesas são somadas, a companhia lucra US$ 1 milhão. A
diretoria pode decidir fazer várias coisas com esse US$ 1 milhão:
- pode colocá-lo no banco e poupar para os tempos difíceis;
- pode decidir dar todo o lucro aos acionistas. Assim, declararia um
dividendo de US$ 1 por cota;
- usar o dinheiro para comprar mais equipamentos e contratar mais
empregados, expandindo a companhia;
- pode escolher uma combinação dessas três opções.
Se uma empresa tradicionalmente paga a maioria dos seus lucros aos seus
acionistas, isso é geralmente conhecido como ação de rendimento. Os
acionistas recebem sua renda dos lucros de uma empresa. Se uma empresa investe a
maior parte do seu dinheiro de volta no negócio, isso é chamado de ação de
valorização. A companhia está tentando crescer pelo aumento da quantidade de
equipamentos e o número de pessoas que a conduzem.
Preço das ações: receita x crescimento
O preço de uma ação de rendimento tende a permanecer razoavelmente
estável. Isto é, a cada ano o preço da ação tende a permanecer aproximadamente o
mesmo, a não ser que os lucros (e, portanto, os dividendos) subam. As pessoas
estão recebendo seu dinheiro a cada ano e o negócio não está crescendo. Este
seria o caso para a ação de um restaurante individual que distribui todos os
seus lucros aos acionistas anualmente.
Digamos que o restaurante individual decida poupar seus lucros por vários
anos e, no futuro, abrir um segundo restaurante. Este é o comportamento de uma
empresa em expansão. O valor da ação sobe porque, quando o segundo
restaurante abre, há duas vezes mais equipamento e duas vezes mais lucro sendo
adquirido pela companhia. Em ações de valorização, os acionistas não recebem um
dividendo anual, mas possuem uma empresa cujo valor está aumentando. Portanto,
os acionistas ganham mais dinheiro quando vendem suas cotas, pois quem comprar a
ação pode ver o crescente valor de mercado da companhia (o valor dos edifícios,
do equipamento, etc.) e o crescente lucro que a companhia está obtendo. Baseado
nestes fatores, pagam um preço mais alto pela ação.
Numa empresa de capital aberto, toda a informação financeira sobre a empresa
é pública. Nos Estados Unidos, a SEC - Securities and Exchange Commission (em
inglês) está encarregada de coletar esta informação e disponibilizá-la aos
investidores. Os acionistas também usam uma quantidade de outros indicadores
para determinar o quanto vale uma ação. Um indicador simples é o índice de
preço-lucro. Este é o preço da ação dividido pelos ganhos por cota. Há
vários tipos de indicadores como esses, bem como uma grande quantidade de outras
informações financeiras disponíveis para cada ação. Você pode procurar na
Internet em milhares de diferentes lugares (veja os links no final deste artigo
para mais informações).
Índices das ações
Todos os dias nos noticiários você ouve a respeito do Dow Jones e outros
índices, como o S&P 500 ou o Russell 2000. Esses são índices
extensivos de mercado projetados para informá-lo como as empresas de capital
aberto estão indo no mercado de ações em geral. Por exemplo, o Dow Jones (em
inglês) é simplesmente o valor médio de 30 grandes ações industriais. Grandes
companhias como General Motors, Goodyear, IBM e Exxon são as companhias que
compõem esse índice. O S&P 500 (em inglês) é o valor médio de 500 grandes
companhias. Já o índice Russel 2000 (em inglês) calcula o valor médio de duas
mil companhias menores.
O que esses índices informam é a situação geral do preço de uma ação. Se a
economia está "indo bem", então os preços das ações como um conjunto tendem a
subir, o que é denominado um "mercado em alta" (bull market). Se "vai
mal", os preços tendem a cair conjuntamente, o que é chamado um "mercado em
baixa" (bear market). Os índices revelam estas tendências no mercado como um
todo.
Bolsas e corretores
Há três grandes bolsas de valores nos Estados Unidos:
- NYSE - New York Stock Exchange (Bolsa de Valores de Nova Iorque);
- AMEX - American Stock Exchange (Bolsa de Valores Americana);
- NASDAQ - National Association of Securities Dealers Automated,
que é uma bolsa de valores sem corretores.
A empresa põe suas ações em uma bolsa de valores. Por exemplo, a NYSE tem
aproximadamente 3 mil companhias relacionadas. De acordo com a NYSE:
No final de novembro de 1998, havia 3.104 empresas com ações
listadas na NYSE. Essas companhias tinham mais de 236 bilhões de cotas
valendo um total de US$ 10,1 trilhões disponíveis para comercialização na
bolsa, garantindo à NYSE o maior mercado mundial de capitalização (em termos
de valores globais de mercado, o valor total global das companhias listadas
na NYSE excedia US$1 2,8 trilhões).
Qualquer um que quiser comprar ou vender ações a qualquer uma dessas companhias
vai até a Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ninguém, claro, vai querer voar até
Nova Iorque só para vender e comprar suas cotas. Então, chama-se um corretor
de uma firma autorizada a negociar numa bolsa de valores. Existem várias dessas
corretoras de valores, inclusive nomes conhecidos como Merrill Lynch (em
inglês), Charles Schwab (em inglês) e Morgan Stanley (em inglês). Quando você
convoca um corretor de uma destas empresas, ele estabelece seu negócio no
patamar apropriado da bolsa e um representante da empresa (ou, mais comumente,
um computador representando a empresa) faz a negociação. Você paga ao corretor
uma comissão (geralmente US$ 10 a US$ 100 por negociação, dependendo do
corretor). Atualmente, você pode também negociar ações online - veja esta
página (em inglês) para saber mais.
Ações que não estão listadas na Bolsa de Valores são vendidas no mercado
de balcão (OTC). As ações do OTC são geralmente de empresas menores, de
maior risco. Geralmente uma ação OTC é de uma empresa que não cumpre com os
requisitos de uma bolsa de valores.
Para mais informações sobre ações, o mercado de ações e tópicos relacionados,
confira os links na próxima página.