Em um grande número de organizações, o que não faltam são as “calamidades”
comportamentais, algumas das quais, de tanto se repetirem, tornam-se crônicas e,
ao mesmo tempo, folclóricas e motivos de lágrimas e risos nos corredores.
Essas calamidades podem diferir na forma, mas todas têm uma coisa em comum:
detonam o clima interno, acabam com o respeito aos princípios e valores da
empresa e, por vias indiretas, comprometem as relações entre os colegas e
dificultam o cumprimento dos resultados.
Os “jeitinhos” e os “jeitões” constituem duas dessas calamidades – dentre
outras.
Comecemos pelos “jeitões”. Quem, no seu local de trabalho, não tem ou nunca
teve um colega ou chefe com um “jeitão” fora dos padrões civilizados? Tomemos o
caso de um gestor que é grosseiro de doer, grita e trata seus colaboradores como
se fossem máquinas ou coisas insensíveis e sem auto-estima. E quando alguém mais
corajoso decide procurar a Alta Direção para fazer queixa daquele assediador
moral em série, ouve do maioral: “Ah, não esquenta com isso! É o “jeitão” dele,
mas no fundo é ótima pessoa... E, olha, com esse “jeitão” ele faz o pessoal
cumprir todas as metas!”
E o gestor, com seu “jeitão” anacrônico, continua pelos corredores à fora
machucando impunemente a equipe, protegido pela cultura interna que aprova esse
“jeitão eficaz” de atingir resultados...
Anote aí: nas empresas que abrigam essa calamidade, “jeitão” é a nova palavra
para definir grosseria, falta de modos e de educação, insensibilidade e total
desconhecimento da arte de liderar pessoas. Isso me faz lembrar as palavras do
guru em administração Stephen Covey, consultor americano, autor do best-seller
“Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, que vendeu mais de 15 milhões de
exemplares: “A maioria das lideranças ainda está estancada no modelo de
trabalhador em que as pessoas são vistas como coisas a ser controladas e
reguladas. Mas hoje é imperativo ter consciência de que as pessoas são feitas de
corpo. mente, emoções e espírito”.
Um bom treinamento em sensibilização – com a Análise Transacional, por
exemplo - consegue amenizar e em alguns casos até extinguir esses “jeitões”.
Outra calamidade são os “jeitinhos”. Diariamente, em muitas empresas, as
normas, políticas, regulamentos e diretrizes são criativamente dribladas ou
ignoradas por “jeitinhos”. São aqueles atalhos e “adaptações” que fogem da
estrada principal que conduz ao ponto certo, visando “facilitar” o trabalho de
muita gente esperta, que esquecem que isso complica e compromete a vida das
organizações. O “jeitinho” existe onde hajam profissionais sem a devida
disciplina, paciência e comprometimento para cumprir as etapas e os passos às
vezes complexos e burocráticos de algumas tarefas e processos, mas que asseguram
a excelência e a legalidade do trabalho. Resultado: os milhões gastos pela
empresa em programas e projetos de qualidade, excelência e boas práticas de
fabricação descem diariamente pelo ralo do desperdício. Essa calamidade pode ser
anulada pela própria organização, se sua gestão definir e fizer seguir
rigorosamente as corretas práticas de trabalho, se investir no desenvolvimento
da maturidade comportamental das equipes e em saudáveis e éticos princípios e
valores.
Felizmente, em sua maioria, as organizações atuam conforme o figurino, sem
permitir a ocorrência dessas calamidades. São as empresas vencedoras – não
necessariamente as de maior porte e lucro, mas as de maior ética, melhor clima e
aquelas com maior preocupação com seu capital humano.
Muita gente ainda parece esquecer o óbvio: numa empresa ou em qualquer
organismo social, nenhum “jeitão” comportamental está acima dos direitos e do
bem estar da coletividade, assim como nenhum “jeitinho” está acima do
compromisso com as leis e com a qualidade.
É simples assim.