Há algumas semanas, dentre as dezenas de e-mails que recebo diariamente, um
me chamou a atenção pela validade da mensagem, pelo menos de acordo com meus
conceitos pessoais de vida.
Lamentavelmente – como acontece na maioria das vezes – o texto não cita o autor.
Portanto, quero registrar aqui minhas excusas e meus cumprimentos ao “autor
desconhecido” pela citação. Vou resumir a matéria:
“Um sujeito estava caindo em um barranco e se agarrou às raízes de uma árvore.
Em cima do barranco, havia um urso imenso querendo devorá-lo. Embaixo, prontas
para engoli-lo, quando caísse, estavam nada menos do que seis onças
absolutamente famintas. Em determinado momento, ele olhou para o lado esquerdo e
viu um morango vermelho, lindo, com escamas douradas, refletindo o sol. Num
esforço supremo, apoiou o seu corpo, sustentado apenas pela mão direita e com a
esquerda, pegou o morango, levou-o à boca e se deliciou com o sabor doce e
suculento. “Foi um prazer supremo comer aquele morango tão gostoso." Deu para
entender ? Talvez você me pergunte: "Mas, e o urso ?" Dane-se o urso! Coma o
morango! "Mas...E as onças?" Azar o das onças! Coma o morango!
Moral da história: problemas acontecem na vida de todos nós, até o último
suspiro. Sempre existirão ursos querendo comer nossas cabeças e onças pulando
para nos pegar pelos pés. Isso faz parte da vida e é importante que saibamos
viver dentro desse cenário. Mas precisamos saber comer os morangos. A gente não
pode deixar de comê-los só porque existem onças e ursos. Problemas não impedem
ninguém de ser feliz”.
O que isso tem a ver com o papel do RH nas empresas – e não só do RH, mas de
todas as áreas, de todos os gestores, dirigentes – enfim, de todas as pessoas?
Simples: o mundo está repleto de “ursos” e “onças”, sob as mais variadas formas
e com maior ou menor proximidade de nós. É só abrir o jornal, ligar a televisão
para ver o noticiário, ou ligar o rádio para ouvir as mesmas preocupantes e
estressantes notícias: quando o dólar “dispara”, quando a Bolsa “despenca”,
quando Dow Jones, Nasdaq, Wall Street, Risco Brasil e outros índices brincam de
gangorra, quando os especuladores atacam, quando saem novos resultados de
intenção de votos para o futuro presidente, quando países trocam ataques e
insultos e aumenta a perspectiva de guerra....tudo isso são “ursos” e “onças”.
Claro, há os menores, mas nem por isso menos intranquilizadores: boatos de
demissão em massa, de fusão, de venda da empresa, de troca de presidente ou de
chefe, de retirada de um produto, de fraude contábil, “downsizing”,
reengenharia, mais redução de custos...
Não resisto em fazer uma analogia com a vida conjugal: quem já juntou escovas
sabe quantos “ursos” e “onças” ameaçam a tranqüilidade da vida a dois. E nem por
isso o casal deixa de fazer a festinha de aniversário da filhinha, do netinho e
nem deixa de se curtir...Quer dizer, disto aqui já não tenho tanta certeza, pois
li recentemente uma reportagem informando que a libido do trabalhador –
executivos inclusive – anda em baixa ! Ou, para usar o jargão da imprensa, o
tesão “despencou”! E agora ninguém mais tem motivação para fazer amor. Pode? E o
que é pior: se não tem motivação “praquilo”, será que vai ter pra trabalhar? O
que estou tentando dizer e espero que vocês me entendam, é que, apesar de tudo,
o mundo está cheio de “morangos” a espera de quem saiba notá-los e saboreá-los!
Não estou defendendo a alienação. Não estou recomendando que se diga “dane-se o
mundo” como a fábula recomenda dizer aos ursos e onças. Aquilo é apenas uma
fábula. Estou dizendo que cada um de nós, dentro das suas possibilidades,
recursos e habilidades, pode e deve fazer a sua parte para tornar este mundo
mais feliz, com menos problemas. Isso pode ser feito através de ações de
Voluntariado, de ONGs, de movimentos comunitários, de ações de responsabilidade
social, de gestos de solidariedade, de boas iniciativas – que, anônima e
felizmente, existem aos montes, ainda que não o suficiente.
Já comeu seu morango hoje?
A mesma coisa se aplica ao trabalho: não há empresa no mundo que não tenha suas
crises, internas e externas, ligadas à produtividade, vendas, fluxo de caixa e
outros motivos. São seus “ursos” e “onças”. Mas a vida organizacional não pode e
não deve parar por causa disso. Ao invés de permitir ou observar passivamente a
existência de temores, inseguranças e medos entre os funcionários, talvez seja
justamente nesses períodos, quando é percebida a proximidade de “ursos” e
“onças”, que as áreas de Recursos Humanos e todos os gestores da organização,
todos os que têm sob sua responsabilidade a condução de pessoas, justamente
nesses períodos deveriam ser providenciados “morangos” pra todo mundo, na forma
de programas de motivação, desenvolvimento, integração, qualidade de vida,
entretenimento, saúde, educação e esportes, inclusive com a participação dos
familiares...Ações que, com criatividade e boa vontade, podem ser feitas com
baixíssimo custo. O fato é que nenhum profissional deveria se deixar contaminar
pelo medo paralizante de que algo terrível está acontecendo ou irá acontecer por
causa da instabilidade do mercado e, sobretudo, não perder seu bom humor, seu
otimismo e sua fé de que não podemos evitar os problemas, mas podemos vencê-los!
Não faz muitas semanas o dólar ultrapassou (ou quase) a barreira dos R$ 4 e
semana passada quase fica abaixo dos R$3 – isso em questão de semanas! Quanta
gente perdeu o sono e a paz por causa dessa dança especulativa? E, claro, a vida
continua à espera de novas subidas e descidas – ou você não sabe disso? Lembro
de um amigo que andava tão tenso e estressado por causa de “ursos” e “onças” que
decidiu medir a pressão arterial a cada 15 minutos, compondo uma belíssima
tabela em Excel, com gráficos e tudo o mais. Depois de uma semana,
considerando-se já um pré-enfartado, foi mostrar ao seu cardiologista seu grande
feito. O médico não riu, mas fez pior: “O sr. sabe pra que serve esta tabela?”
Não, meu amigo não sabia. “Rigorosamente para nada. A pressão arterial de
qualquer pessoa oscila a cada minuto: quando leva bronca do chefe, quando vê uma
pessoa bonita, quando toma um susto, quando come demais, quando não come, quando
toma álcool, quando faz muito frio, quando faz muito calor, quando fuma, quando
dá muita risada, quando está no trânsito, quando...quando...E isso não quer
dizer que o sujeito vai morrer, meu caro. Basta consultar o médico, tomar as
providências tradicionais de prevenção e profilaxia e...relaxar!”
Eu lembro sempre deste caso e fico sorrindo cada vez que diariamente leio nos
jornais ou vejo na televisão a oscilação diária dos índices que citei acima.
Então, eu me levanto e vou comer “morango”. Claro, depois de pensar e descobrir
se há alguma forma de ajudar as pessoas a serem mais felizes e o mundo melhor,
mais justo e menos violento. Dessa postura, às vezes nascem artigos como este.
Olhe a sua volta, em casa, na sua rua, no seu bairro e no trabalho: há muitos e
muitos “morangos” a sua disposição. Viva um dia por vez e não caia na armadilha
da pre-ocupação. Saiba dos riscos da vida, mas não se torne escravo deles. Viver
já é um risco e nem por isso vamos deixar de curtir o que a vida tem de
maravilhoso. Com o devido respeito a tudo que é sagrado, ético e legal, há
momentos na vida em que, em favor de sua própria felicidade e qualidade de vida,
depois de certificar-se de que já cumpriu seu papel e seu dever de indivíduo e
cidadão, você deve dizer: “dane-se!” E coma o morango.
Em tempo: o texto anônimo que citei acima termina dizendo: “Neste exato momento
deve haver um morango esperando por você. O melhor momento para ser feliz é
agora”. Não é um convite tentador?