Se na relação Chefe/Colaborador não houver justiça, respeito aos direitos e à
individualidade, se não houver afetividade e interesse genuíno pelo
desenvolvimento e qualidade de vida e trabalho dos colegas – então não se pode
dar a essa gestão o nome de liderança.
Quase tudo na vida precisa ser adubado para crescer, fortalecer-se e dar frutos
positivos: plantas, árvores, amizade, amor...Não é diferente no trabalho, quando
esperamos e cobramos da equipe motivação, comprometimento, lealdade, dedicação,
respeito, entusiasmo.
Em algum lugar li ou ouvi que em certos aspectos as relações na vida se comparam
a um eco: se você não está gostando do que está recebendo de volta, avalie
direitinho a qualidade do que você está enviando.
Motivação, por exemplo, não nasce do nada. Tampouco o amor ou a amizade. Não
existem palavras mágicas que provoquem o sentimento: “goste de mim!”; ”goste do
que faz!” As lideranças e as empresas precisam fazer por merecer essas coisas.
Hoje, certamente não existirá gestor que deixe de admitir que bons resultados só
são obtidos através do trabalho em equipe. Quem não souber disso e pretender ser
um herói solitário, merece o troféu “Robinson Crusoe” – que viveu anos sozinho
numa ilha. Mas, pensando bem, mesmo assim precisou depois que o selvagem
“Sexta-feira” lhe quebrasse alguns galhos.
Não basta a um chefe a intenção de admirar, apoiar e respeitar seu pessoal. É
preciso que diária e continuamente ele expresse esses sentimentos, de forma
clara, coerente e inequívoca em relação a cada membro da equipe com quem estiver
interagindo. Se nessa relação não houver justiça, respeito aos direitos e à
individualidade, se não houver afetividade e interesse genuíno pelo
desenvolvimento e qualidade de vida e trabalho dos colegas – então não se pode
dar a essa gestão o nome de liderança.
Uma simples análise do seu padrão habitual de atitudes junto à equipe poderá
dar-lhe pistas valiosas no sentido de conscientizá-lo se sua maneira de conduzir
pessoas está contribuindo ou não para a motivação dos colaboradores e para um
clima harmonioso e produtivo na área.
Eis algumas palavras e atitudes que tendem a detonar qualquer possibilidade de
integração e paz num setor, numa área ou em toda a empresa:
01) Estou pra ver burrice igual à sua!
02) Você demora tanto pra fazer e ainda faz errado?
03) (com um longo suspiro de impaciência) Não sei mais o que fazer com
você!...
04) Quer calar essa boca?
05) (bufando, irritado) Você não tem jeito mesmo...
06) (dando feedback de um trabalho) Isto aqui está uma m........!
07) Eu só não entendo como é que, incompetente desse jeito, você está
aqui há tanto tempo!
08) Se você pensa que me enrola, está muito enganado!
09) Não agüento mais sua incompetência!
10) Escute aqui, você é pago pra trabalhar e não pra questionar minhas
ordens!
11) Aumento? Pra você? Só rindo...
12) Ou você toma jeito ou vai pra rua, fui claro?
13) (chegar e não cumprimentar ninguém da equipe)
14) (demonstrar claramente que tem “preferidos”)
15) (estar constantemente mau humorado)
16) (nunca demonstrar reconhecimento por um trabalho bem feito)
17) (chamar alguém e ir direto ao assunto sem nem ao menos cumprimentar)
18)(Jogar grosseiramente papéis sobre a mesa do funcionário e dar as
costas sem explicações)
19) (nunca usar expressões do tipo: “obrigado, por favor, com licença,
desculpe, parabéns! ”)
20) Minha paciência está se esgotando com você!
Certamente não podemos esquecer que os mais avançados programas de MBA´s não
incluem estágio no Tibet e que, portanto, os executivos não são monges
pacientes, passivos e contemplativos. Humanos que são, todos têm momentos de
intranqüilidade, precipitações e ansiedade diante de tantos desafios e afazeres
diários no trabalho.
Erros cometidos, mesmo que involuntários, tendem a provocar, em pessoas muito
responsáveis, algumas reações emocionais – seja com os filhos, pais, parceiros
ou colegas de trabalho. Quando isso é eventual, está no campo esperado das
reações humanas. Mas é exatamente nesses momentos que a maturidade é posta à
prova e se revela. O filósofo grego Aristóteles “cantou essa bola” há séculos:
“Qualquer um pode ficar zangado - isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa
certa, na intensidade correta, no momento adequado, pelos motivos justos e da
maneira mais apropriada - isto não é fácil”.
Estava certo o grego. É justamente nos momentos de maior crise ou tensão que a
auto-vigilância sobre o que se diz deve ser mais acentuada. Todo o cuidado é
pouco com as palavras. “Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada,
a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”, diz o provérbio chinês.
Talvez as atitudes de poder e autoridade que uma grande fatia de gestores ainda
adota e que os faz dizer coisas inadequadas resultem da crença de que cara feia,
dureza de atitudes e insensibilidade emocional sejam provas de “macheza” e
competência. Pois não são. Liderança sem bondade está a um passo do despotismo.
Tao Te Ching nos fala disso com uma linda e poética linguagem oriental:
"O homem, ao nascer, é suave e flexível; ao morrer, fica rígido e duro. As
plantas, ao nascer, são tenras e flexíveis; ao morrer, ficam duras e secas.
Portanto, o duro e o rígido são propriedades da morte, enquanto o flexível e o
brando são propriedades da vida. Por conseqüência, o duro e o forte são
inferiores, enquanto o brando e o flexível são superiores.”
No mercado tenso, instável, nervoso e inseguro com o qual todos lidamos
diariamente, são fundamentais a união, a solidariedade e o trabalho em equipe.
Se as empresas buscam comprometimento e dedicação dos seus colaboradores,
precisam compreender que lidam com seres humanos que também lutam para atender
necessidades nem sempre apenas materiais.
Vou concluir repetindo Tom Peters: “Um chefe ou uma empresa pode obrigar um
funcionário a fazer um trabalho, especialmente durante tempos economicamente
difíceis. Mas não pode, por definição, obrigá-lo a entregar sua paixão e sua
imaginação nesse trabalho. Esse é um ato voluntário, muito importante numa época
em que o cérebro, muito mais do que o músculo tem se convertido na pedra
fundamental do sucesso, da qualidade e do valor agregado”.
Ou seja: não é só ao cliente que os líderes devem surpreender e encantar
– mas também, e talvez principalmente, àqueles colaboradores que são diretamente
responsáveis pelo serviço ou produto que, adquirido ou consumido, vai gerar o
tão esperado lucro.