A funcionária anda para cá, anda para lá; dá suspiros de cansaço; atende ao
telefone; faz anotações em um papel; olha para outra pessoa que está na mesa ao
lado e faz careta. Segue falando ao telefone e com a outra mão puxa um papel
daqui, outro dali. Desliga o telefone. Pega outro papel e sai da sala. Ufa! Que
correria! Que dia!
O funcionário sobe e desce as escadas umas dez vezes, sempre com um papel na
mão. Pára e troca umas palavras com alguém, pergunta se viu tal pessoa. Anda
mais um pouco, pega um telefone, liga para outra seção e pergunta se tal pessoa
está lá. Volta, passa rápido pela recepção, vai até à fábrica, sempre com o
papel na mão. Ufa! Que correria! Que dia!
Mas, um observador atento vai confirmar que toda essa “eficiência” é muito
mais espuma do que líquido! Tenho observado que muitas empresas têm em seu
quadro pessoas que são altamente “eficientes”, e pergunto: por que, em tantos
casos, essas organizações têm tantas reclamações no PROCON ou nos outros órgãos
de Defesa do Consumidor? Por que recebem tantos e-mails com reclamações? Dando
uma geral, muito dos problemas situam-se no Atendimento, na relação com o
público.
Contratar um funcionário exige um ótimo feeling para perceber se a
pessoa quer só um emprego com salário, ou, se está mesmo comprometida com seu
trabalho, sua profissão, quer crescer profissionalmente e fazer com que a
empresa também cresça e elimine problemas, traga soluções. Além disso, se o
relacionamento com o público fizer parte da função, ela deve passar por mais
pessoas para ser checada sua capacidade de comunicação e resolução de problemas.
Percebo cada vez mais que as maiores ansiedades de uma pessoa, que está em
busca de uma vaga ou negociando com uma empresa, é sempre o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’,
o salário, o convênio médico, o seguro de vida, o horário de trabalho, o local
da empresa etc. e etc. Pouquíssimas vezes ouço alguém que volta de uma
entrevista, falar sobre a empresa, seu site, seus negócios, a posição oferecida,
eventuais treinamentos negociados, pós-graduação ou mesmo um curso
profissionalizante.
Na realidade, buscam um “trampo” em vez do emprego. Querem estabilidade,
salário em dia, benefícios, mas dificilmente entendem que é uma troca e que deve
ser profissional, atuante, comprometida com o que faz e buscar sempre o melhor
para a empresa. Parece que a coisa mais importante do mundo é ter uma mesa, um
telefone e, hoje em dia, um computador. Já experimentou dizer a um funcionário
que ele não tem mesa com telefone e computador? Em certas empresas até o
motorista tem mesa! E se, eventualmente, precisar terminar um trabalho no
horário de almoço? Heresia total! Punição aos exploradores!
Para os funcionários já registrados em carteira é sempre muito mais
importante o horário de saída para o almoço e saída do expediente do que
qualquer outra coisa. Chegar atrasado é sempre acompanhado de milhões de
desculpas, mas se puder sair um pouquinho mais cedo... Assim, há uma grande
diferença entre “ticar” a obrigação ou seguir seu job description com
perfeição. Se as pessoas e as empresas não trabalharem direito, não tem dinheiro
para remunerar bem os funcionários e fazer investimentos.
A legislação trabalhista, na forma atual, não obriga um funcionário a ser
profissional, porém, de certa forma, estimula a “enrolação”. É paternalista e
protege em demasia o trabalhador e coloca o patrão na situação de vilão da
história. Se cobrar muito pode sofrer até um processo por assedio moral.
Independente de Lei ou não, os profissionais de Recursos Humanos precisam
ajustar melhor seus focos, na hora de contratar alguém. Assim como, avaliar a
fundo a “qualidade profissional” do candidato, real interesse em crescer na
empresa, preferir quem faz milhões de perguntas sobre a organização, os
negócios, a vaga, a carreira, mercado, treinamentos e muito mais, àquele que
foca nos “vales-qualquer coisa”, e demonstra que está mais para “super”
eficiente do que realmente eficiente e lucrativo para a empresa.
Excluindo o funcionalismo público – que não serve de modelo para ninguém,
porque já parte da estabilidade no emprego, e tem até um Decreto que nos obriga
a tratá-los bem, mesmo que eles sequer tomem conhecimento que estamos do outro
lado do balcão e nós é que pagamos os salários deles – as empresas tem que
deixar bem claro na hora das contratações, e reciclar quem está atuante hoje,
que o mundo mudou. Cada dia é necessário matar um leãozinho diferente, uns mais
mansos, outros mais bravos, mas tem que ser profissional.
Para quem não sabe ou não lembra o significado correto da palavra, aqui vai
um refresco: profissional – pro.fis.si.o.nal – 1 Relativo,
próprio ou pertencente a profissão; 2 Que exerce uma ocupação como meio
de vida ou para ganhar dinheiro; 3 Exercido como meio de vida, ou pelo
ganho, por profissionais ao invés de por amadores; 4 Pessoa que exerce,
como meio de vida, uma ocupação especializada.
Assim, o candidato que pretender demonstrar muita “eficiência” na próxima
entrevista, deve pensar antes: vão olhar a espuma ou o líquido?