Ouve-se, com freqüência, o comentário de que o brasileiro é um empreendedor
nato. Em poucos países do mundo, existiria tanta gente com a disposição e o
entusiasmo para lançar seu próprio negócio. Mesmo assim, dados do Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que 56% dos novos negócios
fecham as portas antes de completar três anos de vida. O que há de errado,
então?
A resposta óbvia é a de que nem sempre a empreitada é bem lançada. Abrir um
negócio próprio, empreender, não deve ser algo para o qual se foi empurrado por
uma situação extrema, como quando se perde o emprego e não há perspectivas de
outro no horizonte. Como tantas coisas na vida, empreender tem o momento certo.
E, especialmente, deve-se estar bem preparado para enfrentar os desafios que,
inevitavelmente, surgirão.
O objetivo, aqui, é o de alertar. Acho o empreendedorismo um elemento
importantíssimo para o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo. Mais
do que isso. É algo essencial para o crescimento do país. O que defendo é a
conscientização plena do candidato a empresário para a necessidade de conhecer e
estar preparado para os obstáculos existentes em sua nova carreira.
Para isso, não basta apenas olhar para o mercado. Estar capacitado para
enfrentar esses desafios exige uma habilidade mais poderosa do que os nossos
cinco sentidos, que é a consciência. Cada pessoa tem a sua percepção de quais
são as suas possibilidades em um empreendimento. Ser bem-sucedido é ter
consciência dos caminhos para a realização (sejam eles bons ou ruins). Assim, o
candidato a empresário pode definir quais são as áreas que ele deve continuar
progredindo e quais são os setores que ele tem que desenvolver para conquistar
seu objetivo dentro do mercado.
Abrir a própria empresa equivale a expor-se a riscos. Os perigos e os
desafios vão aparecer diariamente, queiramos ou não. A escolha da área na qual o
empreendedor vai investir seus esforços é apenas parte desse processo. Há quem
tome a decisão pensando apenas no potencial de lucro do investimento. Não é o
correto. É preciso também pensar em algo que a pessoa goste de fazer. A
motivação e o entusiasmo não devem cessar, nunca.
Nem tudo precisa ser intuitivo nas avaliações do empreendedor. Hoje já
existem ferramentas que o auxiliam a determinar suas tendências e preferências
de trabalho. O Team Management Profile (TMP), por exemplo, separa perfis
de profissionais com relação a oito características básicas. Essas
características são:
- a promoção, a maneira como o interessado vende suas idéias para outras
pessoas;
- o desenvolvimento, o jeito como molda e estrutura os conceitos;
- a organização, a forma como se planejam as ações para serem realizadas e como
se encaminham as idéias para a concretização;
- a produção, ou a reunião de esforços para alcançar resultados;
- a inspeção, ou como verificar as atividades para que não ocorram erros nos
processos;
- a manutenção, ou estabelecimento de padrões para sustentar a eficiência do
trabalho;
- a consultoria, ou formas de obter e receber informações;
- a inovação, o empenho em sempre procurar melhorar a forma como as coisas são
feitas.
Empreendedores são desejavelmente pessoas observadoras, criativas, otimistas,
que transformam em realidade ações que muitas vezes nem tinham sido pensadas. É
importante sublinhar, também, as condições específicas do Brasil, um país grande
e diversificado, onde sempre surgem oportunidades. Para aproveitá-las, é
fundamental estar atento a novas tendências.
Uma pessoa que aprecio muito, João Fernandes, presidente de uma empresa de
sucesso no ramo da construção do Rio de Janeiro, a Cofix, costuma dizer que
empreendedorismo não se aprende na escola. “A pessoa já nasce com esta ambição”,
repete ele. João nem sabe quando a intenção de criar algo diferente se
cristalizou dentro dele, mas lembra que quando tinha cinco anos, ganhou dos pais
uma caixa de lápis de cor. No dia seguinte, estava no quintal, espetando os
lápis na terra. Queria que nascessem árvores coloridas.
O conselho que João dá a quem está começando é nunca desistir. Há
adversidades sobre as quais ele não tem controle, como períodos de inflação e
estagnação na economia. “Ações negativas não ajudam ninguém a corrigir os rumos.
O líder deve ter visão de longo prazo, pensar rápido, ter flexibilidade”, conta.
“Ser transparente, ter foco nas inovações, ser criativo e ter paixão pelo que
faz”, acrescenta.
Ele continua: “Atualizar-se sempre, deixar de ser sonhador para ser um
realizador de sonhos, ser disciplinado e disciplinador, acreditar que velhos
caminhos levam sempre aos mesmos lugares e ter em mente que precisa gerar
benefícios econômicos, sociais e ambientais, assumir hoje posições com quais
será possível ter condições de sobrevivência amanhã”.
Muitas pessoas querem começar um negócio, mas nunca se aventuram. Outras se
lançam em planos sem base e logo desistem. Há ainda os que, com medo, preferem
não se arriscar. Nenhuma dessas posições é boa. O grande desafio é desenvolver a
capacidade de acreditar em si mesmo e, ao mesmo tempo, ter humildade para não se
superestimar e ouvir opiniões de quem tem conhecimento e experiência.
Há ocasiões, sem dúvida, em que o melhor é ser orientado. Nada é demais nessa
hora. O sucesso do negócio depende de se estar bem preparado, não só
profissionalmente, mas também de maneira emocional e intelectual. Atualizar-se
constantemente, inclusive recorrendo a treinamentos adequados, pode ser o
caminho. Com isso, o candidato a empreendedor terá mais informações para tomar
decisões e encarar o novo desafio, além de encaminhar-se, com mais segurança,
para o sucesso.