O bom pão-duro, além de não gastar, chega a ganhar
com o estilo de vida
Exigir centavos de troco ou simplesmente optar pelo débito automático para
não correr o risco de deixar de receber as moedinhas são apenas algumas das
características dos mais ferrenhos pães-duros. Freqüentar cinemas somente de
segunda a quinta-feira e restaurantes self service depois das 14h também fazem
parte do estilo de vida daqueles cujo lema é a economia.
O bom pão-duro é aquele que, além de não gastar, chega a ganhar com o estilo
de vida. Um bom exemplo é Gustavo Nagib, que não deixa de sair ou fazer o que
gosta, mas sempre consegue descontos. "Depois que repeti o primeiro ano do
segundo grau, minha mãe disse que eu deveria me virar para pagar a escola.
Consegui 40% de desconto na mensalidade não apenas daquele ano, mas do restante
do curso. No final, além de ter cursado um ano grátis ainda economizei 20% de
uma mensalidade anual", afirma.
Em outubro Nagib lançará o Manual do Pão-Duro - Como Gastar Pouco, no qual
dará dicas para nenhum sovina botar defeito. "O brasileiro é mal remunerado, por
isso precisa de criatividade para administrar a vida gastando pouco", diz.
Nagib afirma que nunca pagou um jantar para uma namorada. "Sempre marco de
pegá-las depois das 21h. Quem não jantou até essa hora não janta mais, não é?",
pergunta. Apesar disso, Nagib garante que um pão-duro é o melhor partido para as
mulheres.
"Que mulher não quer um homem fiel? E isso nós somos, pois se não gastamos com
uma mulher só, imagine com duas?"
Quando comemora aniversários, Nagib escolhe sempre lugares que tenham
cartelas de consumo individuais ou reserva diversas mesinhas em vez de um mesão.
"Assim fica mais fácil controlar a conta. Quando todos os amigos reúnem-se em
uma só mesa, vão saindo e deixando o dinheiro. Quem fica por último, geralmente
o aniversariante, tem sempre que completar a conta."
Amor à camisa
Mas como todo pão-duro, Nagib não economiza com sua paixão, no caso, o
Fluminense. "Até procuro pechinchar, mas não deixo de comprar nada do clube, por
mais caro que seja", revela. O consultor jurídico Bruno Areal, um pão-duro menos
radical, também só abre a mão quando entra em cena a paixão - neste caso de
carne e osso. "Minha namorada tem me feito gastar mais, eu costumava ser mais
econômico", revela.
Levar comida para o trabalho para não gastar em restaurantes faz parte do
dia-a-dia de Areal. "Além de economizar, me alimento muito melhor", avalia.
Compras ele só faz em liquidações e feiras de descontos. Andar de ônibus por
causa do alto preço da gasolina também era rotina do consultor, que agora, por
causa da namorada e da violência urbana, tem gastado mais com o combustível para
o carro.
Geralmente tanta economia é revertida em uma boa poupança ou em investimentos
visando a compra de um bem. Mas muitos sovinas nasceram assim e economizam sem
motivo mesmo. "O melhor presente pra mim sempre foi dinheiro. Desde os 12 anos
que toda moeda que vejo na rua eu pego. Acho um absurdo pessoas que têm coragem
de dar uma grana alta em produtos que valem a metade do que investiram. Eu dou
valor ao dinheiro. Sei o quanto é duro ganhá-lo e não quero perdê-lo à toa",
afirma o vendedor Mauricio Silva Lins.
Maria Helena Barbosa, filha de Julia, entrega o jogo. "Ela é pão-dura mesmo.
A gente sofre. A mamãe não joga nada fora, até o pão que sobra do café da manhã
ela guarda para fazer torrada. O pior é que temos que seguir seu ritmo senão nos
chama de perdulários", diz. A dona de casa só vai a feira depois das 12h e
sempre pechincha. "Consigo bons descontos nesse horário."
Promoções são sempre bem-vindas para os pães-duros. "Deixe para fazer as
compras em liquidações. É sempre possível comprar bons produtos por preços bem
mais em conta", ensina Nagib. Conciliar preço e qualidade também é o lema dos
que se dizem apenas econômicos. "Não vale a pena, por ser mais barato, adquirir
um produto inferior. O barato pode acabar saindo caro", reconhece o pão-duro.
MANUAL DO PÃO-DURO - COMO GASTAR POUCO
AS DICAS
Prefira como animal de estimação os peixes. Gastam menos que cachorro e gato.
Filie-se a um cartão de afinidade. Seus gastos virarão lucro.
O melhor horário para ir a feiras é depois das 12h.
Para evitar deixar de receber centavos, pague em débito automático.
Em festas à fantasia, vista-se sempre de anão da Branca de Neve. A mesma
fantasia vale por sete, basta mudar o humor.
Vá aos cinemas apenas de segunda a quinta-feira e nunca em shoppings.
A Internet só deve ser acessada aos domingos ou de 0h às 6h durante o resto
da semana, quando é cobrado apenas um pulso.
Bruno Areal, consultor jurídico
Os dez mandamentos
1 Amai seu bolso como a si mesmo.
2 Não colocai a mão no bolso em vão.
3 Pechinchai sobre todas as coisas.
4 Nunca dizei pode ficar com o troco.
5 Lembrai que tudo tem seu preço.
6 Não deixai de freqüentar promoções.
7 Não desperdiçai.
8 Vai às compras aos domingos, quando quase todas as lojas estão fechadas.
9 Valorizai cada centavo e analisai custo e benefício.
10 Emprestai sempre com juros.