Excluindo os clichês que podem cercar o tema, o casamento é um momento
especial. Mais que uma união entre duas pessoas, a cerimônia também une dois
bolsos, muitas vezes, distintos. E, nesse caso, nenhum romantismo sustenta um
orçamento da vida a dois. Para começar a nova fase sem dívidas, o planejamento
financeiro deve ser feito antes do “sim”.
Distinguir receitas e despesas seria o primeiro passo. Contudo, quando o
assunto é planejamento a dois, é preciso atenção a algumas diferenças entre a
organização financeira do casal e a de um solteiro. “É até mais difícil fazer um
planejamento quando se está sozinho. Com outra pessoa, é mais fácil porque um
incentiva o outro em caso de deslizes”, afirma a gerente do Easynvest, Miriam
Macari.
Um solteiro, explica Miriam, não tem grandes responsabilidades que conduzam o
gerenciamento do seu próprio dinheiro. Dessa forma, ele acaba gastando além do
que precisa, porque não tem um direcionamento planejado do que ganha. E somente
ele arcará com os erros financeiros que cometer. Um casal, por outro lado, pode
cometer erros com as finanças, mas o outro está ali para socorrer.
Primeiro passo: a conversa
Por isso, o primeiro passo para um planejamento eficaz é a conversa. Para o
professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras), Mário Amigo, é nessa fase que o casal se conhece
financeiramente. “É para um entender como está o orçamento do outro. A situação
financeira tem de ser analisada para que os objetivos sejam alinhados. O casal
precisa entender que o planejamento é mais importante que aumentar os
rendimentos”, considera.
Listar as despesas e as receitas de que cada um dispõe é o primeiro passo
para iniciar a vida a dois sem dívidas. A partir daí, fica a critério do casal o
modo como eliminarão possíveis débitos. Um pode ajudar o outro a sair do
problema. E os dois devem fazer uma poupança antes de se unir de fato. “Pensar
em uma poupança de longo prazo, ou mesmo uma previdência complementar, é um meio
de compatibilizar objetivos”, afirma Amigo.
Depois de pagar as dívidas, é preciso que as metas sejam estabelecidas
conjuntamente. Claro que cada um não precisa abandonar antigos sonhos de consumo
para casar sem dívidas, mas é preciso estabelecer prioridades. Um passo de cada
vez.
Segundo passo: a festa e o custo da nova vida
Pode não parecer, mas a festa de casamento é o segundo passo para começar a
vida de casados com dívidas ou sem elas. Por isso, os dois já devem começar a
fazer uma poupança para formar uma reserva para a cerimônia. O coordenador do
curso de Gestão Financeira da Veris Faculdades, Fabrício Pessato Ferreira,
atenta que esse planejamento não é a toa. Ele calcula que uma festa de médio
porte pode custar em torno de R$ 20 mil. “O marco zero é calcular os gastos que
serão efetuados e ver de quanto o casal dispõe para realizar a festa”.
Visto isso, é preciso que o casal faça pesquisas incansáveis de preços. Entre
os itens que o economista aconselha a dar mais atenção estão o aluguel do espaço
onde ocorrerá a festa, a decoração do espaço e da igreja e, principalmente, o
bufê. “Especifique tudo em contrato e, se possível, coloque alguém como mestre
de cerimônias para averiguar se a quantidade de bebida contratada está sendo
efetivamente distribuída”, exemplifica.
Os gastos não param por aí. Até na lua de mel, calcula o economista, o casal
pode ter prejuízo. “Cuidado com os passeios de pacotes. Muitas vezes, esses
passeios não são os melhores e as agências de viagem tentam empurrá-los porque
ganham comissões para fazê-lo”, alerta Ferreira. Depois da viagem, organizar a
casa nova é um dos momentos mais esperados pelo casal.
Para além dos cuidados da compra da casa, o casal deve ficar atento aos
gastos com móveis e eletrodomésticos novos. O economista aconselha fazer
estimativas antecipadas de quanto serão os gastos para mobiliar a casa nova.
“Uma solução é colocar os móveis e eletrodomésticos mais caros para serem
comprados pelos convidados por quotas em sites de presentes”, aconselha
Ferreira. Ou mesmo manter móveis e eletrodomésticos de solteiro, fazendo poucas
mudanças.
Terceiro passo: mudando hábitos
Fazer o planejamento pode ser até simples. Mantê-lo é que pode se tornar um
problema, porque requer mudanças, muitas vezes drásticas, de hábitos. “É difícil
mudar hábitos, mas dá para controlar gastos. Quando você faz isso, você vê o
quanto dói no bolso”, afirma Miriam. “É importante lembrar que esse planejamento
não termina com a compra do apartamento”, reforça.
“Normalmente, o comportamento de consumo de cada um antes de se unir acaba
sendo levado para o casamento”, afirma Ferreira. O economista explica, porém,
que o casal precisa compreender que o comportamento de consumo agora é a dois.
“Nesses casos, o pior erro é exatamente não fazer uma programação de gastos”,
considera.
Se eles conseguirem manter um planejamento antes do casamento, depois do
“sim”, tudo fica mais simples. Para Mário Amigo, da Fipecafi, isso é uma questão
de tempo. “Quanto mais cedo eles tiverem essa conversa e fizerem esse
planejamento, mais fácil será essa adaptação, porque você amadurece esse
planejamento e age com menos impulso”.