Quando ela ou ele passa, todo mundo tira o olho da tela do computador, para
de falar ao telefone, interrompe o envio daquele e-mail importante. Trabalhar
com profissionais considerados bonitos pode distrair e fazer muitos perderem o
foco. Os impactos na produtividade e no desempenho da equipe, contudo, ainda não
são certos. Também não há consenso sobre se há mais vantagens que desvantagens
em ter ao lado alguém que chama a atenção pela aparência.
O que é consenso entre os especialistas ouvidos é o fato de que ele ou ela
desconcentra os colegas, ao menos no primeiro contato. “A princípio prejudica,
mas, com o tempo, cai no comum e a pessoa passa a não chamar tanto a atenção”,
acredita o diretor executivo da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Marshal Raffa.
O diretor de Operações da consultoria de RH Human Brasil, Fernando Montero da
Costa, acredita que conviver com um colega considerado atraente mais atrapalha
que ajuda. “Mas isso também vai depender da personalidade”, avalia. “Se ela for
estritamente profissional, ela conseguirá desviar a atenção para os resultados”,
afirma.
Os efeitos da beleza
Para líderes e colegas, a presença de um profissional atraente gera efeitos
diferentes, dependendo do gênero desses profissionais, se homens ou mulheres.
Para os especialistas, a profissional bonita causa mais efeitos com a equipe e
líderes do que os homens. Segundo Costa, no caso deles, pode haver suspiros
entre as colegas. Entre os colegas, a competição, na sua avaliação, é mais
racional. “Eles preferem mostrar competência. A competição maior entre eles é
pela influência”, avalia.
Já quando o profissional atraente é uma mulher, a situação complica. “Elas
são mais prejudicadas, porque elas têm de mostrar mais resultados para provarem
que são competentes”, explica Raffa. Ele explica que existe nessa visão uma
questão cultural: por muito tempo, dizia-se que as mulheres bonitas só eram
aceitas pelo mercado devido à própria beleza. “Essa percepção está sendo
quebrada, mas ainda existe”, completa Raffa.
Com isso, são mais elas que eles que trabalham mais para mostrar seu
potencial. De acordo com Raffa, elas acabam sendo prejudicadas até em processos
seletivos externos e internos. “Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostra que
o homem bonito tem 50% mais chance de conseguir uma oportunidade que as mulheres
bonitas”. Segundo ele, o fato é que o RH, constituído em grande parte por
mulheres, acaba barrando as mulheres ditas atraentes.
Diante dos líderes, as mulheres também acabam levando desvantagem, na
avaliação dos especialistas. “As mulheres acabam sendo mais incomodadas pelos
outros e acabam até sofrendo assédio moral, principalmente diante das colegas, e
até assédio sexual, no caso dos colegas e líderes”, diz Costa.
No caso dos homens, mesmo quando as mulheres estão no comando, eles não
sentem tanto essa amolação. “As mulheres que lideram homens bonitos são bem mais
discretas quanto a isso e até sabem lidar melhor com esse tipo de situação”,
avalia Costa.
O poder da beleza
Todas essas questões, contudo, podem passar a ser secundárias, se os
profissionais que chamam a atenção pela aparência apresentarem uma postura
profissional. “A questão da vaidade não deve se sobressair, mas, sim, os
resultados”, enfatiza Raffa. Para ele, existem riscos de esses profissionais
ficarem deslumbrados com o assédio – e isso vai prejudicá-los mais do que os
colegas.
Para Costa, o mercado ainda vê com bons olhos profissionais atraentes, embora
eles não tenham prioridade na escolha. “Ainda vivemos em uma sociedade na qual a
imagem ainda conta. Mas não é justo que homens e mulheres sejam favorecidos por
critérios subjetivos”, considera Costa.
No fim das contas, para os especialistas, é importante que os profissionais
mantenham a aparência em dia. Contudo, eles devem olhar mais para os resultados
do seu trabalho.