Houve um tempo em que ter uma graduação se configurava como grande
diferencial para o mercado. Anos em que poucas instituições ofereciam escassas
vagas, sobretudo em instituições públicas. Essa realidade mudou, mas a de outros
cursos parece trilhar um caminho semelhante.
Os programas de mestrado e doutorado também passam por um crescimento
expressivo. Em 2001, eles eram 1,5 mil, mas em oito anos subiram para 2,7 mil.
Desta forma, o número de mestres e doutores titulados no Brasil dobrou nos
últimos anos, passando de 26 mil no ano de 2001 para 53 mil em 2010, segundo a
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Só em 2010,
foram 41 mil novos mestres.
O número é positivo, mas aponta mais que o desenvolvimento de novos
pesquisadores no País. “Como apenas um curso universitário não provoca mais o
interesse de um contratador, muitos começam um mestrado na área para agregar
conhecimento e enriquecer o currículo, mesmo sem avaliar criteriosamente como
este mestrado vai contribuir para o seu desenvolvimento”, explica o
diretor-geral da Thomas Case e Associados, empresa de consultoria em carreiras,
Norberto Shadad.
Carreira
O crescimento da oferta de cursos de mestrado proporciona maior acesso aos
graduados, mas essa capacitação nem sempre será avaliada como um diferencial na
hora de avaliar o currículo, alerta Shadad. “Na média, as pessoas avaliam pouco,
entram no curso sem um foco ou sem saber no que efetivamente esse curso de
mestrado vai agregar nas suas funções, e o tempo e dinheiro investido podem
acabar se perdendo”, constata.
Shadad recomenda que antes de buscar um curso de mestrado, o aluno faça um
exercício de avaliação das competências e planejamento de carreira, para não
incorrer em um erro estratégico. “Vemos muitas pessoas cursando um mestrado
antes mesmo de dominar um segundo idioma ou buscar uma capacitação mais focada
no seu segmento de atuação. Se os alunos pensarem apenas na certificação ou
diploma, não terão o aproveitamento e o conhecimento que o mestrado pode
proporcionar para eles", analisa.
Além disso, lembra o consultor, o mestrado não deve ser utilizado como uma
forma de corrigir um rumo da carreira ou para iniciar uma troca de área ou
empresa. “Para isso, existem recursos e ferramentas mais adequadas, como o
coaching. É necessário ter em mente, antes de procurar uma segmentação, quais as
competências e quais os caminhos determinados o profissional busca ou prefere”,
orienta.
Não se trata de contraindicar os mestrados, garante o consultor. É uma
questão de perfil, foco, escolha e planejamento. “Alguém que deseja entrar na
carreira acadêmica, conduzir um projeto de pesquisa ou visa um doutorado na
sequência, por exemplo, tem plenas condições para buscar essa capacitação”, diz
Shadad.
Mercado
O diretor-geral da Thomas Case e Associados acrescenta que estão enganados
aqueles que pensam que a simples menção do mestrado os diferencia dos outros
profissionais que estão concorrendo a uma vaga no mercado de trabalho. “É claro
que tudo depende de determinada circunstância, mas antes de qualquer situação
será levado em conta o perfil de determinado candidato, suas competências,
potencialidades e histórico. O mestrado só agregará em determinada entrevista ou
vaga se fizer algum sentido dentro da trajetória e projeto profissional”,
reforça o especialista.
Para Shadad, embora a realidade do crescimento dos mestrados não seja igual
ao contexto do boom verificado nos cursos de graduação nas últimas décadas, o
senso comum indica uma mentalidade parecida. “É uma questão que está entranhada
na nossa cultura: as pessoas tendem a pensar que qualquer tipo de escolha que
agregue conhecimento vá incrementar seu currículo imediatamente. Só que não é
uma questão de quantidade, mas de foco, perfil, qualidade e como usar
determinado conhecimento”, orienta.