Para muitas mulheres, o momento de afastar-se da empresa para ter um filho é
também um momento de preocupação, sobretudo pela possibilidade de perda de
espaço no mercado corporativo. A falta de contato com o mercado e o tempo
desconectado do mundo corporativo colocam muitas mulheres em situação de dúvida.
Para a gerente-geral da empresa de recursos humanos e carreiras, Right
Management no Brasil, Elaine Saad, esse momento se configura de acordo com a
posição estratégica e hierárquica que as mulheres ocupam na empresa.
“Se é uma executiva, gerente ou diretora, essa profissional já se programa
para não ficar distante da realidade da empresa. Por estarem em uma posição
estratégica, muitas vezes preparam alguém para sua posição e organizam seu
período de afastamento”, explica Elaine. A consultora acrescenta que as
gestantes de cargos mais operacionais acabam tendo uma situação diferente.
“Normalmente, em cargos mais operacionais, o aviso é direto ao RH e a empresa
apenas substitui a funcionária, sem um planejamento mais específico”, destaca.
O proprietário da MQS Consultoria e Treinamento Empresarial, Paulo Queija,
sugere que as mulheres usem o tempo de afastamento para se manterem atualizadas.
“Podem optar pela leitura, cursos online, cursos presenciais ou aulas de
idiomas. Podem ainda se conectar a redes sociais e atualizar o networking. Desta
forma, o tempo de licença pode até agregar conhecimento, e as mulheres podem
retornar ao mercado sem enfrentar tantos problemas”, destaca.
Queija acrescenta que a comunicação com a empresa é fundamental para
determinar como se dará o futuro da gestante após seu retorno. “Há casos de
profissionais que saíram e, por sua experiência e conhecimento, passaram até
dois anos se dedicando à criação do filho, mas voltaram numa situação muito
parecida com a que tinham antes de serem mães. Há ainda quem tenha negociado com
a própria empresa onde trabalha, continuando a atuação em casa depois que o
tempo de licença terminou”, relata.
Recolocação
Muitas gestantes preferem, no entanto, se desligar da empresa para se
dedicar com mais atenção ao filho. Nessas situações, em que as profissionais
buscam recolocação, e contarão com um período “vazio” no currículo
(correspondente ao período de afastamento), a orientação dos consultores é
abordar a gravidez como uma situação normal.
Elaine Saad diz que a decisão de se afastar para cuidar do filho deve ser
encarada como uma escolha feita pela profissional, sem a criação de pretextos,
histórias ou justificativas. “Não existe nada mais adequado do que a
verbalização da verdade absoluta. Ao buscar uma nova colocação, ela deve
comunicar ao recrutador ou empresa sua decisão de se afastar para não prejudicar
sua antiga empresa ou simplesmente sua opção pela dedicação integral à
maternidade”, aconselha.
Queija acrescenta que não será apenas o período de seis meses ou até um ano
fora do mercado que vai inviabilizar ou impedir a recolocação da profissional no
mercado. “Também por isso a necessidade de que as trabalhadoras se mantenham
informadas, atualizadas, com cursos e contatos. É importante mostrar que esse
período não foi apenas um vazio no currículo, mas uma escolha fundamentada e
planejada”, aponta.
Elaine acrescenta que as competências e qualidades de cada profissional serão
avaliadas na hora da recolocação, ainda que a profissional tenha ficado afastada
por algum tempo. Na avaliação da consultora, a resistência de algumas empresas à
gravidez é cada vez menor. “O assunto é tratado de forma muito mais aberta,
então as mulheres também não se colocam em uma posição de inferioridade. A
maternidade é parte da vida delas, e deve ser assimilada dentro do planejamento
profissional e empresarial”, alerta.