Em recente conversa com um conhecido, surgiu uma insossa discussão acerca do
cheque especial. Ouvi, no calor de debate, que cheque especial e cartão de
crédito não são como um empréstimo “normal”. Normal, como assim normal?
Empréstimo significa pegar dinheiro dos outros e devolver com juros, certo?
Quanto mais fácil o dinheiro chega, mais caro fica o prêmio. Simples assim.
O coro ganhou força e a conversa finalmente terminou em algo que deveria ser
óbvio e, por isso, totalmente evitado: a facilidade oferecida pelo cheque
especial ou pelo rotativo do cartão de crédito é o grande “diferencial” dessas
modalidades, o que torna tais alternativas caríssimas. Até aqui, nenhuma
novidade.
Adivinhe qual é o primeiro recurso usado pelos endividados? Pois é, um dos
mais caros, o cheque especial. Ora, dinheiro do cheque especial é empréstimo sim
senhor. Mais, usar crédito fácil implica disposição (mais dinheiro ainda) para
pagar caro pela “facilidade”. Admira que para uma parcela da população a coisa
se transforme em uma bola de neve e termine quase sempre em enorme desespero?
Confesso estar me sentindo, mais uma vez, repetitivo. Mas o alerta é
importante e algumas estatísticas comprovam que minha chatice e insistência
ainda são necessárias. Antes dos números, a regrinha básica do uso consciente do
crédito: dinheiro fácil é dinheiro caro. No final das contas, dinheiro caro
custa muito mais do que só a dívida financeira. Quem vive a realidade de pessoas
endividadas sabe do que estou falando.
Que tal alguns fatos recentes?
O financiamento caro (leia-se cheque especial e cartão de crédito) está com
tendência de alta, conforme registra matéria recente do jornal Valor Econômico:
- O saldo do cheque especial subiu 20% nos primeiros cinco meses do ano,
chegando a R$ 15,6 bilhões;
- No mesmo período, o uso do rotativo do cartão de crédito cresce a uma
taxa de R$ 16%, para R$ 19,9 bilhões.
Como fica a inadimplência?
Os atrasos para pessoas físicas passaram de 7% em dezembro, para 7,3% em maio.
No cheque especial, houve queda de 10,6% para 8,9% no período. Será que a queda
representa mudança de consciência nos brasileiros? Tomara que sim. São boas
notícias, sem dúvida, mas que tal falarmos do cartão de crédito? Nossa, a
inadimplência no rotativo se aproxima dos 25%. É muita gente devendo!
Fuja do dinheiro fácil!
As dicas para evitar as armadilhas do crédito caro são simples, como você já
deve imaginar. Aliás, a grande maioria delas (todas) você já conhece. Que tal
colocá-las em prática ou fazê-las chegar a quem precisa de uma mão amiga?
1. Evite os estabelecimentos com fachadas muito coloridas e
insinuantes, que normalmente trazem cartazes ou anúncios do tipo “Dinheiro
fácil, entre aqui”. Este tipo de dinheiro é tão perigoso (leia-se caro)
quanto o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito. Costumo dizer que o
templo do dinheiro não são os bancos ou financeiras, mas o trabalho e a
disciplina;
2. Investigue alternativas mais baratas de crédito e use-as para
cobrir eventuais dívidas muito caras que estejam em andamento. Se você
deve no cartão, então paga cerca de 10% ao mês de juros. Não sabia? Ora, busque
um empréstimo tipo CDC, por exemplo, e troque a dívida muito cara por outra mais
barata. Evite ao máximo usar o limite do cheque especial;
3. Ah, sim, prefira poupar e comprar à vista. A dica
clássica, mas essencial. Dê um tempo para o consumismo e para as expectativas da
sociedade. Pense mais em você e em seu futuro financeiro, coisa que a sociedade,
seja lá o que ela represente, não faz - e não fará - por você.
Consumo consciente significa mais do que apenas comprar o necessário.
Significa comprar o necessário em condições comerciais favoráveis, inteligentes
para o seu bolso e que não prejudiquem seu fluxo de caixa futuro e seus
investimentos. Você pode!