"No passado nada está irremediavelmente perdido, mas está tudo
irrevogavelmente guardado" - Victor Frankl. Já que comecei citando uma
frase de Victor Frankl, cabe escrever algo a respeito deste conceituado e
respeitado neurologista e psiquiatra que morreu em 1997. Frankl foi prisioneiro
durante longo tempo em campos de concentração nazistas onde seres humanos eram
tratados de forma cruel, sendo na maioria exterminados em câmaras de gás, e cuja
experiência levou-o aos limites entre o ser e o não-ser.
A partir de suas observações do comportamento dos prisioneiros, dos guardas
da "SS", dos encarcerados com privilégios e de si próprio, Frankl desenvolveu o
conceito de Logoterapia, que é conhecida como a Terceira Escola
Vienense de Psicologia. Ao ser libertado, escreveu o livro Em Busca de Sentido -
Um Prisioneiro no Campo de Concentração, onde conta a experiência que o levou à
descoberta da logoterapia.
Como o termo "logos" é uma palavra grega e significa "sentido", esta
teoria concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa
por este sentido. Assim, esta escola psicoterapeuta parte do princípio que a
busca de sentido na vida é a principal força motivadora no ser humano.
Voltemos então à citação inicial sobre o passado. Ao desenvolver planos de
ação com meus clientes e participantes dos meus cursos de coaching,
noto que há sempre um receio de pensar em metas futuras, pela sombra da dúvida
em ser capaz de se manter focado, persistente e atingir o objetivo. O passado
exerce aí uma de suas duas forças paradoxais: aparecem as crenças limitantes que
nos desestimulam a tentar novamente.
Como coach, cabe a mim neste momento mostrar a outra força que
reside no passado: que todas as suas conquistas, superações e experiências
vividas, nada, nem ninguém lhe podem tirar. Suas realizações, suas idéias, o
crescimento interior que conquistou e até seu sofrimento estão para sempre
assegurados e salvos na realidade do passado.
Assim, por mais difícil que nos pareça o desafio à nossa frente, devemos
buscar forças nas realizações passadas e, principalmente, alcançar novas
enquanto vivenciamos a busca de valores mais profundos como: a alegria, a
honestidade, a tranquilidade, o reconhecimento e o amor. O sucesso chega como
consequência da vivência destes valores, e não como geralmente se apregoa que,
só após o sucesso encontraremos a felicidade.
Em um mundo onde o prazer imediato pode ser comprado pelo dinheiro em lojas,
farmácias, cinemas e "altas baladas", o ser humano perde cada vez mais o
entendimento de qual é o sentido de sua vida. E de acordo com Frankl, este
entendimento deve ser único e individual, sendo geralmente descoberto fora de
nós mesmos, através de três possibilidades:
1- Do caminho da realização, quando nos aplicamos a um projeto ou ao trabalho.
2- De vivenciar a experiência da bondade, da verdade, da cultura e da natureza,
ou dedicar-se às pessoas a quem amamos ou temos afeto.
3- Ou pela forma que encaramos e reagimos aos sofrimentos inevitáveis.
Podemos nesta terceira possibilidade lembrar o atual conceito de resiliência,
um termo que vem da física e que aqui significa a capacidade humana de superar
tudo, tirando proveito dos sofrimentos, inerentes às dificuldades. O resiliente
é aquele que se recupera e molda-se a cada "deformação" - obstáculo -
situacional, e a cada desafio. Podemos observar que quanto mais resiliente é o
indivíduo há menos doenças e perdas, e mais desenvolvimento pessoal é alcançado.
Temos que ter senso de "pertencimento" - pertencermos a um lugar, a uma
família, a uma comunidade; iniciativa e perseverança, confrontando o que é
possível, e aceitando o que não pode ser mudado; e nos transformarmos através do
aprendizado adquirido das adversidades.
Fica aqui um convite: na próxima adversidade - e ela virá -, busque a
resiliência, ouça com mais atenção a sua sábia voz interna e, certamente, lá
você encontrará o seu sentido. Então viva intensamente. "Pois o passado
também é uma dimensão do ser, quem sabe, a mais segura" - Victor Frankl.