Apesar de os preços serem mais convidativos, o comprador pode perder em
tecnologia e tempo de manutenção
Preços de carros saindo de linha ou que serão remodelados, podem compensar
depreciaçãoPromoções, ofertas de opcionais e ótimas condições de pagamento
são tudo aquilo que um interessado em comprar um automóvel gostaria de obter de
um vendedor. Impossível? Nem sempre. Principalmente se estivermos falando de um
modelo que ganhará uma nova versão ou deixará de ser produzido pela montadora em
breve. Mas vale a pena comprar um veículo prestes a sair de linha? Muitas vezes
é uma boa idéia, dizem especialistas.
Uma das grandes vantagens em adquirir um veículo, seja aquele que esteja para
sair de linha ou que irá passar por uma remodelação, são as promoções e
vantagens oferecidas pelas lojas ao cliente. Trata-se de um negócio que pode ser
vantajoso para ambas as partes. As montadoras precisam limpam seus pátios para o
próximo lançamento. Já o consumidor sai com um carro 0 km da loja por um preço
que pode se encaixar direitinho no orçamento.
Se é um bom negócio comprar um veículo que será redesenhado ou não, depende do
tempo que se pretende rodar com ele. No momento em que um carro 0 km é
licenciado, ele automaticamente sofre uma desvalorização que vai de 10% a 15% do
valor. Por isso, pode ser uma vantagem para quem pretende ficar mais de dois
anos com o carro e uma má notícia para quem troca de modelo a cada ano.
"Se você rodar por mais de dois anos com um veículo, a depreciação ao longo dos
anos será compensada pelo bom preço que foi pago na hora da compra", explica
Paulo Roberto Gorbassa, professor da pós-graduação em Gestão Automotiva da FEI.
"Agora, se você quiser trocar o veículo em menos de dois anos, ele será um
seminovo, independente de ter rodado pouco. Portanto, suscetível a
desvalorização."
É preciso também levar em consideração que um veículo 0km será sempre
considerado novo independente do modelo ou do ano de fabricação. "Essa história
de que o carro tem que ser o último lançamento é bobagem. Algumas montadoras já
lançaram modelos 2011 numa estratégia para antecipar o desejo do consumidor",
explica Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional da Distribuição de
Veículos Automotores (Fenabrave).
O consumidor deve verificar se a nova versão de um veículo inclui mudanças
estruturais ou apenas cosméticas. Um carro que ganha pela primeira vez uma
versão flex pode ser considerado um carro que se aprimorou de um ano para o
outro. No entanto, muitas vezes um modelo simplesmente ganha faróis com um
design novo, por exemplo. "É comum que as diferenças entre uma versão e outra
sejam mais no acabamento que na estrutura básica do motor", diz Reze.
Fim da linha
Em relação aos carros que irão efetivamente sair de linha, a preocupação com
relação à manutenção e à rede de fornecimento de peças é pertinente. Apesar do
carro ainda ser um 0 km, a revenda no futuro pode ser mais difícil. "Ele não
deixa de ter seu valor no mercado, mas isso vem amarrado à dependência que a
pessoa irá ter nas lojas ao trocar as peças", esclarece Edson Esteves,
engenheiro mecânico e professor da FEI.
Com o passar do tempo, a dificuldade em se conseguir peças para o automóvel
ficam mais difíceis. "Apesar das montadoras serem obrigadas por lei a manter a
linha de produção das peças destes veículos por até 10 anos, em cinco anos já
nota-se a dificuldade em encontrar as peças e assistência técnica para o
veículo", explica Esteves.
Exemplo desta situação é o caso do jornalista Mahani Siqueira, proprietário de
uma Elba 96. De acordo com ele, o problema na manutenção do automóvel, herdado
do pai, nunca foi achar um mecânico para realizar os reparos nem a falta de
peças, mas sim o tempo que leva para ter o carro de volta na garagem depois de
qualquer tipo de manutenção.
"As peças existem, mas os mecânicos dificilmente contam com elas em mãos para
consertar o veículo num curto período de tempo", explica o jornalista. Ainda
segundo Siqueira, em situações nas quais um carro "em linha" demoraria cerca de
duas semanas para ser consertado, ele teve de aguardar mais de um mês para
voltar a dirigir sua Elba.