Pesquisar e refletir antes de comprar imóvel é salutar para o conforto e para o
bolso; precipitação pode significar prejuízo no presente e transtorno no futuro
A compra de um imóvel não pode obedecer a impulsos. Decidir sem pesquisar e
refletir pode trazer transtornos futuros, e até mesmo prejuízo financeiro. No
calor do estímulo da propaganda dos Feirões da Casa Própria, que tem como
chamariz o quase irresistível sorriso do ex-craque de futebol Raí, é difícil
conter o impulso de sair comprando o primeiro imóvel que, teoricamente, tem
prestações que cabem no bolso. Antes de decidir pela compra que vai comprometer
o orçamento doméstico pelos próximos 30 anos, melhor é refletir, para tomar a
decisão mais acertada.
Independente de encontrar a prestação compatível com a �profundidade� imediata
do bolso, vale refletir sobre as �variáveis relevantes� que terão influência
futura no conforto cotidiano.
Por exemplo: se você mora no bairro Aricanduva, na zona Leste da cidade de São
Paulo, e trabalha na Barra Funda, uma viagem de metrô (ou, no máximo, um ônibus
mais metrô) resolvem a locomoção diária. Será diferente (ao menos, por ora) se
você comprar imóvel em um bairro da zona Sul. Além de assumir a prestação, você
assumirá também o ônus de mais duas horas (uma para ir, outra para voltar) no
trânsito diário. Cinco dias úteis por semana, quatro semanas ao mês, 11 meses ao
ano (12, se as férias forem vendidas), e você furtará ao convívio familiar 440
horas, anualmente.
Nos Feirões pelo Brasil afora serão encontrados corretores e agentes financeiros
capazes de informar tudo sobre as qualidades dos imóveis, as condições de
financiamento e o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Dificilmente será encontrado um profissional que, antes de vender, pergunte
sobre a relação entre o endereço do seu trabalho e a moradia atual, a
importância que os seus filhos atribuem em permanecer no lugar onde estudam, a
relevância da proximidade de parentes para o bom desempenho da lide cotidiana.
Distância medida em dinheiro - Como no caso de qualquer outro bem, para realizar
uma boa compra de imóvel é necessário pesquisar com antecedência. Há casos em
que 600 metros podem fazer uma enorme diferença.
Perdizes e Barra Funda são bairros vizinhos, que têm como um dos limites a
Avenida Francisco Matarazzo. No lado da Barra Funda, no quarteirão imediatamente
após a avenida, inicia a Alameda Olga, onde um imóvel com 60 m2 custa cerca de
R$ 130 mil. Na mesma relação inversa (lado de Perdizes), um imóvel com 52 m2 na
Rua Cândido Espinheira é oferecido por R$ 140 mil (ambos usados, preço a vista,
prédios antigos, sem estrutura para lazer). A distância que separa os imóveis do
exemplo é inferior a 600 metros.
Um Feirão é, antes de tudo, uma vitrina para mostrar as várias opções
disponíveis para a realização do sonho da casa própria. Os produtos exibidos e
ofertados não são perecíveis, portanto, o recomendável é evitar a compra por
impulso. Ainda, �Feirão� não é �Sacolão�, ou seja: não há produtos em oferta com
preços especiais (não obstante a eventualidade de promoções), e nem condições de
financiamento diferentes das usuais.
Melhor mesmo é pesquisar. Antecipadamente e durante o evento, a grande maioria
dos imóveis, em especial os lançamentos que estarão expostos nos Feirões são
divulgados na mídia. Para efeito de pesquisa, o melhor veículo é a internet,
porque proporciona conhecer o produto com amplo detalhamento, fazer simulações
dos financiamentos, e comparar preços, tudo na intimidade do lar, sem tumultos e
sem pressões.
�Passar adiante� um imóvel não é simples como revender um automóvel. Verificar
preços em localizações limítrofes, refletir em conjunto com todos os membros da
família, e só então decidir pela compra é a forma de realizar um negócio
consistente, que trará como resultado a propriedade do imóvel que melhor se
aproxima do desenho satisfatório da moradia que atende as aspirações, aí
incluídas as �variáveis relevantes� que fazem parte do cotidiano familiar.