No meu entendimento, a análise deve ficar mais em torno dos aspectos
comerciais dos nossos cereais e leguminosas, pois no campo médico, neste
momento, entidades privadas e governamentais, renomadas e respeitáveis, defendem
com bons argumentos a noção de que os transgênicos não são prejudiciais à saúde.
De outro lado, defendendo o ponto de vista contrário, também existem entidades
com as mesmas boas qualificações, em cuja companhia me sinto muito confortável.
Por que defendo a posição que a produção de soja transgênica não deve ser
analisada somente sob o aspecto médico?
1. Existem alguns princípios em Medicina que dizem que “quando há riqueza de
explicações é porque há pobreza de conhecimentos”.
2. No caso das vacinas, por exemplo, há comprovação científica convincente.
Mas se não existe essa comprovação, EXISTE RISCO!
3. Médicos apreciam modernidades COMPROVADAS.
4. A literatura mundial tem mostrado erros escandalosos, os quais existem até
em países do assim chamado “Primeiro Mundo” . É só lembrar o caso Doença da Vaca
Louca, acontecido na Inglaterra, onde a população foi enganada durante anos,
sobre a afirmação de que a B.S.E. (Encefalopatia Espongiforme Bovina) não
ocorria em humanos. No final ficou comprovado que a contaminação estava
ocorrendo de fato, acometia também pessoas jovens e era a variante humana da
Doença da Vaca Louca.
5. Não podemos deixar de mencionar, entre outros fatos, a tragédia da
Talidomida que comprometeu cientistas e autoridades.
6. Por outro lado, alerto que existem centenas de alimentos nos supermercados
que possuem na sua composição O.G.M., ou seja, Organismos Geneticamente
Modificados.
Enquanto que na Europa a lei de rotulagem está exigindo que quando um alimento
possuir mais do que 0,5% de elemento transgênico este dado seja colocado no
rótulo, no Brasil estamos defasados na lei da rotulagem: nossa lei exige que
somente quantidades superiores a 4% é que devem ser indicadas no rótulo. No meu
entender esta quantidade é elevada e se constitui num desrespeito ao consumidor.
Podemos concluir comentando o fato de que existem muitos cidadãos surpreendidos
com ataques alérgicos inexplicáveis – na verdade o que pode ter acontecido é
haverem consumido produtos dos quais desconhecem a verdadeira composição por
falta de uma rotulagem adequada.
A partir daqui analisemos o cerne da questão: Onde estão os problemas e qual
a análise mercadológica?
1° - Não está provado que a produção de transgênicos é mais barata e que aumente
a produtividade.2° - Combater a fome com a produção de transgênicos também
não é argumento, pois o problema não é de Produção, que já é suficiente no
mundo, mas de MÁ DISTRIBUIÇÃO.
3° - Não quero entrar nos objetivos da empresa monopolizadora que, ao comprar
a patente da tecnologia chamada “Terminator” – que faz com que a segunda geração
de sementes torne-se estéril – nos obriga a comprar sementes novas para cada
safra, desta maneira quebrando uma tradição de 10.000 anos – na qual, pelo
processo natural, as sementes se perpetuam e conservam a capacidade de se
reproduzirem.
Pergunto: - Qual é a defesa que o Brasil teria contra o “Terminator”?
Agora vejamos:
- O Brasil é o único entre os grandes produtores que proibiu o plantio, até o
momento, dos transgênicos.
- A Comunidade Européia, com seus 450 milhões de habitantes, o Japão, com
mais de 100 milhões de habitantes e a China, que será a maior potência mundial
nos próximos anos, com uma população de um bilhão e meio de habitantes, AINDA
CONSEGUEM IMPORTAR SOJA NÃO TRANSGÊNICA! Estes países necessitam da nossa soja
tradicional, por demanda de seus povos e o Brasil, que tinha 24% do mercado
mundial, já está com 36% do mercado e a tendência é subir em quantidade e preço.
- Atualmente, exportamos para a Europa e Japão a maior parte da nossa
produção de soja não modificada.
- Com todo o respeito que tenho pelos países desenvolvidos, as Empresas
Multinacionais, como o próprio nome está dizendo, não podem ter bandeira, embora
possam ter conflitos com seus países de origem.
- Sob o ponto de vista mercadológico é absolutamente irracional discutirmos o
assunto! Nenhuma análise sob qualquer argumento, pode nos fazer abrir mão de um
mercado cativo, ávido e certo, sob pena dos produtores brasileiros perderem o
mercado internacional e RENDAS!
- Lembro também que esta é uma via de mão única – se não fizermos a opção
certa, os transgênicos a farão irreversivelmente, pois a contaminação da soja
tradicional pela transgênica é certa, e acabaremos irremediavelmente dependentes
de tecnologias dispendiosas.
Para finalizar, recomendo – entre as centenas de manifestações na mídia
mundial a respeito do assunto – a entrevista do Dr. Mohamed Habib, professor
titular do Instituto de Biologia da UNICAMP, um dos maiores especialistas em
biologia vegetal no País, encontrada em http://www.biodiversidadla.org/article/articleview/3751/1/15
, publicada em 24/10/2003.
Portanto não podemos desviar a atenção da polêmica dos transgênicos para o
ponto de vista médico, mas sim tentarmos fazer com que não seja alterado o que
está funcionando bem, ou seja, estamos entre os primeiros no mundo porque temos
compradores ainda cativos.