O ambiente corporativo é repleto de profissionais que nada tem a vem com o
cargo que ocupam ou a função que exercem. Isso pode nos conduzir a três
raciocínios distintos: a pessoa está na função errada; a pessoa fez o curso
errado; a pessoa é parente, amigo e afilhado de alguém influente na empresa ou
mesmo do profissional responsável pela vaga. Por conta dessa característica
generalista, as empresas acabam contratando profissionais totalmente desfocados
e muitas vezes inaptos para o exercício do cargo.
Em pleno século 21, isso nunca foi privilégio exclusivo da política. Nas
empresas também existem os apadrinhados, os protegidos, os indicados, os bem-
relacionados, os amigos dos nossos filhos, da esposa do dono e os filhos dos
nossos amigos, os quais, por razões perfeitamente explicáveis, caem numa
determinada função e resistem por muito tempo até que a clava do destino os
encontre.
Isso é comum e vale desde os tempos dos faraós do Antigo Egito que, por uma
questão de lealdade, afinidade e cumplicidade, preferiam indicar e proteger
pessoas de sua confiança para manter a prosperidade do reino e quitar dívidas de
gratidão com seus respectivos súditos e correligionários.
Na maioria das corporações, é natural ver os executivos formarem suas
próprias equipes e, salvo raríssimas exceções, são poucos os que conseguem
resistir à tentação de trazer amigos ou parentes para perto de si. Assim nascem
os feudos. Algumas empresas são mais conscientes e tentam inibir essa prática
mediante aplicação de uma política clara a respeito, algo que nem sempre
funciona à risca.
O problema não está na indicação propriamente dita, mas na inércia da
substituição, tempos depois, quando o diagnóstico aponta uma indicação errada, o
que é facilmente perceptível nos primeiros meses de atuação do indivíduo. O fato
é que demitir amigos, parentes e afilhados não é tão simples assim. Organizações
inteiras desaparecem da noite para o dia porque, durante muito tempo, diretores
e gerentes mantêm na equipe pessoas que não sentem o menor prazer em estar ali,
mas aproveitam as benesses do cargo e sugam a empresa até o último dia, em nome
de um relacionamento que vira pó no dia seguinte.
Empresas conscientes sabem aproveitar as competências específicas de cada
profissional e extrair o melhor da diversidade. O que prevalece é a técnica, a
formação, a experiência, a capacidade de se adaptar, de formar um time e de
responder assertivamente aos interesses da organização. O sucesso do Google, da
Apple, da Microsoft e da The Body Shop não acontece por acaso. São empresas que
sabem conviver com todas as cores, culturas, credos e religiões, ingredientes
que estimulam a potencialização da criatividade.
A formação de feudos organizacionais inibe a criatividade, o debate e a
lógica. Em vez de estimular o crescimento, acirra a competição, estimula a
fofoca, desestimula o aprendizado. Mais dia, menos dia, todo feudo criado em
benefício próprio tende a ser desmoronando, não importa se é de origem familiar,
de um círculo de amigos ou de uma coalização dentro da empresa.
O mundo está caminhando cada vez mais para a diversidade. Não há mais como
distinguir entre o preto e o branco, o católico e o muçulmano, o gordo e o
magro, pobre e o rico, o calvo e o cabeludo, e assim por diante. Embora sejam
características distintas, a convivência organizacional exige bom-senso,
respeito, limites, inclusão e igualdade de direitos e deveres.
Dizer que dez mil anos de história vão nos transformar em santos da noite
para o dia é pura hipocrisia, porém admitir que somos diferentes uns dos outros
e que cada um é especial à sua maneira é um grande começo. A maioria das pessoas
é boa numa determinada competência e isso é algo que o apadrinhamento, na ânsia
de querer ajudar, não consegue perceber. Ao contrário, indicar alguém inapto
para o cargo pode significar desperdício de talento e de energia vital.
Como diz aquela famosa fábula anônima dos animais, se o meu dom é a escrita,
o seu pode ser a fala; se o meu é correr, o seu pode ser caminhar devagar; se o
meu é voar, o seu pode ser nadar. Portanto, não importa o dom, o credo, a cor e
a cultura, cada um do seu jeito completa o outro de algum modo. Nesse sentido,
os feudos corporativos nunca evoluem. Para eles, a diversidade é prejudicial,
pois seus líderes precisam justamente de pessoas que pensem como eles para
manter o sistema.
Quando aceitamos as pessoas como elas são, mesmo quando diferentes de nós
mesmo, aproveitamos as vantagens da diversidade e, sejamos honestos, o discurso
é muito bom, mas na prática, o ser humano continua altamente seletivo e
discriminador. Respeitar as diferenças e conceder a elas oportunidade é o
primeiro passo para tornar o ambiente corporativo melhor. Nenhuma organização
resiste ao pensamento exclusivamente do líder e seus respectivos protegidos.
Pense nisso e seja feliz!