Uma das poucas coisas boas que se tem ao ficar desempregado – se é que ela
existe – é poder dormir além da conta, ver TV no meio da tarde e ficar algumas
horas sem fazer absolutamente nada. Pois saiba que pode ser na calmaria de uma
tarde chuvosa que o telefone toca e, sem perceber, você elimina uma futura
entrevista de emprego por pura falta de atenção.
Na maior parte dos casos, o seu primeiro contato com a empresa vai ser por
telefone. Normalmente, as empresas ligam para confirmar os dados, saber se o
profissional atende aos pré-requisitos da vaga e, dependendo do perfil do cargo,
também pode ser feita uma entrevista com o profissional. “Em São Paulo e no Rio
de Janeiro, este contato por telefone é muito comum. Mas nas outras regiões do
Brasil, como Nordeste e Sul, esta prática não é tão conhecida, sendo que algumas
pessoas chegam a ficar desconfiadas e suspeitar da idoneidade da consultoria”,
afirma Lara Rossetti Machado, coordenadora da área de Recrutamento e Seleção de
Executivos e Especialistas da Across Recursos Humanos. Além de confirmar dados
como nome, idade, formação e experiência profissional, a ligação tem como
objetivo maior facilitar o trabalho de ambos, já que o candidato é logo
eliminado se não atender aos requisitos da vaga. “Se o profissional quer ganhar
2.500 reais e só podemos pagar 1.200 reais, já conversamos isso pelo telefone, e
ele não precisa ter o trabalho de vir até a consultoria e ouvir que o salário
que podemos pagar não interessa a ele”.
Em níveis hierárquicos mais altos, como gerentes, diretores e presidentes, a
conversa pode alongar-se ainda mais. Nestes casos, Lara afirma que a conversa
vira quase uma entrevista, podendo durar entre 20 e 30 minutos para gerentes, e
até uma hora com profissionais de nível diretoria para cima. Ela conta que
quanto maior a experiência e o cargo, mais o profissional tem que falar e a
consultoria precisa saber, para ter a certeza se a pessoa está ou não dentro do
perfil pedido pela empresa, e assim ser chamada para uma entrevista pessoal. “Ao
receber a ligação, é fundamental que o profissional possa falar abertamente, sem
rodeios. Por isso, se ele estiver na empresa em ou algum lugar onde não possa
falar com tranqüilidade, a melhor coisa é explicar ao recrutador que não pode
falar no momento e combinar outro horário mais adequado”, alerta a coordenadora
de R&S da Across.
Confira o que normalmente as empresas, consultorias e headhunters querem
saber quando ligam para você pela primeira vez:
- Dados pessoais (nome, idade, formação e experiência profissional, se tem
outro telefone que possa entrar em contato);
- Nível de inglês e outros idiomas;
- Salário e benefícios (quanto ganhou ou está ganhando no último emprego e
quanto está disposto a ganhar);
- Para profissionais em nível gerencial ou que lideram equipes, quantos
subordinados ele tem ou teve no último emprego.
Como se planejar antes de receber um contato telefônico da empresa? Confira
as dicas dos especialistas ouvidos pelo Empregos.com.br:
- Faça um plano de carreira e tente seguir o que foi planejado, com
segurança e determinação.
- Ouça com atenção o que for dito, mas analise cada proposta
cuidadosamente antes de aceitar. Não precisa dizer sim no primeiro momento.
- Hoje em dia, o mercado de consultorias de recolocação e agências tem
apresentado denúncias por parte dos clientes (profissionais), já que muitas
empresas agem de má fé e cobram dos candidatos por participarem do processo,
mesmo antes deles conseguirem o emprego. Por isso, é importante verificar a
legitimidade do recrutador e da empresa contratante. Você pode -e deve-
buscar informações sobre a empresa, seja na Internet, em listas de discussão
e no Procon.
- Tenha sempre à mão um currículo atualizado, pronto para ser enviado.
- Se a conversa não interessar, descarte logo a oferta e encerre o
contato. Se quiser, ofereça-se para indicar outra pessoa para o cargo.
- Não se faça de difícil. Aceite encontros, retorne ligações e e-mails.
Coopere.
- Seja o mais franco possível. Sempre. Não omita seu nível de inglês ou
aumente sua remuneração atual, porque esses e todos os outros dados podem
ser verificados mais tarde, e aí pode ficar feio pra você.
- Dê nomes e telefones de suas referências. Isto mostrará que você nada
tem a esconder.
- Você até pode usar uma oferta para conseguir aumento no emprego em que
está. Mas cuidado: a estratégia pode ir por água abaixo se você estiver
apresentando um baixo rendimento ou mesmo se a empresa estiver em um período
de redução de custos: seu atual empregador pode ver a proposta como um
pedido de demissão.
Se por acaso a entrevista não der certo e a proposta não se concretizar, não
desanime. Estatísticas mostram que, de cada 200 pessoas consultadas para uma
vaga por um headhunter, talvez 20%, ou 50 candidatos, passem pelo primeiro
crivo, que cinco serão finalistas, e que apenas um terá o emprego. Não encare
uma rejeição como uma questão pessoal: o processo de busca objetiva um
profissional perfeito para aquele cargo, e se você não foi escolhido, certamente
foi bom ter acontecido, porque a vaga não era mesmo feita para você.