Olhei para a Lua e me lembrei de você...
Meu amor,
Me inspirei na Lua, em um texto bíblico e até mesmo na corrida espacial - (sim,
acredite!) - para dizer quanta saudade de você eu sinto neste momento. Espero
que você goste e se sensibilize...
“E viu Deus que era bom. E foi assim a tarde e a manhã do dia quarto.” – É o que
diz o livro do Gênesis para justificar que houvesse “luminares na separação dos
céus, para haver separação entre o dia e a noite... E fez Deus os dois grandes
luminares: o luminar maior para governar o dia e o luminar menor para governar a
noite; e fez as estrelas.”
E depois, num instinto criativo que ultrapassou a profícua Renascença, usou
suas imensas e hábeis mãos para criar répteis e bestas-feras, coisas verdes que
servissem de mantimento à sua última criação, o homem, chamado primeiro de Adão.
Mas, um peso divinalmente eterno tomou-lhe a consciência, e Ele percebeu, em
sua imensa sabedoria, que Adão precisava de uma adjutora, e usou suas mágicas e
vastas mãos para inventar-lhe a companheira. Então, Deus criou a mulher e disse:
“esta será a varoa, porquanto do varão foi tomada // Portanto, deixará o varão o
seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.
E ambos estavam nus, o homem e sua mulher; e não se envergonhavam.”
E foi exatamente depois disso, da separação entre o dia e a noite, que o
luminar menor passou, com sutil diplomacia mas total poder, a governar o maior.
E assim, a Lua passou a iluminar a salgada beleza das salinas e das praias, a
recortar com o efeito da sua penumbra os misteriosos desenhos das falésias, a
determinar marés e colheitas, a tornar mais férteis ou inférteis os ventres e os
terrenos.
Um dia, vestidos de amianto, os pés de Armstrong, descendente longínquo de
Adão, tocaram a Lua, o tal luminar menor que desde a eternidade alterna o seu
poder de governança em quatro fases. Mas nada mudou desde aquele passo: de
repente tudo se mostra minguante ou crescente, cheio ou brilhante; mas quase
sempre novo, para preservar a escuridão característica da surpresa e do
desconhecido.
E, agora, é a Lua que circula na órbita remota do meu sonho, na periferia de
um coração aparentemente improvável. Numa órbita em que não existem anéis
nebulosos, mas apenas o teu sorriso de madrepérola. E é lá, exatamente lá, que a
saudade de ti paira igual a um anjo.
Beijo grande,
(assinatura)