Declaração ao farmacêutico
(nome),
você já deve estar achando que eu sou hipocondríaca, de tanto que eu entro na
sua farmácia. No entanto, já percebeu que às vezes eu só entro para me pesar e
conferir se o meu corpinho continua atraente aos seus olhos? Aliás, deixa de ser
ganancioso e coloca de novo aquela balança antiga, que além de não ser tão exata
(o que sempre me deixava mais tranqüila), não era uma voraz devoradora de
moedinhas.
Diga-me uma coisa, senhor farmacêutico, será que este meu amor por você tem
remédio?
Você sabe que eu fico febril a cada vez que lhe vejo, mas o que me deixa mais
aflita é essa sua resposta vaga, esse seu olhar que não brilha mais do que duas
cibalenas velhas e que não me serve nem de placebo! Ai de mim, chego a ficar com
dor de cabeça só de pensar nisso! Acho que vou dar um pulo até aí só pra ver se
você me arranja um analgésico qualquer, um antipirético para acabar com este
calor que me invade, ou mesmo um comprimido efervescente qualquer que, se não
servir para nada, pelo menos vai valer para que eu veja você outra vez. Talvez,
então, eu aproveite para pedir que você tire a minha pressão, ausculte meu
coração ou me aplique qualquer coisa, bem na veia, só pra ver se eu me acalmo.
Puxa, como é caro conquistar o seu amor (aliás, como tudo é caro aí no seu
estabelecimento)! Você já ouviu falar em genéricos?
Querido farmacêutico, na verdade a minha esperança é te encontrar um dia,
saindo aí da farmácia, sem o tal jaleco branco que te deixa tão inacessível e
lindo, e perguntar-lhe logo, na cara dura, se você não que me dar uma injeção de
ânimo.
Um beijo da tua
(assinatura)