Declaração a um(a) juiz(a)
Não me julgue mal, Meritíssima.
Todos os meus atos têm atenuantes.
Não tome como falta de decoro a minha iniciativa de mandar flores para o teu
gabinete, muito menos a minha sugestão salomônica de que Vossa Excelência
dividisse o teu tempo entre mim e aquela pilha de processos.
Acontece que este meu processo é prioritário por várias razões: toda vez que
eu olho para Vossa Excelência penso na maior das condenações, pois imagino que
tocar o corpo que repousa sob a negra toga seria como enfrentar uma cadeira
elétrica em sua voltagem máxima.
Minha intangível, minha quase inacessível Minerva moderna, eu posso até ser
feio, mas ouvi dizer que a Justiça é cega e, assim, antes que batas o martelo e
me condene a uma paixão platônica, me escolha como teu réu predileto e me
julgue: não apenas uma vez, mas a cada dia, a cada minuto de cada uma das quatro
luas, especialmente as luas cheias.
Beijo do teu,
(assinatura)