Quais são as razões que levam o consumidor às dívidas? As despesas mensais
elevadas, o consumo exagerado e o baixo salário podem ser alguns motivos. Mas
será que existe um perfil do inadimplente?
De acordo com o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade
Mackenzie, Paulo Scarano, o consumo exagerado ou até compulsivo é característico
de um devedor.
"O comportamento tipíco de um devedor é a tendência a subestimar as necessidades
futuras ou acreditar que, no futuro, ele estará em uma posição melhor do que no
presente. Ele, muitas vezes, tende a esquecer que, se poupasse, no futuro
poderia ter um consumo maior do que aquele possível optando pelo consumo
financiado presente".
O professor também ressalta que existe outro grupo de devedores, composto por
pessoas que se endividaram em função de uma necessidade real e imediata de
consumo ou que, ausente qualquer mecanismo de proteção financeira, foram
surpreendidas por um evento aleatório ou imprevisível.
Os vilões
Para Scarano, entre os motivos que levam o consumidor a adquirir dívidas, estão
as campanhas publicitárias ou uma situação de emergência, como a quebra de um
eletrodoméstico ou o surgimento de doenças.
"Diversos fatores podem conduzir ao endividamento. Um deles é a "criação de
necessidades" através de sofisticados mecanismos de marketing. Por outro lado, o
indivíduo pode se encontrar em uma situação em que não possui recursos
suficientes, mas tem uma necessidade imediata a ser suprida, que o leva ao
financiamento. Por exemplo, o fogão deixou de funcionar e não há mais conserto.
É preciso comprar outro. Provavelmente, a solução será financiar um novo fogão,
caso não disponha de recursos suficientes para comprá-lo a vista".
Além disso, o professor revela que os imprevistos, como acidentes e doenças,
podem conduzir o indivíduo ao endividamento, em função de gastos deles
decorrentes.
Já para o coordenador do curso de Administração da Faculdade Rio Branco, Douglas
Renato Pinheiro, a falta de planejamento e de controle orçamentário é o
principal motivo para a aquisição de dívidas.
"Os brasileiros, em geral, sofrem muito com a falta de informação sobre a melhor
forma de pagamento e isso pode ocasionar o surgimento de novas dívidas".
Dívidas, e agora?
Para aquelas pessoas que possuem dívidas, não tem jeito, é preciso rever o
orçamento e reduzir os gastos.
"O consumidor deve reduzir seus gastos pessoais, mantendo apenas aqueles
absolutamente essenciais e, eventualmente, destinar o restante de sua renda para
reduzir a dívida. Mas, se o consumidor está em uma situação na qual sobram
dívidas e falta dinheiro, ele deverá priorizar o pagamento daqueles compromissos
cuja não efetivação implica suspensão de serviços absolutamente essenciais, como
[a conta de] água. E em seguida pagar as contas que implicam maior taxa de juro,
uma vez que essas dívidas podem ser ampliadas significativamente", aconselha
Scarano.
Pinheiro destaca que, se a pessoa tem dívidas com cheque especial ou cartão de
crédito, a melhor alternativa é tentar quitá-las o mais rápido possível.
"Caso o consumidor possua dívidas com o cheque especial ou cartão de crédito,
ele precisa renegociar essa dívida o mais rápido possível, nem que, para isso,
seja necessária a utilização de linhas de crédito atrativas, com taxas de juros
menores quando comparadas ao cheque especial e ao cartão de crédito".
Como evitar?
Na avaliação de Scarano, para evitar as dívidas, o consumidor deve avaliar, além
do seu desejo presente de consumo, suas necessidades futuras.
Outra medida importante é analisar qual o risco de perda ou de redução de
rendimentos, por exemplo, nos casos de perda do emprego ou da redução do ritmo
de seus negócios, durante o período que perdurar o financiamento.
Pinheiro finaliza ressaltando que a melhor forma de não adquirir novas dívidas é
fazer um orçamento doméstico. Colocar em uma planilha todas as contas mensais e
eliminar os gastos desnecessários são os primeiros passos.