Com a Bolsa ganhando popularidade entre os brasileiros desde 2003, as
análises técnicas e fundamentalistas deixaram o seleto mundo das equipes de
research das corretoras para adentrar na vida diária dos investidores, através,
principalmente, das facilidades da internet.
A invenção do Home Broker em 1999 e o sistema de negociação da BM&F em 2004,
batizado de WebTrading, já denunciavam o futuro das operações no mercado de
ações brasileiro, que aos poucos foi aposentando os operadores viva-voz até sua
extinção definitiva em junho deste ano.
Em consonância com a modernização das plataformas de negociação, os meios de
comunicação espalhados pela rede foram recrutando mais adeptos. Sites, blogs e
chats tornaram-se ferramenta importante de informação dos investidores, por onde
acompanham as principais notícias do mundo e garimpam oportunidades de
investimentos.
Aparentemente inocente, essa atividade de recomendação de compra e venda por
parte dos "analistas on-line" somente é autorizada caso sejam profissionais
credenciados pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais) e registrados na CVM (Comissão de Valores
Mobiliários). E pelo o histórico atual, a realidade é bem diferente do
recomendado pelos órgãos competentes.
Por que o certificado?
Em 2006, quando o Ibovespa subiu cerca de 40%, além da explosão de volume na
bolsa, cresceu exponencialmente a procura por cursos de análise técnica, com
inúmeros investidores em busca de um norte para investir.
A partir daí, conceitos como resistência, suporte, IFR e Fibonacci ficaram cada
vez mais comuns no linguajar dos brasileiros, disseminado, principalmente, pelos
blogs e sites difundidos pela internet.
O movimento chamou a atenção dos órgãos reguladores, tanto que em 26 de junho
deste ano a CVM lançou um ofício reiterando a obrigação de se ter um certificado
para elaborar e divulgar recomendações.
Em prol da qualidade técnica, acima das meras análises técnicas, Lucy Souza,
presidente da Apimec Nacional, em entrevista à InfoMoney, responde a questão
central do tópico, esclarece como será o certificado para os analistas técnicos
e clama pela integração entre análise técnica e fundamentalista. Confira:
InfoMoney - Por que a necessidade de certificar os analistas técnicos neste
momento? Aumento de popularidade?
Lucy Sousa - A necessidade da certificação do analista já estava prevista na
Instrução CVM 388, mas o entendimento foi reforçado este ano. A Apimec, a partir
de entendimentos com a ANATT (Associação dos Analistas Técnicos), desenvolveu
certificação específica CNPI-T, incluindo um exame específico, chamado CT, que
será oferecido a partir de setembro. O candidato à certificação CNPI-T deverá
ser aprovado no CT e no CB (Conteúdo Brasileiro), este último exame também
aplicado para a obtenção do CNPI original, voltado para analistas
fundamentalistas.
Qual deve ser o conteúdo da prova para os analistas técnicos? Será baseada na
certificação da IFTA?
Construímos a versão preliminar do conteúdo programático do CT a partir da
análise dos conteúdos das certificações CMT (Chartered Market Technician) e IFTA
(International Federation of Technical Analysts). Colocamos em audiência pública
e obtivemos uma versão final com conteúdo comum e de consenso.
Em sua opinião, haverá uma alta demanda pelo certificado?
Existem muitos profissionais fazendo análise técnica, mas não temos informações
confiáveis sobre seu número. Alguns já estão prestando o exame CB.
O certificado será obrigatório para aqueles que trabalham em corretoras e
também para os grafistas que divulgam suas análises em blogs, sites ou chats?
O certificado será obrigatório para todos aqueles que distribuírem analise
gráfica publicamente, não importa o canal. Daremos prioridade aos que trabalham
nas corretoras, pois estes pertencem diretamente ao sistema de distribuição,
estando sob supervisão da CVM.
Como fica o caso dos analistas que exercem a função há muito tempo? Deverão
fazer a prova?
Todos deverão fazer a prova.
As novas regras devem reduzir a demora no ingresso de profissionais
certificados no mercado?
Com exame específico (CT) não há desculpas para não ser certificado.
A Apimec planeja desenvolver cursos visando uma preparação melhor para a
certificação?
As regionais já estão oferecendo cursos de análise técnica. Também faremos
parcerias com escolas e consultorias especializadas no assunto.
Qual é a perspectiva do órgão em relação à análise técnica para os próximos
anos?
Com o aumento dos profissionais certificados, a qualidade das análises será
fortalecida e haverá maior complementaridade e diálogo entre as abordagens
fundamentalista e técnica.