Muitos de nós achamos que basta reciclar o lixo que produzimos, comprar
aparelhos elétricos que consomem menos energia ou carros que usam combustível
vegetal para dar uma contribuição para tornar o mundo mais sustentável.
Mas será que paramos para refletir se estamos produzindo muito mais lixo do
que deveríamos porque consumimos em excesso, ou se é necessário realmente ter
novos aparelhos elétricos ou um novo carro, ainda que sejam menos prejudiciais
ao ambiente? Essa é uma das principais questões que o jornalista John Naish
apresenta em seu livro Chega de Desperdício!
Para o autor , a sustentabilidade vai além da preservação dos recursos
naturais e é uma atitude pessoal que deve vir acompanhada do que ele chama de
suficiência ou suficientismo. Isso significa perceber, diz ele, que ter mais de
qualquer coisa – bens de consumo, alimentos, informação, trabalho ou até mesmo
felicidade – torna a vida pior e não melhor.
“Criamos uma cultura que carrega uma mensagem dominante - ainda não temos
tudo de que precisamos para nos satisfazer. Dizem que a solução é ter, ver, ser,
fazer ainda mais. Mas isso está gerando consequências estranhas: os níveis de
estresse, depressão e estafa estão crescendo rapidamente, embora tenhamos uma
abundância sem precedentes. Nosso planeta também não está nada feliz com isso”,
observa.
Rompendo com hábitos ancestrais
Praticar a suficiência, no entanto, não é tarefa nada fácil, já que é
preciso lutar contra comportamentos instintivos que herdamos de nossos
antepassados da idade da pedra e que no passado garantiu a nossa sobrevivência:
“nosso mecanismo evolutivo levou-nos a descer das árvores e a nos espalhar pelo
mundo, guiou-nos ao longo da era do gelo, de períodos de fome, de peste e de
desastres, até chegarmos a esta época de abundância tecnológica. E, mesmo assim,
insta-nos constantemente : “Eu quero mais...Agora”, comenta John Naish.
Mas, se em um passado distante, esse comportamento era essencial, hoje ele
pode se tornar uma doença. Como exemplo, o autor compara um antigo hábito de
estocar provisões para aumentar as chances de sobrevivência com o chamado
distúrbio de consumo compulsivo, que faz com que as pessoas comprem coisas e
armazenem tudo até que suas casas estejam lotadas do chão ao teto.
Um outro exemplo é o culto às celebridades, imitando inclusive o que elas
consomem, já que, diz o autor, a capacidade de imitar garantiu grande parte do
sucesso do homem, pois permitiu que ele se adaptasse mais rapidamente às
mudanças no ambiente do que outras espécies.
Mudanças de atitudes
Apesar de termos um cérebro “programado” para a insatisfação permanente,
lembra Naish, é possível rever velhos hábitos, para combater o consumismo,
adotando atitudes simples:
Não compre antes de se fazer perguntas do tipo: eu verdadeiramente
preciso disso ou somente o quero? Meu desejo por esta coisa foi implantado por
técnicas de marketing? Quantas horas a mais vou ter de trabalhar para pagar por
isto? Não há algo que eu já tenha que poderia substituir isto? Caso eu esteja
substituindo alguma coisa que já tenho, qual é o problema do item velho? Caso eu
realmente precise dessa coisa, não há alguma maneira de consegui-la em um site
de troca ou pegar emprestada com um parente ou amigo?
Faça você mesmo: você pode recuperar sua criatividade dedicando tempo
para aperfeiçoar qualquer artesanato que deseja.
Seja mais materialista: “comprar coisas que não duram é tóxico para
nossa ecologia pessoal. Isso faz com que trabalhemos, nos preocupemos e
queiramos mais. Nós realmente precisamos ser mais materialistas – no sentido de
cuidar de nossas coisas materiais, em vez de apenas usá-las e descartá-las”,
lembra o autor.
Dispense o crediário e não toque nesse plástico: no primeiro caso, diz
John Naish, hoje, o crédito fácil serve principalmente para comprar coisas que
apenas queremos e queremos já; no segundo, quando você paga com cartão de
crédito, não sente a dor do gasto e, além disso, você atiça um desejo físico.
Aspecto barato: “Gastamos mais dinheiro para manter nossa imagem
diante dos outros”, diz o autor, citando a conclusão de um estudo de uma
universidade americana. Por isso, recomenda, uma solução pode ser ir às compras
com parentes, já que compramos menos coisas quando estamos sob o olhar vigilante
de membros da família.
Evite ofertas especiais: quando o consumidor vê produtos a preços mais
baixos, seu cérebro racional tende a ficar sentimental e grato pela generosidade
da loja, e isso faz com que compre mais do que precisa.
Cuidado com a web: segundo o autor, é preciso tomar cuidado com sites
que deixam o consumidor experimentar produtos de forma interativa, já que o
“test drive” virtual tende a fabricar falsas impressões favoráveis ao produto,
induzindo à compra. É o que em psicologia se chama “criar falsos positivos”, diz
Naish.
Por fim, o autor lembra que, ao praticar o suficientismo, a pessoa não só
torna as finanças mais sustentáveis, como, por consequência, ganha mais
qualidade de vida. “Se seu orçamento girar em torno do suficiente, provavelmente
será mais fácil trabalhar para ganhar apenas o suficiente, para liberar a vida
para as coisas mais gratificantes, além da esfera restrita de comprar e gastar”,
ensina.