Quando a conversa gira em torno de motivação, uma das queixas mais comuns e
constantes que ouvimos de profissionais é a da falta de liberdade nas suas
organizações. Essa falta de liberdade vai desde o excesso de formalismo no
ambiente de trabalho, impedindo quaisquer atitudes e comportamentos mais
descontraídos e afetuosos, até a existência da "lei da mordaça" que impede
manifestações contrárias a normas, diretrizes e má conduta dos gestores - mesmo
que justas e procedentes.
Na maior parte das vezes, a definição dos padrões de conduta em uma área,
depende muito mais do estilo de condução do seu líder do que de uma política
formal da empresa - embora muitas delas possuam e pratiquem tais políticas. A
questão é saber se as regras estão na medida certa. Um clima muito formal e
conservador em uma empresa costuma criar barreiras para que os colegas interajam
de forma mais alegre e descontraída, cerceando a liberdade do bom humor e da
espontaneidade. No geral, essa "lei do silêncio e da sisudez" compromete a
produtividade, que costuma fluir melhor quando há uma saudável e amistosa
integração nas equipes.
Por outro lado, um modelo de liderança muito tolerante e benevolente, pode
levar uma equipe ainda não devidamente amadurecida e comprometida a praticar
excessos comportamentais que em nada contribuem para os resultados da área e os
da própria empresa. Se o clima descrito no parágrafo anterior cria condições
para a agressividade e o assédio moral, este aqui facilita a ocorrência de
anarquia e assédio sexual, por exemplo. Resumo da ópera: todos os excessos são
condenáveis.
É de responsabilidade do processo seletivo da empresa identificar e aprovar
candidatos que se mostrem receptivos e sensíveis aos valores, princípios e
condutas da organização. Há entrevistas, dinâmicas de grupo e testes
psicológicos que possibilitam a identificação do profissional consciente e
responsável, daquele que deve ter a clara consciência de que o bom humor e a
alegria são instrumentos valiosíssimos para a integração de uma equipe - desde
que praticados na medida correta e condizente com os valores da corporação e com
as regras da boa convivência social. Brincadeiras de mau gosto, que invadam
privacidades, firam a autoestima dos colegas, criem constrangimentos ou que
atentem contra a moral e os bons costumes não são bem-vindas no ambiente de
trabalho.
Mesmo assim, não há motivos para que a liderança faça a opção pelo outro
extremo da situação. A pressão existente no trabalho - seja por prazo, qualidade
ou quantidade - mesmo sendo uma pressão natural para a obtenção dos resultados
que a empresa busca, precisa de periódicas válvulas de escape para evitar o
estresse, e isso pode ser obtido através de atitudes bem humoradas e
espirituosas por parte da equipe e do próprio líder. Este, aliás, deveria atuar,
neste aspecto, como uma espécie de maestro, dando o tom, o ritmo e a
profundidade das ações. Porque se o próprio gestor comanda a falta de gosto e
decência, então nada melhor se pode esperar do conjunto de liderados.
Usando da liberdade existente na área, o saudável bom humor deve fluir de
maneira natural, adequada e oportuna. Há momentos certos para que seja aberta a
válvula de escape que diminuirá a pressão do grupo. Identificar as
características comportamentais e encontrar o equilíbrio é uma das competências
esperadas da liderança.
Liberdade responsável não compromete resultados, não agride, não
desqualifica, não atenta contra a ética, a moral nem a autoestima das pessoas.
Se isso acontecer em um ambiente, estaremos diante de permissividade. O membro
do grupo que não souber a diferença entre uma coisa e outra, ou foi mal
selecionado ou mal treinado. Deverá ser alvo de um criterioso programa de
orientação e desenvolvimento que lhe esclareça a cultura da empresa e saiba em
detalhes, quais são seus valores, seus princípios e suas normas. Mas se o
"infrator" for o líder, então estaremos falando de uma promoção se não
equivocada, pelo menos precoce.