O engenheiro de produção César Augusto Mastrocinque, 37, era gerente de
marketing de uma indústria de eletrodomésticos que vinha tendo resultados ruins.
Foi trocado por outro que aceitou trabalhar por um salário menor. "Tenho certeza
de que estava contribuindo com a companhia. Mas a minha posição não existe
mais."
Não raros, casos como o de Mastrocinque mostram que obter uma boa posição nem
sempre é garantia de ser "intocável" no emprego. Na hora do aperto, empresas
olham o valor da folha de pagamentos para reduzir gastos e, muitas vezes, trocam
um profissional com bom salário por substitutos ganhando menos.
Longe de serem demitidos por pouca produtividade ou inadequação ao posto, os
preteridos acabam perdendo o cargo devido a reestruturações das empresas, como
corte de gastos ou processos de fusão e de aquisição.
"São as maiores causas das demissões hoje", confirma Gilberto Guimarães, 50,
diretor da BPI no Brasil. Essa foi a conclusão a que chegaram as filiais da
companhia em outros países presentes em um fórum realizado em 2001.
Tendência generalizada
Para Matilde Berna, 44, gerente de "career transition" da consultoria Right
Saad-Fellipelli, esse tipo de desligamento tende a crescer mais do que as
demissões por problemas de performance.
Alguns setores recentemente viveram essa situação -como os de telecomunicações,
informática e serviços financeiros, além das indústrias farmacêutica e
automobilística-, mas os consultores dizem que ela já se generalizou para todo
tipo de empresa.
E uma opinião é unânime: nesses casos, só fica quem se mostra indispensável para
o presente e para o futuro da companhia.
"O foco das empresas está no quanto seus profissionais podem agregar valor ao
negócio. Critérios como idade e salário são secundários na maioria das vezes",
completa João Mendes de Almeida, 59, consultor-sênior da DBM.