Carreira / Emprego - A hora e a vez do talento
É difícil definir com exatidão o que é talento. Conforme definido por Simon
Franco - em seu livro “Profissionauta” (Franco, 2001: 37), talento é a
capacidade quase “natural” de realizar algo muito bem. Não podemos desprezar que
há quem acredite que o talento é algo inato. Mas na maior parte dos casos, o
talento é fruto de muito trabalho, dedicação e aperfeiçoamento. Entretanto,
existe algo que aparece na maior parte das pessoas ditas “talentosas”. Elas
gostam do que fazem, ou seja, possuem uma dedicação movida pelo prazer de fazer
aquilo que gostam.
Hoje, encontramos no mercado pessoas que são movidas somente pelos modismos,
opinião de familiares, interesses financeiros e menos por sua paixão. São
pessoas menos entusiasmadas com o que fazem e conseqüentemente nunca conseguem
grandes resultados na vida.
Outra característica do talento é uma certa raridade. O talento é a diferença. O
que eu faço e gosto de fazer tão bem que me torna único? Qual é a personalidade
do meu talento? É respondendo questões como estas que podemos descobrir a
“diferença talentosa”. Mas o talento não cai do céu, ele e fruto de algo
construído a partir do esforço de cada um, desde que dirigido para aquilo que
realmente nos interessa e nos dá prazer.
Segundo o dicionário Aurélio, talento significa “peso e moeda da antigüidade
grega e romana, aptidão natural ou habilidade adquirida, inteligência
excepcional” ou seja, ao mesmo tempo que talento significa uma habilidade inata,
também significa uma moeda de valor e atualmente é esse valor que vai fazer a
grande diferença para as empresas, pois todas as organizações estão querendo
contratar os tais “talentos”.
Mas eles são poucos, porque poucos são realmente diferentes. Como eles são
poucos e diferentes, voltamos ao ponto citado anteriormente: a empresa perde o
controle sobre o profissional. Precisa conquistá-lo. Para o profissional
talentoso, o horizonte é o mercado, não a empresa.
A hora e a vez do talento
Todas as ferramentas e processos usados, durante muito tempo, para conquistar e
reter clientes agora estão sendo usados para atrair e reter os profissionais.
Não podemos negar que houve mudanças profundas no mundo do trabalho e talvez a
mais forte tenha sido o sentimento de desligamento do profissional com a
empresa. Agora, mudar de emprego várias vezes não é mais um problema, o
profissional pode ser valorizado pelo fato de estar buscando uma diversificação
de experiências.
O funcionário de hoje é cada vez mais investigador, ele investe seu talento e
espera um retorno adequado. A empresa não é um fim em si mesma, é a
infra-estrutura, o meio pelo qual os profissionais realizam o trabalho e buscam
suas realizações. Essa nova concepção do trabalho também ajuda a compreender
porque a permanência durante longos anos em um mesmo emprego, deixou de ser
importante. A lealdade é ao trabalho, aos objetivos propostos, aos resultados –
não mais à empresa.
Este novo paradigma é muito satisfatório ao profissional, pois do mesmo modo em
que as empresas tiveram de se abrir ao consumidor, ouvi-lo, respeitar sua
opinião e colocá-lo no lugar mais importante, agora estão tendo que fazer o
mesmo com os profissionais.
Atualmente a escolha não parte somente do profissional para com a empresa, mas a
escolha é mutua. Tão fundamental como identificar talentos, será ser
identificada pelos talentos e desejada como local para se trabalhar.
Planejando sua Carreira
Quando falamos de planejamento de carreira, não se quer dizer que é preciso
estabelecer um roteiro detalhado para o desenvolvimento de suas atividades
profissionais ao longo do tempo. A rapidez das mudanças, o surgimento de
oportunidades e as ameaças inesperadas não se subordinam a qualquer plano que
possamos fazer. Entretanto, é fundamental estabelecer para si mesmo um conjunto
de objetivos e metas a ser alcançado a curto e médio prazos, mantendo-se uma
estratégia flexível.
O primeiro passo para o planejamento é encontrar nosso talento, a “razão de ser”
de um profissional. Temos que primeiro identificar o que queremos e do que somos
capazes de fazer, questione-se: É isso mesmo que me faz sentir bem? É esta
atividade que me motiva e provoca minha criatividade? É ou era exatamente isso
que eu queria para minha vida? Temos que refletir muito sobre isso, pois será a
partir dessa tentativa de conhecer seu próprio desejo que você poderá encontrar
o ponto ao qual se dedicar e em que direção você deve desenvolver seu talento.
Podemos notar que o ponto de partida de todo processo de carreira é o
auto-conhecimento e para que este processo aconteça de maneira mais profunda, é
que vários especialistas em carreira estão recomendando fortemente a terapia. É
importante conhecer seus pontos fortes e suas necessidades de desenvolvimento e
muito mais quais são os seus medos.
A próxima etapa do planejamento é a análise da situação. Trata-se de entender o
mundo no qual você está inserido, para assim perceber quais são suas vantagens e
deficiências. Entendendo primeiramente meus ativos (conhecimentos, competências,
resultados alcançados, etc.) e depois o mercado alvo que quero atingir (empresas
que precisam dos meus ativos), teremos a possibilidade de entendermos nossas
deficiências e pontos fortes para a partir daí estabelecermos um plano de
desenvolvimento.
Além desta análise e do planejamento, há algumas dicas que são dadas pelos
principais profissionais desta área de carreira, tais como:
- Invista em auto-conhecimento, identifique o que você gosta de fazer e no
que você realmente é bom, identifique suas competências.
- Trate sua carreira como um negócio. Tenha um plano de carreira a longo
prazo, que seja revisado todo ano.
- Tenha identificado um mentor que lhe ajude em suas decisões de carreira
e desenvolvimento.
- Entenda o seu mercado de trabalho - como funciona e todos os players
deste mercado.
- Leia e conheça muitas informações sobre seu mercado alvo
(empresas-alvo).
- Tenha certeza que sua educação formal está de acordo com seu plano de
carreira.
- Tenha um plano (dinheiro e carreira) para lidar com as turbulências do
mercado de trabalho.
- Aprenda como gerenciar seu networking muito bem. Segundo pesquisas, em
2001 mais de 80% das vagas de executivos foram preenchidas por indicações de
outras pessoas. Há livros muito interessantes que dão dicas sobre este
processo.
- Estabeleça um networking (contatos) em todos os níveis.
- Esteja sempre encontrando caminhos para desenvolver novas competências –
cursos, palestras, atividades sociais, esportes, leituras, equipes de
trabalho multifuncional, etc.
- Tenha habilidades de relacionamento e de comunicação muito
desenvolvidas.
- Seja flexível. Esteja aberto para avaliar mudanças de carreira,
incluindo tornar-se um consultor ou ter seu próprio negócio. Por que não?
- Por último, não tenha medo de uma transição de carreira. Sempre esteja
preparado para isso.
As perguntas que sempre devem ser feitas: Há oportunidades? Possuo condições
vantajosas e diferenciadas? O que é deficitário em mim que deve ser melhorado,
para que eu possa alcançar crescimento profissional nessa organização? Ao mesmo
tempo que você pensa no seu planejamento e faz sua avaliação pessoal, você acaba
avaliando a empresa em que trabalha.
A vida além do trabalho
Há um aspecto importante neste tipo de planejamento estratégico que propomos
anteriormente: este planejamento deve incluir não só o trabalho, mas também o
não-trabalho. Ou seja, os objetivos e metas devem incluir, necessariamente, os
aspectos mais importantes da vida, tais como: família, hobbies, viagens, arte,
cultura, lazer, etc. Aliás, outras duas grandes dicas que não citei
anteriormente, mas que deixei para colocá-las agora:
- Tenha uma rica e interessante vida pessoal. Considere sua vida mais
importante que seu trabalho/emprego. Tenha outros interesses além da minha
carreira. Trabalhe para uma causa/tenha um significado para a vida.
- Cuide de sua saúde. Pratique esportes, cuide de sua alimentação, o
resultado será mais disposição para trabalhar e viver.
Tudo isso mostra que além das características profissionais – formação,
experiência, comunicabilidade, salário, etc. – a relação dos elementos
fundamentais da vida devem ser preservados e valorizados. A primeira razão para
isso é humanista, ou seja, se não for para viver bem, tanto do ponto de vista
pessoal quanto social, o trabalho perde o sentido. A outra razão é que as
pessoas viciadas em trabalho têm progressivamente menos chances de conseguir
boas colocações.
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