Carreira / Emprego - Criatividade nas empresas – verdade ou ilusão?
Um dos assuntos mais falados nas empresas, hoje, vem a ser a necessidade de
funcionários criativos. Na teoria esse assunto é maravilhoso, mas na prática não
é bem isso o que presenciamos.
Vejo treinamentos e palestras sobre o assunto diariamente e, quando estou dentro
das empresas, o que observo quase sempre são efeitos negativos no dia seguinte a
esses treinamentos ''mágicos'', principalmente os de auto-ajuda.
''Criatividade'' não é o caminho milagroso que conduz ao crescimento empresarial
como tantos ''gurus'' afirmam hoje em dia. O que a experiência e as evidências
vêm nos mostrando nos depoimentos e comentários que colhemos com gerentes e
pessoas que trabalham na linha de frente das empresas, é uma grande necessidade
de treinamentos mais racionais, para que se tenham ferramentas para uso imediato
e que envolvam não só fatores emocionais, mas também fatores como cultura geral,
habilidades de comunicação e treinamento intenso nas áreas de atuação.
A síndrome do excesso de informação é hoje um dos maiores dilemas dos
profissionais. Priorizá-las e filtrá-las é um imenso desafio. E guardar tudo na
memória é ainda mais complicado. Veja no exemplo abaixo quanta informação o seu
cérebro consegue reter, e por que a Andragogia é o melhor método de aprendizado
do adulto.
Palestras: absorção de 5% de aprendizado conceitual, isso levando em
conta que o instrutor é um excelente orador e fornece material de apoio;
Leitura: a leitura traz uma absorção média de 10% do conteúdo conceitual
e, neste caso, devemos considerar que a pessoa está lendo o que gosta, e não o
que é obrigada a ler. Por isso, a disciplina será citada durante todo este
artigo, porque às vezes devemos fazer o que é necessário para crescermos, e não
apenas o que nos convém;
Audiovisual: absorção de 20% devido ao uso de imagens ligadas aos
conceitos; esta combinação muitas vezes é o que diferencia uma equipe de outra,
pois já dizia o provérbio: ''Uma imagem vale mais que mil palavras'';
Demonstrações: a demonstração de como se faz traz a absorção de 30% pelo
exemplo e, neste particular, deveremos deixar o funcionário fazer o que viu para
que torne o seu aprendizado mais eficaz;
Grupos de discussão: absorção de 50% devido à riqueza de detalhes e
possibilidade de troca imediata de conceitos e casos de sucesso compartilhados;
Praticar fazendo: a absorção e o aprendizado chegam a 75%;
Ensinar os outros em treinamento vivencial e praticar o que se aprendeu de
imediato com ferramentas e trabalho diário: a absorção chega a 95%, porque
estamos levando em conta que sempre teremos coisas novas para aprender.
Algumas verdades
A grande questão em relação a treinamentos que evidenciam apenas a auto-ajuda
focada no trabalho emocional traz sérias seqüelas num curto prazo de tempo, com
conseqüências como:
- Após passar a euforia das risadas, o funcionário cai na real e a sua
auto-estima fica abalada, e seu comportamento fica pior do que era;
- Os funcionários confundem ter idéias e flexibilidade de trabalho com
falta de hierarquia e excesso de libertinagem;
- Acreditam que a criatividade abstrata resolve tudo, não enxergando que a
inovação depende de ações práticas, com persistência, disciplina e melhorias
contínuas nas suas atitudes e hábitos diários;
- São passados conceitos ''milagrosos'' em palestras de auto-ajuda e
criatividade, em que a maioria dos funcionários não compreendem os problemas
do dia-a-dia dos executivos operacionais e, ao ver essas palestras, passam a
criticá-los mais, dificultando ainda mais o crescimento da empresa.
O grande problema do excesso de ''criatividade'' pregado é o ato de
subestimar a grande complexibilidade das organizações empresariais e sua prática
com o ''abismo'', onde a maioria dos ''gurus'' nunca estiveram - na frente de
batalha -, principalmente nas áreas que envolvem os departamentos operacionais e
de vendas, que ao meu ver são as que mais sofrem com esse tipo de conceito
errado.
A necessidade da disciplina e trabalho de educação continuada
O fato de uma pessoa consistentemente ser muito criativa quase sempre retrata
uma pessoa irresponsável em termos hierárquicos. Esses criativos diários
raramente representam cargos executivos, em que raramente lideram pessoas. A
questão é transformar grupos em equipes, fazendo assim que o trabalho diário se
torne mais prazeroso, gerando menos estresse e mais resultados positivos para
todos.
A necessidade da disciplina se faz necessário como fator de decisão em que toda
organização pode adotar ações como:
- Fazer da comunicação a principal aliada da empresa, evitando que a
''rádio-peão'' seja mais eficaz que os outros veículos de comunicação
internos e externos e que os clientes fiquem sabendo de fatores que só
interessam à própria empresa;
- Fazer pequenos melhoramentos no trabalho do dia-a-dia dos funcionários,
seja na indústria ou nas empresas prestadoras de serviços;
- Aumentar gradativamente a cultura geral da empresa, tanto nos fatores
acadêmicos, no currículo social e de atitudes; adotando assim treinamentos
contínuos, em que o funcionário fique com a auto-estima mais elevada, sim,
mas que eleve também sua educação, cortesia, melhoria das relações humanas,
organização, disciplina e, principalmente, sua capacitação profissional.
Assim sendo, tenho plena certeza de que a sua ''sorte'' aumentará, lembrando
que a Sorte acontece quando a Preparação se encontra com a Oportunidade.
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