Características como talento, iniciativa e motivação podem não ser
valorizadas pelos profissionais. No mercado de trabalho, no entanto, obter essas
habilidades pode até significar um aumento de salário, segundo mostrou tese de
doutorado defendida pelo economista Ricardo Freguglia na USP (Universidade de
São Paulo).
Mais que escolaridade, idade ou gênero, essas características pessoais
influenciam na diferença de salário dentro de uma mesma região, setor econômico
ou ocupação. Para Freguglia, as explicações até então existentes não eram
suficientes para identificar o fenômeno das desigualdades regionais de salário.
Mensurar competências
A partir de então, o economista decidiu incluir características não
mensuráveis e calcular o impacto desses fatores nas diferenças salariais em cada
estado, setores econômicos e ocupações. Os dados mostraram que iniciativa,
talento e motivação explicam 70% das diferenças salariais em âmbito regional,
83% no contexto setorial, e 88%, no ocupacional.
"Os trabalhadores, quando migram de estado, recebem salários melhores", disse o
economista. Ele ressaltou que a afirmação deixa de ser verdadeira quando as
habilidades são filtradas. Em São Paulo e no Distrito Federal, estados com
expressivos ganhos salariais decorrentes das habilidades individuais, quando
incluem-se as capacidades pessoais, os demais componentes explicativos não se
sustentam.
Em São Paulo, a valorização das capacidades é muito alta. "Isso pode estar
relacionado com o elevado custo de vida do estado paulista, que gera perdas para
os migrantes que vêm de outros estados".