Hoje em dia, um dos assuntos que está mais em pauta no mundo organizacional é
a motivação. Grupos de recursos humanos discutem a questão com o objetivo de
atender à demanda de seus clientes, que estão a cada dia que passa mais
preocupados com a questão da motivação de seus funcionários. Programas
motivacionais são cada vez mais contratados pelas empresas, na esperança de
motivar os funcionários.
Pode até parecer contraditório as empresas estarem tão preocupadas com a
motivação de seus funcionários numa época onde o desemprego é crescente, e quem
tem um trabalho procura, às vezes, até de forma inadequada, manter o seu “santo”
emprego com unhas e dentes. Sem dúvida, estatisticamente falando, o desemprego é
muito mais alto do que a falta de motivação de alguns funcionários empregados.
Acredito até que as empresas deveriam utilizar o dinheiro na criação de novas
vagas em vez de gastarem em tais programas, atendendo desta forma a um número
maior de pessoas que querem e precisam trabalhar. Porém, este é um critério
puramente estatístico.
Minha questão neste artigo é buscar refletir sobre o que anda desmotivando
aqueles que estão empregados. E talvez a forma mais correta de começar esta
reflexão seja conceituando o que é MOTIVAÇÃO. Motivação é ter um motivo para a
ação, um desejo ou uma necessidade para agir. Vamos limitar a nossa reflexão
apenas ao âmbito profissional, portanto cada uma das pessoas tem um motivo
diferente para trabalhar. Umas trabalham apenas para suprir as suas necessidades
básicas: comer, ter onde morar, etc. Outros buscam seus autodesenvolvimento,
querendo novos desafios e buscando aprender coisas novas a cada dia. Existem
pessoas que falam que trabalham apenas pelo dinheiro, porém isso não é verdade.
O dinheiro é apenas o meio facilitador, numa sociedade capitalista, de obtermos
aquilo que queremos. O dinheiro compra aquilo que queremos.
Poderemos ter diferentes respostas quando o tema é motivação. Vamos a alguns
exemplos:
- Eu trabalho para comprar uma casa
- Eu trabalho para conseguir entrar na faculdade
- Eu trabalho para ter segurança: plano de saúde, carteira assinada, etc.
Portanto, o dinheiro só é justificável em função de uma necessidade bastante
específica, pessoal e intransferível. Se vivêssemos numa sociedade onde o sal
fosse o meio de atender às nossas necessidades, muitos responderiam da mesma
forma. O dinheiro de uma determinada maneira é aquilo que me permite suprir as
minhas necessidades. Se o dinheiro não tivesse este significado, nunca alguém
responderia que quer apenas o dinheiro em uma pesquisa sobre motivação!
Como vimos, as respostas também terão uma enorme amplitude, pois aquilo que me
motiva não motiva a outra pessoa. Cada pessoa em seu universo particular tem um
motivo muito diferente para trabalhar.
O que tenho verificado que as empresas estão fazendo no momento é dar o mesmo
remédio para todos os funcionários, através de uma parafernália de ações ditas
motivacionais: palestras, espetáculos de mágicos, circos, etc.
Eu não tenho nada contra estes eventos animadores, afinal todos nós precisamos
de diversão. Porém, cabe ressaltar que ações como estas nada têm a ver com
motivação!
Se o motivo para trabalhar é diferente, como pasteurizar as ações, tratando
todos do mesmo jeito?
O primeiro passo para motivar de fato é ouvir e, em muitos casos, até na maioria
deles, usar meios para identificar o que motiva cada um dos funcionários.
Pessoas não são iguais. O que motiva um, não motiva o outro. Por que então
tratá-las de forma tão uniformizada?
O não querer ouvir, ou enxergar o problema desmotivacional e buscar supri-lo,
utilizando o método inadequado, poderá a médio e longo prazo fazer com que mais
gente se sinta desmotivada. O motivo: somos diferentes, e qualquer ser humano
que tenha a mínima conexão consigo próprio sabe que aquilo que satisfaz uns, não
satisfaz a outros.
Talvez estes programas motivacionais estejam sendo usados para tapar o sol com a
peneira. Acredito até que muitos que compram estas soluções mágicas e uniformes
nem sequer saibam a diferença entre motivação (motivo para a ação) e ânimo (o
que vem da alma).
O ânimo é apenas um dos componentes da motivação. É impossível visualizar alguém
com motivação, que vai atrás dos seus desejos e necessidades, arrastando o corpo
pelo corredor, ou falando de seu trabalho sem o mínimo de emoção. O ânimo é um
componente indisfarçável, pois quem está sem ele tem fome de alma. Falta-lhe
sentido para viver, para continuar em frente, em todas as esferas da vida, e não
apenas no trabalho. As pessoas deprimidas normalmente são desanimadas, não vêem
sentido em nada, seja um jantar com os amigos, um passeio no parque ou qualquer
outra atividade prazerosa. O desanimado foge do prazer, como o diabo foge da
cruz.
O que muitas empresas têm feito, no meu modo de ver, é buscar dar injeções de
ânimo, e não motivação.
A motivação é uma função indelegável de alguém que, nas empresas, tem o cargo de
chefia. Um chefe motiva um funcionário? Não, mas é responsável por sua
desmotivação. Um chefe que trata todos os funcionários de forma igual é
altamente desmotivador, pois não percebe a singularidade das pessoas, e
provavelmente nem a sua própria. Um funcionário automotivado e com alto
potencial, por exemplo, não consegue trabalhar com um tirano lhe dando ordens
descabidas o dia todo. O que este funcionário faz? Fica reclamando, dizendo que
seu chefe é isso ou aquilo? Não, ele simplesmente vai em busca de novas
colocações no mercado. Alguém automotivado de fato sabe em primeiro lugar o que
lhe faz bem e o que lhe faz mal, pois tem o ingrediente básico da motivação,
está conectado consigo mesmo, sabe o que precisa e vai atrás disso.
O que se verifica na sociedade atual é um fenômeno muito perigoso: o
distanciamento de si próprio. Muitas pessoas em nosso mundo urbano criam
pseudomotivações influenciadas pela mídia, livros de auto-ajuda e até de algumas
palestras ditas motivacionais.
O que ocorre na dança, em que alguns precisam de coreografia para poder dançar,
também acontece no mundo da motivação. Alguns perderam a confiança em si
próprios e necessitam que alguém lhes diga o que os motiva.
Lembrem que a motivação verdadeira vem de uma real necessidade. Para uns será
muito importante fazer um MBA, para outros será fundamental aprender a pescar.
Nem uma coisa e nem outra estão erradas: tudo depende daquilo que queremos lá no
nosso íntimo.
Respeitar as diferenças quanto aos motivos de ação de cada pessoa é o primeiro
passo para uma empresa saudável, que prime por algo tão em moda atualmente
chamado qualidade de vida. Querer que todos se comportem e ajam de uma única
forma, como robôs, terá a longo prazo um preço alto chamado doença.
Podemos enganar a nossa mente, mas o nosso corpo um dia irá reclamar este
distanciamento entre aquilo que de fato precisamos e aquilo nos impomos
precisar.
Talvez um trecho de uma música do Titãs ajude o leitor a pensar/refletir sobre
sua própria motivação:
- Você tem fome de quê?
Veja que a letra diz você, e não nós!
Para exercitar, escreva num papel o que motiva a sua ação. Por que motivo você
trabalha? O que pode conseguir trabalhando? O que você faz hoje na empresa onde
trabalha preenche suas necessidades?
Eu não gosto de dar manuais prontos de como fazer isso ou aquilo. Sei que muitos
que começaram a ler este texto tinham uma expectativa que eu fornecesse alguma
receita motivacional. Para estes eu deixo uma mensagem reflexiva:
O que você anda sentindo ultimamente? Que necessidades você tem? Você respeita
as suas necessidades ou se deixa manipular pela vontade de outra pessoa? Quantas
vidas você acha que tem?
Quem manda na sua ação?